Quando a tiróide se inflama

Tiroidites

Atualizado: 
15/05/2019 - 17:41
Tiroidite refere-se a qualquer tipo de processo inflamatório com envolvimento da tiróide.
Tiroidite

A tiroidite é uma inflamação da glândula tiróide e provoca um hipertiroidismo transitório muitas vezes seguido de um hipotiroidismo transitório. Pode também não produzir qualquer mudança no funcionamento da tiróide.

Diversos factores poderão contribuir para a protecção da glândula tiroideia contra a infecção, destacando-se a rica vascularização e a boa drenagem linfática, o conteúdo elevado de iodo (com possível efeito bactericida) e a separação física clara das outras estruturas adjacentes.

A infecção é facilitada quando há uma doença subjacente da glândula ou quando há uma intervenção cirúrgica da tiróide ou dos órgãos vizinhos. A infecção das diversas estruturas cervicais pode atingir por continuidade a glândula tiroideia.

De referir ainda a possibilidade de a infecção da tiróide ser provocada por via sanguínea e a partir de focos de infecção localizados em locais distantes, tais como a pele, as vias respiratórias, o aparelho genito-urinário ou o tubo digestivo.

Existem vários tipos de tiroidite sendo os mais frequentes a tiroidite aguda infecciosa, a tiroidite subaguda de De Quervain (também conhecida por tiroidite subaguda granulomatosa), a tiroidite crónica auto-imune e a tiroidite linfocitária silenciosa.

Tiroidite aguda infecciosa

As tiroidites infecciosas podem ser provocadas por diversos tipos de agentes: bactérias, fungos, parasitas ou vírus, sendo que as tiroidites bacterianas são as mais frequentes e potencialmente graves. A distinção entre a tiroidite infecciosa (nomeadamente a forma bacteriana aguda) e outras formas de tiroidite, com processos inflamatórios de estruturas adjacentes, pode ser difícil.

Na tiroidite bacteriana aguda supurativa os sinais e sintomas mais frequentes são para além da dor, rubor, calor e inchaço locais, a febre, a dor ao engolir e a rouquidão. Em geral não existe mau funcionamento da tiróide (hipotiroidismo ou hipertiroidismo) neste tipo de tiroidites.

O tratamento da tiroidite bacteriana deverá ser o mais precoce possível e inclui a utilização de antibióticos cuja escolha deve ser guiada pelos resultados do exame bacteriológico do material das lesões. Nos casos em que há formação de um abcesso, poderá ser necessária uma drenagem cirúrgica.

Tiroidite subaguda de De Quervain

A tiroidite subaguda de De Quervain é uma forma rara de tiroidite com um início mais arrastado que a forma bacteriana. Esta tiroidite também é denominada tiroidite granulomatosa ou tiroidite de células gigantes.

Nesta doença uma infecção virusal poderá ser o factor precipitante ou mesmo causal. Ocorre preferencialmente entre os 20 e os 60 anos e é 3 a 6 vezes mais frequente na mulher. É mais habitual o seu diagnóstico nos meses de verão. A tiroidite é muitas vezes precedida por uma infecção respiratória ou o que muitas vezes as pessoas chamam uma inflamação da garganta, mas na realidade trata-se de uma dor no pescoço, localizada na tiróide.

Esta entidade caracteriza-se pela dor e inchaço da tiróide (em geral assimétrica), por vezes com febre e outros sintomas gerais tais como falta de forças, dores musculares, anorexia e emagrecimento. A dor pode deslocar-se de um lado para o outro do pescoço, espalhar-se à mandíbula e aos ouvidos e tornar-se mais forte quando se vira a cabeça ou no momento da deglutição, por isso, no inicio, pode ser confundida com um problema dentário ou com uma infecção da garganta ou do ouvido.

A inflamação faz com que a glândula tiróide liberte uma quantidade excessiva de hormona tiróidea e, por conseguinte, apareça hipertiroidismo, quase sempre seguido de um hipotiroidismo transitório.

O tratamento é dirigido ao alívio dos sintomas e pode incluir a toma de anti-inflamatórios não esteróides e/ou corticosteróides. A maioria dos doentes recupera por completo deste tipo de tiroidite. O mal diminui de forma espontânea em poucos meses, mas por vezes causa recaídas ou, raramente, provoca uma lesão bastante grave na glândula tiróide para causar um hipotiroidismo permanente.

Tiroidite crónica auto-imune

A tiroidite crónica auto-imune é como o nome indica uma forma crónica de tiroidite que do ponto de vista clínico pode ter pouca sintomatologia e passar mesmo despercebida. A sua origem é imunológica e está relacionada com fenómenos de auto-imunidade, com auto agressão da tiróide pelo sistema imunitário do próprio indivíduo. Ou seja, por razões desconhecidas, o organismo vira-se contra si mesmo numa reacção auto-imune e cria anticorpos que atacam a glândula tiróide.

A doença caracteriza-se pela presença no sangue de anticorpos antitiroideus, nomeadamente anticorpos antitiroglobulina e antiperoxidade tiroideia. Esta tiroidite é mais frequente nas mulheres idosas e é habitual em famílias com antecedentes da doença. Sabe-se que alguns medicamentos podem ser factores precipitantes ou desencadeantes da tiroidite auto-imune.

Este tipo de tiroidite começa muitas vezes com um aumento indolor do tamanho da glândula tiróide ou com uma sensação de plenitude no pescoço. Quando se palpa a glândula, em geral esta encontra-se aumentada.

Os indivíduos com o diagnóstico de tiroidite crónica auto-imune, deverão ser avaliados regularmente do ponto de vista funcional através de análises, para detectar e tratar precocemente um hipotiroidismo, pois a maior parte dos doentes desenvolve-o (hipotiroidismo). Nestes casos, é-lhes prescrito um tratamento de substituição hormonal para toda a vida, embora não haja tratamento específico para a tiroidite propriamente dita.

Tiroidite linfocitária silenciosa

Incide com maior frequência nas mulheres, habitualmente logo depois do parto, e faz com que a tiróide aumente de volume sem provocar dor. Num período que oscila de várias semanas a vários meses, a mulher afectada sofrerá de hipertiroidismo, seguido de hipotiroidismo, antes de recuperar finalmente o funcionamento normal da tiróide.

Esta afecção não requer um tratamento específico, embora o hipertiroidismo ou o hipotiroidismo possam requerer tratamento durante algumas semanas. Com frequência é necessário tratamento farmacológico para controlar os sintomas do hipertiroidismo. Durante o período de hipotiroidismo, pode ser necessário administrar hormona tiróidea, em geral durante alguns meses. O hipotiroidismo torna-se permanente em cerca de 10 por cento das pessoas que sofrem de tiroidite linfocitária silenciosa.

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Fonte: 
Manual Merck
medicosdeportugal.saude.sapo.pt
Grupo de estudos da tiróide
Nota: 
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