Relação com o doente

Saber comunicar é uma ferramenta terapêutica útil na Saúde

Atualizado: 
12/08/2016 - 12:31
A comunicação é uma ferramenta fundamental na relação entre o profissional de saúde e o doente. Para além de essencial a um diagnóstico rigoroso e à eficácia das intervenções, esta pode ser considerada, ainda, como uma arma terapêutica bastante poderosa, que contribui para aliviar o sofrimento do paciente e suas famílias.

De acordo com Carlos Sequeira, professor da Escola Superior de Enfermagem do Porto e coordenador do livro “Comunicação Clínica e Relação de Ajuda”, “é através da comunicação que os profissionais de saúde conhecem os problemas das pessoas e propõem propostas terapêuticas”, sendo por isso  “fundamental a utilização da comunicação com rigor”.

Se por um lado é essencial que conheçam “em profundidade e utilizem estilos e técnicas de comunicação terapêuticas”, por outro, os profissionais de saúde devem ter ainda, na opinião deste especialista, “consciência do impacto que a comunicação pode ter ao nível da saúde e dos cuidados”.

O  livro “Comunicação Clínica e Relação de Ajuda”  surge, neste contexto, como um manual de aprendizagem, para profissionais, que visa melhorar a sua relação com o doente, tendo em vista a otimização de resultados ao longo de todo o processo terapêutico.

“Sempre que há interação humana há comunicação, e este novo livro é útil para garantir que, onde quer que haja interação em contexto clínico, a comunicação que  se estabelece deve ser terapêutica e de ajuda para as pessoas que necessitem”, explica Carlos Sequeira.

A comunicação para além de permitir ou facilitar o diagnóstico, funciona também como uma ferramenta que consegue potenciar o valor terapêutico de qualquer atividade do profissional de saúde. “Saber comunicar, habitualmente, é terapêutico”, revela. “Muitas vezes, situações de sofrimento podem ser aliviadas pela comunicação, através da escuta, do toque, etc”, justifica o professor.

Por outro lado, a comunicação pode influenciar o potencial terapêutico da atividade por via da confiança, da empatia ou da adesão. “Por exemplo, se um doente não confiar num profissional tem maior probabilidade de não seguir as suas orientações, tem maior probabilidade de procurar outra clínica (duplicando os cuidados)”, explica.

Neste contexto, é extremamente importante que o profissional de saúde seja capaz de identificar o seu interlocutor adequando a forma como comunica caso a caso. “É fundamental que o profissional de saúde se centre no outro e não utilize de forma constante o seu estilo de comunicação, independente do doente em interação”, afirma Carlos Sequeira, reforçando a ideia de que, deste modo, conseguirá ser mais empático e mais assertivo, acrescentando, sem qualquer sombra de dúvida, mais valor terapêutico às suas intervenções.

“Cada pessoa é única, com uma história de vida singular e quando adoece continua a ser única e singular. Por isso, um estilo de comunicação pode ser terapêutico para uma pessoa e não o ser para outra”, esclarece.

“Uma pessoa com uma experiência negativa relativa a uma intervenção cirúrgica prévia necessita de estratégias de comunicação diferentes de uma pessoa com uma experiência positiva”, demonstra o especialista.

Ao comunicar com o doente o profissional de saúde deve ter em conta não só a sua situação de saúde/ doença, mas também “o seu contexto, o seu estado de desenvolvimento, o seu estado emocional, o seu temperamento, as suas expetativas, a família, o impacto da situação para o seu futuro, as suas experiências anteriores, etc”. As variáveis são, por isso, muitas. “No entanto, o mais importante a ter em conta é tentar compreender a sua realidade e as suas principais necessidades”, reforça.

Fatores que influenciam a eficiência da comunicação

“O ambiente, a disponibilidade, a linguagem e vocabulário, a clareza e concisão, a oportunidade e relevância, o ritmo, a aparência pessoal, os gestos, a postura e as atitudes corporais, o contato visual, a expressão facial e a respiração”, são, de acordo com Carlos Sequeira, alguns dos fatores que promovem a relação médico/doente.

Tão importante como a comunicação verbal, a comunicação não-verbal tem a capacidade de aproximar os sujeitos.

A linguagem cinésica, por exemplo, “conhecida como a linguagem do corpo” pode ser, tal como explica o especialista,  “determinante para tranquilizar uma pessoa e para a criação de uma relação de confiança”.

“As configurações faciais demonstram estados afetivos, tendo sido descritas como: alegria, raiva, surpresa, desprezo, interesse”, apresentam uma importância fundamental em complemento à comunicação verbal.

No entanto, existem diversas barreiras que podem dificultar este processo de comunicação.

“As dificuldades são várias e dependem muito dos contextos e dos profissionais. Em termos genéricos consistem em dificuldades relacionadas com escassez de tempo/disponibilidade, inexperiência, falta de conhecimentos, dificuldades em gerir as emoções, dificuldades em gerir situações complexas, insuficiente formação, informação demasiado técnica, falta de atenção aos diferentes tipo de de ruídos na comunicação e privilegiar “o computador” em detrimento da pessoa”, refere.

Como consequência, Carlos Sequeira destaca a insatisfação dos utentes com a qualidade dos cuidados como um dos riscos de uma comunicação deficiente.

Por outro lado, podem ainda surgir erros de avaliação e diagnóstico ou dificuldades no processo de adaptação à doença.

 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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