O papel do profissional de saúde

Como dar uma má notícia

Atualizado: 
25/11/2019 - 15:05
A forma como se transmite uma má notícia a um paciente ou aos seus familiares pode condicionar a sua aceitação. Estando sempre associada a um forte impacto psicológico, espera-se que o profissional de saúde adopte uma postura próxima, positiva e tranquilizadora por fim a minimizar a dor.

De acordo com o manual “Comunicação Clínica e Relação de Ajuda” da editora Lidel, dirigido a profissionais de saúde, uma má notícia “consiste em qualquer informação que envolva uma mudança drástica no indivíduo que a recebe, tendo um impacto negativo na sua perspectiva de futuro, afetanto, assim, os domínios cognitivo, emocional, espiritual e comportamental, com eventuais repercussões na dinâmica pessoal, familiar e social”.

A morte de um familiar, a confirmação de uma doença grave ou de um prognóstico reservado são algumas das notícias que nenhum médico gosta de dar.

No entanto, a comunicação destas informações, quer ao doente quer à sua família, tem uma grande importância. Não só fortalece a relação entre o profissional de saúde e o paciente/família, como reduz a incerteza da situação vivida, minimiza sentimentos de isolamento, solidão e medo, e oferece uma orientação para o futuro.

Tratando-se de uma tarefa extremamente difícil também para o profissional de saúde, sobretudo por envolver uma forte carga emocional, foram desenvolvidos alguns protocolos com o objetivo de facilitar a comunicação da notícia, minimizando o seu impacto.

O protocolo SPIKES e TRACES são descritos, neste manual de aprendizagem, como sendo os mais utilizados neste âmbito, e preconizam as seguintes etapas:

Protocolo SPIKES

S (setting) – planear a entrevista. Preparação (preparar-se e preparar o ambiente): nesta etapa o profissional de saúde deve reunir toda a informação disponível sobre o paciente e sua situação. Deve ainda avaliar o nível de conhecimento que possui acerca do seu estado, doença ou contexto e expectativas, bem como proprocionar um ambiente acolhedor,  reservado e sem ruídos.

P (perception) – avaliar a perceção do indivíduo: na maior parte dos casos, o doente já detém algumas informações sobre a sua situação, sendo por isso importante que o profissional de saúde avalie a informação lhe foi veículada e a sua veracidade, bem como o seu nível de compreensão sobre o assunto, as suas expectativas ou o seu estado emocional.

I (invitation) – convidar o interlocotor a falar e identificar o que pretende saber: na sua maioria, os pacientes querem receber a informação real sobre a sua situação (contexto, doença, prognóstico, consequências, etc). No entanto, “cada um pretende um nível de especifidade diferente de informação”, pelo que a esta deve ser veículada em função das suas necessidades. Por exemplo, o doente pode não querer saber as implicações futuras da sua doença.

K (knowledge) – transmitir a informação gradualmente: a informação deve ser clara e a linguagem simples para que o interlocutor a compreenda. “A informação deve também ser organizada em função da sua gravidade e da ansiedade que pode provocar, sendo fundamental transmiti-la de forma gradual, fazendo pausas com frequência, prestando atenção à reacção do interlocutor”.

E (explore Emotions) – permitir a expressão de emoções e apoiar: deve permite que o indivíduo expresse as suas emoções, fornecendo o suporte possível e adequado, com o objetivo de o tranquilizar.

S (Strategy and Sumary) – apresentar uma estratégia de intervenção e planear o futuro: uma má notícia não tem apenas impacto no presente sendo, por isso, fundamental elaborar um plano de intervenção que ajude o doente a ter o acompanhamento necessário no futuro. Deve promover uma esperança realista sobre o seu estado de saúde, por exemplo, e desenvolver um plano de ação, principalmente a curto prazo, que o ajude a superar esta fase.

Protocolo TRACES

T (Terrain) – escolher o local adequeado, sentar-se com o indivíduo, estar disponível garantindo que não será interrompido.

R (Représentations du Patient) – avaliar o conhecimento do indivíduo, explorar as suas crenças e refletir sobre os objetivos da interação.

A (Avertir) – Informar o interlocutors de que lhe vai ser comunicada uma má notícia.

C (Connaissances) – informar sobre o diagnóstico, opções de tratamnento e prognóstico. Responder às questões colocadas e verificar sempre se o interlocutor compreendeu a informação. Deve utlitiza-se uma linguagem simples e de fácil compreensão.

E (Empathie-Émotions) – permitir que expresse as suas emoções, respeitando o seu ritmo e fornecendo suporte emocional.

S (Stratégie et Synthèse) – discutir sobre qual a melhor estratégia  a adoptar, ajudando o interlocutor a lidar com a situação, garantindo que este compreendou os procedimentos a seguir.

Em síntese, ambos os protocolos defendem que se deve atender ao estado emocional e psicológico do interlocutor (seja ele o doente ou seu familiar), transmitindo a informação de forma gradual e utilizando uma linguagem simples, de modo a que a informação seja clara e objetiva. Por outro lado, o profissional de saúde deve ainda ajudar a manter a esperança, planear e assegurar o acompanhamento do indivíduo.  

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Fonte: 
Comunicação Clínica e Relação de Ajuda
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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