Salve uma vida, dê sangue

O Dia Nacional do Dador de Sangue: uma homenagem ao IPST e ao IPO Lisboa

Atualizado: 
27/03/2018 - 10:50
O Dia Nacional do Dador de Sangue serve para evidenciar, junto da população em geral, o valor social e humano da dádiva benévola de sangue, estimulando a sua prática e tornando mais conhecida a sua indispensabilidade.

Enquanto houver acidentes, catástrofes naturais, guerras, atentados terroristas, crime violento, doenças malignas, perturbações da coagulação, anemias graves ou cirurgias com risco hemorrágico elevado, haverá necessidade de sangue para salvar vidas.

Enquanto não for possível fabricar “sangue artificial” (sangue total e os seus componentes individuais, como o plasma, as plaquetas, os neutrófilos ou os factores de coagulação) será necessário recorrer a dádivas de sangue “seguro” para suprir as suas necessidades, e a melhor maneira de o fazer é recorrer a dadores benévolos, enquadrados em estruturas que garantam a qualidade do sangue.

Em Portugal, o Dia Nacional do Dador de Sangue assinala-se a 27 de março, em comemoração da data da fundação da Federação Portuguesa de Dadores Benévolos de Sangue (FEPODABES), cujo lema é “salve uma vida, dê sangue”.

O Dia Nacional do Dador de Sangue foi instituído em 17 de Abril de 1986 (através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 40/86, publicada no Diário da República n.º 114/1986, Série I de 19 de Maio de1986), destinando-se à realização de actos comemorativos da actividade desenvolvida pelos dadores benévolos para obtenção do sangue necessário ao tratamento de doentes

Neste ano de 2018, em que se comemora o 60.º aniversário do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (anteriormente designado por Instituto Nacional de Sangue e depois Instituto Português do Sangue), o lema do Dia Nacional do Dador de Sangue é precisamente “IPST: 60 anos pela VIDA”, estando marcada a cerimónia oficial para Coimbra, no Convento de São Francisco.  

Já em 16 de Fevereiro de 2018 tinha decorrido na Academia de Ciências de Lisboa a sessão comemorativa do 60.º aniversário do Instituto Português do Sangue e da Transplantação, na qual o Presidente da República se assumiu como "dador de velhos tempos" e apelou à causa da dádiva de sangue, afirmando ser um "cidadão grato à generosidade reafirmada pelos portugueses".

No entanto, e apesar de o IPST se dedicar primariamente à recolha, tratamento e administração de sangue e seus derivados, este Instituto tem hoje muitas mais competências, nomeadamente na área da medicina regenerativa e da transplantação de órgãos, tecidos e células de origem humana, como o sangue do cordão umbilical e as células estaminais de medula óssea, procurando sempre a segurança e a auto-suficiência nacional.

A doação de sangue

As pessoas saudáveis têm o dever de ajudar as pessoas doentes, e neste dever de solidariedade inclui-se a doação de sangue, competindo a quem o recebe garantir ao máximo a segurança e o bem estar do dador, o bom uso do sangue e a segurança de quem o vai receber.

Em Portugal, como em muitos outros países, a doação de sangue é um processo voluntário e altruísta (e por isso não remunerado), que passa por uma inscrição como dador, pelo preenchimento de um questionário pré-dádiva, associado ao consentimento informado, por uma avaliação clínica personalizada (consulta de triagem) e por análises clínicas, de modo a definir a elegibilidade do dador (esta avaliação clínica é efectuada de uma forma mais completa aos dadores de primeira vez, mas não pode ser dispensada aos dadores habituais ou regulares).

Em princípio, qualquer pessoa saudável, entre os 18 anos e os 60/65 anos (primeira vez/continuação), com peso superior a 50 Kg, valores de hemoglobina iguais ou superiores a 12.5 g/dl para mulheres e 13.5 g/dl para homens, frequência cardíaca entre 50 e 100 batimentos por minuto, tensão arterial sistólica entre 100 e 180 mm Hg e tensão arterial diastólica entre 60 e 100 mm Hg, pode doar sangue.

Para além destas condições genéricas, existem muitos factores específicos a ter em conta para a aceitação ou recusa (temporária ou definitivamente) de uma dádiva de sangue: histórico de viagens, doenças actuais e passadas, alergias, vacinas, cirurgias prévias, mordeduras de animais, consumo de medicamentos, toxicodependência, hábitos sexuais, tatuagens, colocação de piercings, tratamentos de acupunctura ou mesoterapia, transfusões recebidas, gravidez, aleitamento, detenção em cadeias, participação em ensaios clínicos e tantos outros, que se podem consultar no Manual de Triagem de Dadores de Sangue, publicado pelo IPST.

Os critérios de elegibilidade para dadores têm evoluído ao longo do tempo, adaptando-se às condições sociais, ao aparecimento, controle ou erradicação de doenças e à própria evolução científica.

Por exemplo, em 2015, o Ministério da Saúde aceitou a permissão da dádiva de sangue por homossexuais e bissexuais (em condições específicas), o que era liminarmente proibido até então. Neste sentido, a Direção-Geral da Saúde, por proposta conjunta do Departamento da Qualidade na Saúde, do Programa Nacional para a Infeção VIH/SIDA, do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST), IP e da Ordem dos Médicos, emitiu a NORMA 009/2016, intitulada “Comportamentos de Risco com Impacte na Segurança do Sangue e na Gestão de Dadores: Critérios de Inclusão e Exclusão de Dadores por Comportamento Sexual”, que actualizou estes critérios.

Quem quiser ser dador de sangue pela primeira vez ou, sendo dador, quiser fazer uma nova dádiva, pode recorrer à informação oficial do IPST sobre locais e horários de colheita (através do site http://www.ipst.pt/ou da plataforma interactiva http://www.dador.pt, que indica quando e onde pode dar sangue, com base na localização geográfica do dador e disponibiliza a funcionalidade de definição da rota para o local da dádiva selecionado) ou aceder às páginas informativas das inúmeras associações de dadores de sangue existentes no país.  

O Serviço de Imunohemoterapia do IPO Lisboa

Em 1948, 10 anos antes de o Ministério do Interior-Direção-Geral da Assistência ter criado o Instituto Nacional de Sangue (INS) e muitos anos antes de existir um Ministério da Saúde em Portugal, já o Instituto Português de Oncologia, em Lisboa, tinha instalações próprias para o seu Serviço de Hemoterapia.

Dois anos depois, inaugurava-se oficialmente o Centro de Hemoterapia do IPO (hoje designado Serviço de Imunohemoterapia) que, curiosamente, servia sanduíches e vinho do Porto aos dadores de sangue, após as colheitas.

Se não fosse de todos conhecido o elevado prestígio de que o IPO sempre gozou, a sua grande qualidade assistencial na área oncológica e a sua enorme capacidade de atrair voluntários assistenciais e dadores benévolos de sangue, seríamos tentados a pensar que os dadores de sangue afluíam ao IPO para receber uma sandes e um copo de Porto. O certo é que, nesse tempo, se considerava que o vinho ajudava o dador a recuperar forças e a regenerar o sangue doado e que, na realidade, o IPO era auto-suficiente e até excedentário, em termos de sangue para transfusão.

As epidemias de VIH/SIDA e hepatite C, o aumento constante do número de doentes oncológicos, a generalização dos tratamentos de quimioterapia e de radioterapia e o aumento da sobrevida dos doentes foram, ao longo dos anos, obrigando o IPO a ampliar as suas instalações e a evoluir tecnicamente, criando novas valências transfusionais e adquirindo certificações de qualidade, sem esquecer o primado da humanização que é uma das grandes imagens de marca desta instituição.

Para o IPO, a minha sincera homenagem, neste Dia Nacional do Dador de Sangue de 2018!

Autor: 
Dr. Viriato Horta - Medicina Geral e Familiar Clínica Europa Carcavelos
Nota: 
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