Opinião

O que esperar da Anestesiologia

Atualizado: 
08/11/2017 - 10:05
A Anestesiologia há muito que deixou de ser uma especialidade do bloco operatório apenas, tendo sido implantada progressivamente, de forma definitiva e cooperativa, em inúmeras áreas hospitalares.

Este desempenho desenvolve-se num ambiente de crescente complexidade, tecnologia sofisticada e no contexto de cenários clínicos cada vez mais desafiantes. A metodologia moderna do ensino e treino de futuros especialistas procura por isso novas abordagens na garantia de competências e segurança dos procedimentos, recorrendo cada vez mais aos modelos de simulação biomédica.

Apesar da evolução olimpicamente consolidada da Anestesiologia sobretudo na última década continuamos a assistir a morbilidade e mortalidade “non zero” relacionada com eventos anestésicos. Continuará a existir probabilidade (muito baixa) de desastres, quer no manuseio da via aérea que poderá configurar sempre cenários potencialmente catastróficos, quer pela abordagem anestésica extremamente difícil de determinadas situações clínicas, quer por não ser possível erradicar o erro médico.

Persistem diversos assuntos sem resposta concreta, tais como a influência da anestesia na função do cérebro, as consequências da anestesia no organismo em crescimento da criança, a eleição da técnica anestésica ideal para cada caso específico, entre muitas outras questões.

Interroga-se ainda o aparecimento de novos fármacos, pelo elevadíssimo custo de investigação que acaba por condicionar o  preço de aquisição para a  sua utilização clínica diária, apesar das potenciais vantagens clínicas reconhecidas.

À semelhança do que a inovação tecnológica que a cirurgia robótica (Da Vinci) representa estão também concebidos “robots “ futuristas para o campo da Anestesiologia. Esta tecnologia robótica não é criada para ter uma existência independente mas sim para permitir uma determinada autopilotagem da fase intermédia ou de manutenção em procedimentos anestésicos de longa duração, utilizando processos de auto-regulação e de administracão de fármacos com base na informação retrógrada proveniente de dispositivos de monitorização hiper rigorosos dos sinais vitais.

A chamada inteligência artificial poderá mudar a medicina mais do que qualquer descoberta ou desenvolvimento desde  a invenção da anestesia em 1849.

O que será a próxima invenção de sucesso  na nossa especialidade? Um fármaco superior no alívio da dor? Um anestésico inalatório mais aperfeiçoado? Monitorização mais evoluída que assegure maior segurança do doente?

A Anestesiologia é hoje uma disciplina central da prática médica, cuja grande  preocupação é a segurança do doente, a evicção do erro médico  e  a redução tanto quanto possível do impacto da técnica anestésica na evolução da recuperação de cada doente. Em poucas palavras , “primum non nocere “ - em primeiro lugar não fazer mal.

O que se espera da Anestesiologia para se tornar ainda mais segura?

Provavelmente aguardar novos desenvolvimentos na monitorização, na educação, em protocolos e na melhoria da qualidade da análise estatística de dados relativos a morbilidade e mortalidade.

Seja como anestesistas, como doentes a precisar de intervenção cirúrgica ou apenas como observadores de todo este processo, todos iremos continuar a valorizar e a apreciar o campo da Anestesiologia.

Autor: 
Dr. Jorge Fonseca Esteves - Anestesiologista Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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