A experiência da mobilidade internacional
No período de 9 de Setembro a 22 de Novembro do ano de 2014, enquanto estudante do curso de licenciatura em enfermagem, tive oportunidade de realizar o programa de mobilidade internacional - ERASMUS. Sempre foi algo que planeei no decorrer do meu percurso académico, quer pela experiência pessoal quer pelo enriquecimento curricular e formativo na construção da minha identidade profissional. Parti nesta aventura acompanhado de seis colegas que, à minha semelhança, iriam realizar ensino clínico na área de cuidados de saúde primários/diferenciados. Na bagagem carreguei a saudade, fomentada pela ansiedade e medo face à incerteza do sucesso deste desafio.
A cidade que me acolheu - “Capital da Catalunha” - é atração de muitos turistas que se pretendem deslumbrar com a arquitectura de Gaudí, provar as suas saborosas “tapas”, banhar-se nas calmas praias Mediterrâneas, ou mesmo, assistir a um jogo de futebol no mágico Camp Nou: falo, está claro, da cidade de Barcelona.
As 10 semanas seguintes foram passadas no Centre d´Atenció Primària Sagrada Familia, uma unidade prestadora de cuidados de saúde primários numa zona com uma população de elevado nível socioeconómico. Neste percurso, acompanhei o trabalho de toda a equipa multiprofissional daquela instituição, que, na minha opinião, desenvolve um trabalho em equipa distinto, onde existe envolvimento de todos os profissionais respeitando cada um as competências dos demais.
A proximidade que mantinha com a comunidade através das visitas domiciliárias facilitou significativamente a possibilidade de conhecer os seus contextos culturais, sociais, políticos e económicos e até as rotinas quotidianas tão características desta população.
A grande barreira e o grande desafio enquanto estudante de enfermagem e que, neste contexto, seria colocada à prova foi a Comunicação (aquela que, pessoalmente, considero ser a principal ferramenta de trabalho do enfermeiro). Como é que o enfermeiro cuida quando é colocado num contexto idiomático que não domina otimamente? Embora tivesse concluído algumas formações em castelhano, senti nas primeiras semanas alguma dificuldade a esse nível, quer ao nível da comunicação com os utentes quer ao nível da integração na unidade de saúde, uma vez que o idioma mais usado na Catalunha é o catalão, do qual não possuía qualquer domínio. Com o decorrer das semanas, a ajuda e compreensão da equipa que me acompanhava, assim como a autoformação desenvolvida, foram essenciais para suprir esta dificuldade que com o passar do tempo se atenuou, permitindo-me aproveitar eficazmente as diversas oportunidades de aprendizagem que foram surgindo.
A prática de enfermagem em Espanha assemelha-se em parte àquilo que eu, enquanto estudante vivencio em Portugal, no âmbito dos cuidados de saúde de nível primário. O enfermeiro apresenta um papel fundamental ao nível de prevenção e promoção de hábitos de saúde.
De volta a Portugal, sinto-me realizado com esta experiência de mobilidade, que aconselho a todos os colegas. Atrevo-me a dizer que um dia voltarei à fantástica Barcelona para recordar todos os momentos vivenciados num tão curto espaço de tempo (3 meses), onde deixo também a saudade das aventuras academicamente experienciadas. Com a certeza que o contexto sociocultural que experienciei me permitiu ter uma visão mais alargada enquanto pessoa, o que se traduzirá na minha concepção do cuidar da pessoa consoante o seu contexto.
Ricardo António Pinheiro Melo - Estudante do CLE na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (4º Ano)