Entrevista

Manuel Peixoto: “O Coaching não é a saída para todos os problemas”

Atualizado: 
26/01/2018 - 15:13
Para muitos “coaching” é apenas uma atividade que está na moda e alguns ainda duvidam da sua finalidade. Outros, consideram que esta pode ser a solução para todos os problemas. Mas, afinal o que é? Para que serve? E quem está habilitado a desempenhar a função? Para o ajudarmos a entender o que é o coaching, estivemos à conversa com Manuel Peixoto, um coach certificado pela International Coach Federation apaixonado pelo que faz.

O que é o coaching? Para que serve e como funciona?

Segundo a International Coach Federation (ICF) coaching é “constituir uma parceria com clientes num processo estimulante e criativo que os inspira a maximizar o seu potencial pessoal e profissional.” Ou seja, conduzido de maneira confidencial, o processo de Coaching é realizado através das chamadas sessões, onde um profissional “o Coach” tem a função de estimular, apoiar e despertar no seu cliente, também conhecido como “coachee”, o seu potencial infinito para que este conquiste tudo o que deseja e que tenha potencial para tal.

Neste contexto é sempre o coachee que decide qual o caminho que quer seguir e que tarefas serão as mais adequadas para alcançar os seus objetivos.

Como funciona? Na primeira sessão é explicado como o processo de coaching funciona, o coachee explica as suas preocupações e o que deseja alcançar. O coach através de metodologia de questionamento coloca as perguntas necessárias para que o coachee encontre por si as respostas que precisa para traçar o seu plano de ação.

Após definido o plano de ação, as sessões seguintes são de tarefas que o coachee vai escolhendo (com ajuda do seu coach) de modo a fazer o seu caminho com vista ao alcance do plano e objetivos.

Quem procura este serviço?

No meu caso são sobretudo executivos, quadros de empresas.

Procuram sobretudo encontrar formas mais rápidas e eficazes de lidar com problemas laborais da mais variada ordem. Fatores como escolhas na carreira, alterações de funções, problemas de liderança, eficácia na forma de comunicar com a equipa, encontrar formas de ser mais eficaz em encontrar soluções de motivação com equipa… são alguns exemplos.

Também procuram os serviços de coaching pessoas ao nível pessoal, querendo melhorar a sua imagem, forma de comunicar e de se relacionar com os outros, trabalhar a auto-estima, embora o número ainda seja pequeno quando comparado ao universo das empresas.

Quais os principais benefícios do coaching?

Sabendo que o coaching é muito orientado para a ação, para o futuro, e por um enquadramento positivo das coisas adivinha-se que as pessoas que experimentam este processo fiquem muito satisfeitas com os resultados pois estes são visíveis e mensuráveis após alguns meses de trabalho. Ao contrário de algumas abordagens da psicologia e da psicoterapia, o coaching apenas trata questões do futuro, assenta em tarefas que desenvolvem ação e um amplo compromisso para um plano definido de ação e balizado no tempo.

Quem pode desenvolver esta atividade? Que formação é exigida e quem fiscaliza?

De acordo com a ICF (principal associação que procura regular a profissão de Coach a nível global - http://www.icfportugal.com), desenvolver a atividade de coach apenas o deve fazer quem obtém uma formação completa acreditada pela ICF e que consta de largas dezenas de horas de formação técnico/prática (normalmente demora um ano) ao qual se segue um processo de certificação (válida por 3 anos e que deverá ser renovada através da frequência de formação continuada ou por um mentor.

Desta forma a ICF emite um selo que determina que o Coach está habilitado a exercer a atividade. O mercado (nomeadamente, o executivo) já começa a saber identificar os Coaches que têm certificação e muitos já fazem pesquisa das credenciais junto do site da ICF.

Quais as principais competências do coach?

A ICF defende 11 Competências Centrais para o Coaching profissional:

1. Princípios éticos e profissionais – Compreender o código de conduta e as Boas Práticas do Coaching (os standards e ética de Coaching e capacidade para) e aplicá-los, adequadamente, em todas as situações de Coaching;

2. Contrato de Coaching – Capacidade de compreender o que é exigido na interação específica de Coaching e de chegar a acordo com o novo cliente sobre o processo de Coaching, as suas regras de limites (e de relacionamento);

3. Confiança com o cliente – Capacidade de criar um espaço seguro, um ambiente favorável, que permita progressivamente o respeito mútuo e a confiança;

4. Presença – Capacidade para ser plenamente consciente e criar espontaneamente um relacionamento com o cliente, empregando um estilo aberto, flexível e confiante;

5. Escuta ativa – Capacidade de se concentrar totalmente naquilo que o cliente está a dizer ou a omitir, de forma a compreender o significado do que é dito no contexto dos desejos do cliente e para apoiar a auto-expressão desses conteúdos (do cliente);

6. Perguntas Poderosas – Capacidade de fazer perguntas que revelem informações necessárias para o máximo benefício do relacionamento de Coaching e do cliente;

7. Comunicação direta – Capacidade de comunicar eficazmente durante as sessões de Coaching, bem como de utilizar a linguagem que tiver o maior impacto positivo no cliente;

8. Desenvolvimento da consciencialização – Capacidade de integrar e avaliar com precisão as fontes múltiplas de informação, e para fazer interpretações que ajudam o cliente a ganhar consciência e, consequentemente, a alcançar os resultados pré-estabelecidos;

9. Definição de planos de ação – Capacidade de criar com o cliente oportunidades de aprendizagem contínua, durante o Coaching e nas situações trabalho / vida, e para proporcionar a tomada de novas ações que irão conduzir eficazmente aos resultados de Coaching pré-estabelecidos;

10. Planeamento e estabelecimento de objetivos – Capaz de desenvolver e manter um plano eficaz de Coaching com o cliente;

11. Acompanhamento do progresso e auto-responsabilização – Capacidade para manter a atenção sobre o que é importante para o cliente, e para deixar responsabilidade ao cliente para tomar medidas.

O que é que um coach não pode fazer?

Um Coach não pode aceitar um processo de coaching para o qual identifique que está fora das competências de Coach, nomeadamente situações de fragilidade pessoal, dependência de terceiros, bloqueios emocionais, impasse na obtenção de soluções ou plano de ação e todas as situações que o Coach se depare com indícios de doença devendo sempre recusar e encaminhar para um profissional de saúde ou da área competente.

Recentemente, a Ordem dos Psicólogos manifestou-se, através do seu vice-bastonário (leia aqui), a respeito do tema referindo que  há muitos profissionais sem a formação necessária para desenvolver a atividade e  que vêem aqui uma oportunidade de ganhar dinheiro. Qual a sua opinião?

Sobre a entrevista em análise reconheço que podem existir casos de abuso e aproveitamento por parte de pessoas que se intitulam Coaches e que estão longe de o ser (de acordo com os standards da ICF), contudo não devemos generalizar. O mercado vai normalizar e ao longo do tempo os maus profissionais tenderão a desaparecer como aliás se verifica em muitas outras profissões. Devo também fazer notar que na entrevista se fica com a ideia de o Coaching poder ser uma atividade apenas para psicólogos, o que de acordo com todas as tendências de mercados maduros como nos EUA e Inglaterra se revela um completo disparate.

A própria American Psychological Association através de Sandy Shullman afirma "Nenhuma especialidade em psicologia pode preparar completamente alguém para fazer coaching" “Realmente não há só uma forma de se tornar num Coach executivo, mas definitivamente existem requisitos essenciais que cada Coach deve possuir “.

Outra questão que se nota nesta entrevista é um completo conflito de interesses (http://www.coachingpsicologico.fp.ul.pt/?page_id=25) violando claramente os princípios éticos e profissionais da ICF .

Tendo em conta a especificidade da função, já recusou um trabalho/cliente por considerar não ter as competências necessárias para o acompanhar?

Já recusei vários projetos com clientes que depois da 1 sessão fica demonstrado que o cliente fez uma avaliação incorreta de que o coaching seria a melhor solução para o seu caso. Nestes anos foram já alguns casos que tive que aconselhar outro profissional. Estando convencido que tal situação tende a aparecer com a popularidade e falta de completo conhecimento do Coaching. O Coaching não é a saída para todos os problemas.

Na sua opinião, que “cuidados” devemos ter ao escolher/procurar um coach?

Fundamentalmente informar-se bem antes de tomar uma decisão de procurar um Coach e identificar que o coaching é a melhor solução para o seu caso.

Quando decidir procurar um Coach, procure que este tenha uma sólida formação e ser afiliado numa destas associações e que seja o garante da qualidade dos seus membros Coaches. Pergunte, pesquise e informe-se!

Quais os principais mitos associados a esta atividade que considera importante desconstruir?

Sobretudo a ideia que o Coaching é uma solução para qualquer coisa que vai mal na vida dos profissionais das empresas. As empresas pensam muitas vezes que quando têm tóxicos nas suas equipas estes podem ser enviados para um Coach e esperam ver estes casos de volta como excelentes colaboradores.

Nos casos de âmbito pessoal o mito é o facto de o coaching ser uma atividade da moda e as pessoas acharem que através do coaching podem resolver todos os seus problemas.

O que claramente não o é.

Acabando como comecei, lembro o coaching como uma mistura de recursos que utiliza técnicas, ferramentas e conhecimentos de diversas ciências como a gestão de empresas, gestão de pessoas, economia, psicologia, neurociência, recursos humanos, planeamento estratégico, entre outras visando a conquista de grandes e efetivos resultados em qualquer contexto.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Manuel Peixoto