Um projeto de melhoria da qualidade dos Cuidados de Enfermagem

“Aprender SBV…início de um percurso”.

Atualizado: 
16/12/2015 - 17:05
A paragem cardíaca súbita é a principal causa de morte nos países ocidentais. Segundo o Conselho Português de Ressuscitação, a doença cardiovascular representa cerca de 40% de todas as mortes antes dos 75 anos, com a morte súbita por doença coronária a apresentar uma elevada percentagem, com os numeros a aumentar todos os anos. A mesma entidade refere que a morte súbita de causa cardíaca é frequente em Portugal.

A maioria das situações que provocam Paragem Cardio-respiratória (PCR), ocorrem fora dos hospitais e longe do alcance dos profissionais de saúde. O início precoce de manobras de reanimação aumentam as hipóteses de sobrevivência para a vítima1,3,4. Nesse sentido, preconiza-se o início do Suporte Básico de Vida pelo cidadão, com o intuito de permitir a manutenção de algumas funções vitais da vítima, até à chegada de um meio de emergência mais diferenciado.

O Conselho Português de Ressuscitação1 e Bohn et all5, salientam que ao se iniciar as manobras de SBV por alguém que presencia a PCR, a taxa de sobrevivência tem um aumento com significado estatistico. A validar esta inferência, Valenzuela et all6, observaram em investigações realizadas, que a taxa de sobrevivência após PCR sem a realização imediata de SBV diminuia 7% a 10% por cada minuto que passava.

Mas a formação em SBV em Portugal ainda é muito reduzida, segundo o Conselho Português de Reanimação2.

Coloca-se a questão, qual a idade certa para iniciar a formação em SBV e quais os locais mais adequados?
A evidência científica reconhece que o início precoce da formação em SBV traz ganhos efetivos, com diminuição da morbilidade e mortalidade por PCR em ambiente pré-hospitalar7, e que quantos mais cidadãos tiverem formação nesta área, mais probabilidade será a sobrevida em caso de uma paragem cardiaca8.

Nesse sentido, várias são as organizações que recomendam o inicio da formação em SBV nas escolas como a American Heart Association9. Em sintonia com este pressuposto, Colquhoun10, refere que a formação em SBV deviam de entrar nos curricula escolares, pois as escolas apresentam o perfeito ambiente para cativar os futuros cidadãos.

Vários autores consideram que não há uma idade ideal para iniciar a formação em SBV. Para Maconochie et all7 e Jones et all11, apenas crianças com mais de 13 conseguem ter competências fisicas para executar a técnica de compressões cardicacas correctamente. Mas Jones et all11, realçam que estes aprendem a parte teórica do SBV com a mesma qualidade que as crianças mais velhas e podem ser um veiculo de informação para os cuidadores em caso de necessidade.

Para os autores Berthelot et all12, numa investigação desenvolvida em  crianças com idades compreendidas entre os 10 e 12 anos, concluíram que as mesmas não efectuaram conforme o protocolado as compressões cardiacas em profundidade recomendada (5 a 6 cm),  mas realizaram as compressões cardiacas com uma frequência adequada (100 a 120 por minuto). No que concerne às insuflações executadas, estas apresentaram-se com volumes adequados, conforme preconizado pela American Heart Association.

Projecto de melhoria continua dos padrões de qualidade em enfermagem: : “ Aprender SBV…inicio de um percurso”
No sentido de dar resposta a esta problemática, ausência de formação em SBV pela comunidade, o Serviço de Pediatria em colaboração com a Viatura Médica de Emergência e Reanimação do Centro Hospitalar do Oeste – Caldas da Rainha, através da sua equipa de enfermagem, iniciou no ano lectivo de 2013-2014 o projecto” de intervenção na comunidade – “Aprender SBV…inicio de um percurso”.

Apresenta como parceiros a Liga os Amigos do Centro Hospitalar de Caldas da Rainha, a Camara Municipal das Caldas da Rainha, a Fundação Portuguesa de Cardiologia – Delegação Centro e o Conselho Portugues de Reanimação.


Foto: Nuno Pedro, Isabel Oliveira (Presidente da SRC da OE), Germano Couto (Bastonário da OE) e Ana Cláudia Tavares na entrega do Premio Excelência do concurso Cuidar 14, da Secção Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros

A área de intervenção são todas as escolas do concelho (cerca de 600 alunos por ano letivo), a alunos do 1º ciclo a frequentarem o 4 ano. Até ao momento foram formados 1200 alunos em SBV (anos letivos de 2013-2014 / 2014-2015), com as especificidades e adaptação da formação ao publico alvo.

No corrente ano letivo (2015-2016), pretende-se realizar a formação a cerca de 600 alunos, e comitantemente, iniciar a segunda da fase do projeto, com a introdução de momentos de avaliação, onde se pretende identifcar na população em estudo, competências técnicas e cognitivas para a aprendizagem da formação em SBV. Para validar o projeto, desenvolverem-se indicadores de estrutura, processo, resultado e económicos, no sentido de dar sustentação ao mesmo.

Salienta-se que o projecto “Aprender SBV…inicio de um percurso”, no ano de 2014, candidatou-se ao Concurso Cuidar´14, patrocionado pela Ordem dos Enfermeiros – Delegação Centro, tendo obtido a classificação de excelência, que correspondeu ao primeiro lugar. Em 2015 concorre ao Cuidar´15, apresentando-se o mesmo conforme proposta de guião para a organização de Projetos de Melhoria da Qualidade dos Cuidados de Enfermagem pela Ordem dos Enfermeiros.

Bibliografia:
1. European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2010 - Versão Portuguesa (CPR - Conselho Português de Ressuscitação). Coimbra: Associação de Saúde Infantil de Coimbra; 2010.
2. cpressuscitacao.pt [homepage on the Internet]. Porto: Web site do Conselho Português de Ressuscitação [updated 2010; cited 2013 Aug 15]. Acessível em: http://salvarvidas.com.pt/page/sobre-o-projecto
3. Instituto Nacional de Emergência Médica. (2011). Manual de Suporte Avançado de Vida - Edição não comercializada. Lisboa: INEM; 2011.
4. Conselho Europeu de Ressuscitação. EPLS Provider Manual. Curso Europeu de Suporte de Vida Pediátrico - Versão Portuguesa. Porto: Conselho Português de Ressuscitação - Grupo de Reanimação Pediátrica; 2010.
5. Bohn A, Aken V, Mollhoff T, Wienked H, Kimmeyer P, Wild E, et al. Teaching resuscitation in schools: annual tuition by trained teachers is effective starting at age 10. A four-year prospective cohort study. Resuscitation 2012; 619 - 625.
6. Valenzuela T, Roe D, Cretin S, Spaite D, Larsen M. Estimating effectiveness of cardiac arrest interventions: a logistic regression survival model. Circulation 2001; 3308-3313.
7. Maconochie I, Bingham B, Simpson S. Teaching children basic life support skills: Improve outcomes but implementation needs to be earlier and more widespread. BMJ 2007; 1174.
8. Roppolo L, Pepe P. Retention, retention, retention: targeting the youn in CPR skills training! Critical Care 2009, 13:185 [cited 2013 Aug 7]  Acessivel em : http://ccforum.com/content/13/5/185
9. American Heart Association. Importance and Implementation of Training in Cardiopulmonary Resuscitation and Automated External Defibrillation in Schools. Circulation 2011; 601-706.
10. Colquhoun M. Learning CPR at school - Everyone should do it. Resuscitation 2012; 543 - 544.
11. Jones I, Whitfield R, Colquhoun M, Chamberlain D, Vetter N, Newcombe R. At what age can schoolchildren provide effective chest compressions? An observational study from the Heartstart UK schools training programme. BMJ 2007; 1 - 3.
12. Berthelot, S, Plourde M, Bertrand I, Bourassa A, Couture Marie-Maud, Berger-Pelletier É, et al. Push hard, push fast: quasi-experimental study on the capacity of elementary schoolchildren to perfom cardiopulmonary resuscitation. Scandinavian Journal of Trauma, Resuscitation and Emergency Medicine 2013; 21-41.

Autores:
Ana Cláudia Tavares - Enfermeira na Urgência Pediátrica do Centro Hospitalar do Oeste – Caldas da Rainha e na Viatura Médica de Emergência e Reanimação do Centro Hospitalar do Oeste – Caldas da Rainha
Nuno Pedro - Enfermeiro na Urgência Pediátrica do Centro Hospitalar do Oeste – Caldas da Rainha e na  Viatura Médica de Emergência e Reanimação do Centro Hospitalar do Oeste – Caldas da Rainha e no Heli 4 Santa Comba Dão, INEM

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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