Crianças e adultos com mais de 50 anos estão mais susceptíveis a contrair infecção por Streptococcus pneumoniae

A importância da vacinação antipneumocócica

Atualizado: 
13/12/2021 - 10:39
O avançar da idade traz consigo o enfraquecimento do sistema imunitário. E se nos primeiros anos de vida há uma forte aposta na imunização das crianças, medidas preventivas como a vacinação são relegadas para segundo plano na idade adulta. A vacinação antipneumocócica é disso exemplo, entre os adultos.

“O envelhecimento torna o ser humano mais vulnerável a bactérias como o pneumococo, o grande responsável pela pneumonia. Crianças e adultos com mais de 50 anos estão mais susceptíveis a contrair a doença mas, se no caso das primeiras há um forte investimento na imunização, no que toca à idade adulta, a prevenção acaba por ser relegada para segundo plano. A vacinação antipneumocócica não deve ser um exclusivo das crianças. Os adultos também devem ter essa preocupação”, explica Carlos Robalo Cordeiro, pneumologista, Diretos do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e presidente eleito da European Respiratory Society (ERS)

O que previne a vacinação antipneumocócica?

Prevenível através de vacinação, a infecção por Streptococcus pneumoniae (pneumococo) é uma causa comum de morbilidade e mortalidade em todo o mundo. Para além da pneumonia, a vacina antipneumocócica previne formas graves da infecção por pneumococos, como a meningite e a septicémia, e outras menos graves como a otite média aguda e a sinusite.

Apesar da maior incidência na época das gripes, há mortes e internamentos durante os 12 meses do ano. É por isso, fundamental que se faça a vacinação, independentemente do mês ou da estação em que se está. “A vacinação pode ser feita em qualquer altura do ano”, explica o ex-presidente da SPP. “Ao contrário do que se pensa, a pneumonia não é sazonal, pelo que consideramos que a prevenção deve constituir um acto contínuo na relação médico-doente”.

Grupos de risco

As crianças e os adultos a partir dos 50 anos, são os mais afectados pela doença pneumocócica, bem como grupos de risco que incluem pessoas com doenças crónicas associadas como a diabetes, doenças respiratórias ou cardíacas, e que tenham hábitos como o alcoolismo e ou o tabagismo.

O que é a pneumonia?

A pneumonia é uma infecção do pulmão que afecta sobretudo os alvéolos. Trata-se de uma doença com consequências graves para o doente, e elevados custos para a sociedade.

Pode afectar doentes de todas as idades, em especial os mais jovens e os mais idosos. São várias as formas de pneumonia, sendo a mais frequente a adquirida na comunidade.

O Streptococcus pneumoniae é a principal causa de pneumonia em todo o mundo, estimando-se que seja responsável por cerca de 30-50% dos casos de pneumonia adquirida na comunidade com necessidade de hospitalização.

Apesar de não ser sazonal, a pneumonia tem maior incidência na época das gripes. Estima-se que a interacção entre o vírus da gripe e o principal agente causador de pneumonias (pneumococo) aumente o risco de pneumonia pneumocócica cerca de 100 vezes.1

Sabemos que o pneumococo é o responsável por, aproximadamente, 3 milhões de mortes por ano em todo o mundo, sendo, por isso, uma das principais causas de morte preveníveis através de vacinação.

Sensibilização e prevenção

Devemos agir, não só no âmbito do diagnóstico e da terapêutica, mas também em relação a factores controláveis pelo próprio.  A sensibilização e a prevenção são a melhor forma de evitar a Pneumonia.

A vacinação antipneumocócica é a melhor forma de prevenção contra a Pneumonia e pode ser feita em qualquer altura do ano.

Na União Europeia, está indicada para todas as pessoas a partir das seis semanas de vida. São vários os esquemas vacinais, atribuídos de acordo com a idade.

No caso dos recém-nascidos, a vacinação deve ser feita a partir das 6 semanas e, para que a protecção seja eficaz, é fundamental cumprir o esquema de vacinação de quatro doses. Nos restantes casos, pessoas a partir dos 6 anos que ainda não tiverem sido vacinadas, podem receber uma dose única.

O adulto, quer seja saudável ou tenha doença associada, deve também fazer uma única dose acima dos 50 anos.

Para além da Pneumonia, a Vacina antipneumocócica previne formas graves da infecção por pneumococos, como a Meningite e a Septicémia, e outras menos graves como a Otite Média Aguda e a Sinusite.

Para além da vacinação antipneumocócica, a prevenção inclui a vacinação anti-gripal, a redução do consumo de tabaco e o tratamento de doenças associadas que possam susceptibilizar as pessoas para o aparecimento de pneumonias.

É importante, especialmente no Inverno, época de maior infecção gripal, evitar ambientes com grande aglomeração de pessoas. Igualmente importante, é a protecção contra o frio, hidratação e alimentação correctas.

Carlos Robalo Cordeiro, presidente da SPP, afirma “A Pneumonia pode ser mortal. É uma doença com consequências graves para o doente, elevados custos para a sociedade, e uma das principais causas de morte preveníveis através de vacinação. 

Estudo desenvolvido pela Comissão de Infecciologia Respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia

É cada vez maior o número de casos de Pneumonia Adquirida na Comunidade. Entre 2000 e 2009, ocorreram cerca de 8 milhões de episódios de internamentos de adultos em instituições do Serviço Nacional de Saúde em Portugal continental. 294.027 desses episódios tinham a Pneumonia como diagnóstico principal.

O estudo desenvolvido pela Comissão de Infecciologia Respiratória da Sociedade Portuguesa de Pneumologia revelou que 3,7% do total de internamentos de adultos no nosso país tem como causa a Pneumonia Adquirida na Comunidade. Em apenas 10 anos, houve um aumento de 27,6% em internamentos. Os adultos com mais de 50 anos são a grande maioria – representam 89,6% dos internados.

Entre 1998 e 2000, a relação da média de internamentos de adultos por Pneumonia Adquirida na Comunidade em Portugal continental versus outras causas era de 2,9%. Um número que, na década seguinte, aumentou 27,6%, situando-se, actualmente, nos 3,7%.

De acordo com o estudo, a percentagem de internamentos por Pneumonia sobe drasticamente a partir dos 65 anos: 7,1% dos internamentos nesta faixa etária são por Pneumonia. A partir dos 75 anos, o valor sobe mais de 2 pontos percentuais, situando-se nos 9,4%.

A idade é um factor de risco. 89,6% dos internados por Pneumonia, entre 2000 e 2009 em Portugal, tinha mais de 50 anos. 77,6% tinham idade igual ou superior a 65 e 58,1% já havia feito 75 anos. Não é, por isso, de estranhar, que a média de idades dos internados seja de 73 anos.

Também o sexo influencia a percentagem e a média de idade dos internamentos. 55,6% do total de internados eram homens, a maioria mais novos que as mulheres. A média de idades durante o período de análise foi de 71,2 para os homens e 75,2 para as mulheres.

A letalidade intra-hospitalar por Pneumonia Adquirida na Comunidade já se revelava preocupante no período 1998-2000, sobretudo a partir dos 50 anos. Se entre os 18 e os 50 anos, era de 4,5%, subia para os 19,4% até aos 65 anos, para 21,5% até aos 75 e para 24,8% a partir dessa idade. Em média, morriam 17,3% de internados por Pneumonia da Comunidade entre 1998 e 2000.

A tendência mantém-se e a letalidade intra-hospitalar por Pneumonia Adquirida na Comunidade subiu para os 20% na última década. Morrem, diariamente, nos hospitais, 16 adultos internados com o diagnóstico principal de Pneumonia da Adquirida na Comunidade. Verificam-se óbitos em todos os grupos etários, mesmo em indivíduos jovens e previamente saudáveis. O risco relativo de falecer no decurso do internamento aumenta 4,4 vezes depois dos 50 anos de idade.

A média das idades dos falecidos é de 79,8 anos, 78 nos homens e 82,1 nas mulheres. 97,4% tem idade igual ou superior a 50 anos, 91,7% igual ou superior a 65 e 76,6% tem, no mínimo, 75 anos.

1Shrestha S, et al. Identifying the interaction between infl uenza and pneumococcal pneumonia using incidence data. Sci Transl Med 2013. 5(191):191ra84.

Fonte: 
Multicom
Nota: 
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