Opinião

Estratégias para a redução das doenças cardiovasculares nas pessoas com diabetes

Atualizado: 
20/09/2018 - 10:15
A Diabetes é uma doença crónica com uma elevada e crescente prevalência na população mundial. Os dados do Observatório da Diabetes em Portugal demonstram que o nosso país não é exceção, com um aumento da prevalência de 11,7% para 13,3% de 2008 para 2015 em pessoas entre os 20 e os 79 anos. É uma doença responsável por custos económicos muito elevados para a sociedade em geral, tendo em 2015 correspondido a 8-10% da despesa total em Saúde.

Os níveis cronicamente elevados da glicose no sangue atingem os pequenos vasos sanguíneos, podendo causar complicações crónicas como a cegueira, insuficiência renal e redução da sensibilidade dos pés, gerando uma grave incapacidade. São, contudo, as complicações resultantes do atingimento do território dos grandes vasos por arteriosclerose precoce que mais contribuem para a elevada mortalidade, ocorrendo 2 a 4 vezes com maior frequência em pessoas com diabetes. Esta arteriosclerose precoce é causada não só pelos valores elevados da glicose no sangue, mas também pela hipertensão arterial e aumento dos níveis do colesterol e triglicerídeos presentes nas pessoas com diabetes, muitas vezes com obesidade ou excesso de peso.

As doenças cardiovasculares que mais afetam as pessoas com diabetes são o enfarte do miocárdio, o acidente vascular cerebral e a doença vascular periférica dos membros inferiores que, quando não são fatais na sua forma de apresentação, causam também grande incapacidade como a insuficiência cardíaca, a perda da capacidade de deambulação por paralisia de um dos lados do corpo ou por amputação de um membro inferior.

A terapêutica medicamentosa da diabetes tem evoluído no sentido de encontrar medicamentos que consigam obter outros benefícios como a redução do peso e da pressão arterial, para além da redução dos níveis da glicose, sem causar hipoglicemias. Os estudos de evidência publicados nos últimos anos têm demonstrado que as últimas classes de antidiabéticos têm acrescentado valor às armas terapêuticas disponíveis, demonstrando eficácia na redução de acidentes cardiovasculares em doentes com eventos cardiovasculares prévios ou com fatores de risco para a sua ocorrência.

Fruto da sustentabilidade da evidência recente, foram  publicadas as novas diretrizes da Associação Americada de Diabetes (ADA), “Standards of Medical Care in Diabetes – 2018”, que recomendam que em pessoas com diabetes tipo 2 e doença cardiovascular aterosclerótica estabelecida, cuja terapêutica inicial incluía alterações do estilo de vida e o tratamento com metformina, pode-se associar um medicamento que tenha demonstrado reduzir eventos cardiovasculares graves e mortalidade cardiovascular, como são os casos da empagliflozina, e liraglutido.

Este último medicamento posiciona-se como um excelente fármaco para o tratamento de pessoas com diabetes tipo 2, em associação com outros antidiabéticos orais ou insulina, uma vez que, para além de possuir eficácia relevante no controlo da diabetes, com redução do peso e da pressão arterial, demonstrou reduzir significativamente o risco de eventos cardiovasculares globais em 13% e, em 22%, o risco de morte cardiovascular neste grupo de doentes.

Para além dos benefícios cardiovasculares, a exposição a este medicamento, também atrasou a progressão da doença renal, fator de risco independente de doença cardiovascular, potenciando o seu efeito protetor do aparecimento de novos eventos cardiovasculares.

Este medicamento é atualmente o pioneiro na sua classe a demonstrar benefícios cardiovasculares, encontrando-se amplamente justificada a sua prescrição num determinado perfil de pessoas com diabetes tipo 2, devidamente orientadas pelo seu médico assistente.  

 

Autor: 
Dr. Jorge Dores - Endocrinologista Centro Hospitalar do Porto
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Hill+Knowlton Strategies Portugal