Dia Europeu da Disfunção Erétil

Disfunção Erétil atinge metade dos portugueses entre os 40 e os 70 anos

Atualizado: 
14/02/2023 - 14:50
Para assinalar o Dia Europeu da Disfunção Erétil, Pepe Cardoso, urologista e andrologista, escreve sobre o tema defendendo que “é importante sensibilizar os doentes a procurar ajuda e motivar os profissionais de saúde para a avaliação da saúde sexual dos seus doentes”.

No âmbito do dia Europeu da Disfunção Erétil, que se assinala a 14 de Fevereiro e coincidente com o Dia de São Valentim – Dia dos Namorados, é importante a sensibilização para um problema que afeta 10% dos homens portugueses… Com 52% dos casos na faixa etária dos 40 aos 70 anos de idade. Problema que ainda é “tabu” para a maioria, mas que se identificado/diagnosticado é tratável na maioria das situações, possibilitando uma vida sexual saudável, com reflexos positivos em várias dimensões, incluindo a económica… É que está hoje provado que um indivíduo saudável - conceito onde se inclui a saúde sexual - é mais produtivo e contribui para um melhor ambiente relacional, quer socio-profissional quer familiar.

É importante e urgente melhorar o acesso a cuidados de saúde sexual no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, os quais são escassos, assim como implementar a comparticipação, atualmente quase inexistente, de exames e tratamentos (medicamentosos ou cirúrgicos) de modo a permitir cuidados mais abrangentes uma vez que no regime privado estes são proibitivos para a maioria da população masculina que sofre de disfunção erétil.

É importante desmitificar o tabu associado a esta patologia e ao termo impotência que em termos psicológicos é agressivo e deve ser substituído por um termo mais suave - disfunção eréctil – independentemente da sua severidade e com a informação de que esta pode ter solução

No que concerne á abordagem terapêutica é essencial à alteração de hábitos, sejam eles alimentares, tabágicos, consumo de álcool, consumo de drogas recreativas, sedentarismo ou ainda medicamentosos. E aqui convém salientar que temos uma população hipermedicada, com patologias e terapêuticas que muitas vezes afetam o desempenho sexual… A obesidade, a diabetes, a dislipidémia, as doenças cardio-vasculares, a hipertensão… Em muitos casos somente a mudança de hábitos e um bom controlo das co-morbilidades permite corrigir uma disfunção erétil ligeira ou moderada.

Uma chamada de atenção para a disfunção eréctil como sinal preditor da existência de patologia cardíaca, sendo que a doença cardiovascular integra um conjunto de patologias que surgem associadas à disfunção erétil… São vários os estudos que têm demonstrado que a disfunção eréctil e as doenças cardio-vascular têm fatores comuns sendo esta por si só um marcador de risco ou de doença cardíaca. Tendo em conta esta constatação, todo o doente ao qual for identificada uma disfunção erétil, deve ser avaliado quanto ao risco cardíaco, sendo extremamente importante esta avaliação já que permite identificar doenças cardíacas ainda em fase “insipiente” e assim tratá-las precocemente prevenindo a progressão para estádios mais graves.

A procura de ajuda para a resolução deste problema assim como a oferta desta ainda não é a desejável pois a falta de informação ou a vergonha são fatores impeditivos, sendo importante passar a mensagem de que este problema tem solução. Normalmente a pessoa afetada evita expor-se, procurando informação na internet onde encontra de tudo, do melhor ao pior, inclusive medicamentos à venda, na maioria dos casos falsificados e que podem pôr em risco a sua saúde. Em todo o caso importa dizer que pese a persistência do “tabu”, o número de homens que recorre a consultas especializadas tem vindo a aumentar.

É importante sensibilizar os doentes a procurar ajuda e motivar os profissionais de saúde para a avaliação da saúde sexual dos seus doentes. Para que isto aconteça é necessário que a informação chegue aos doentes, quer através de ações de sensibilização/informação, em que as Sociedades Cientificas devem ter um papel fundamental, quer através dos Media com a cobertura e divulgação destas. Por outro lado é necessário que o médico, para além de estar sensibilizado para a saúde sexual, tenha disponibilidade de tempo que lhe permita acrescentar às muitas questões que tem de colocar na consulta, as questões inerentes a avaliação da saúde sexual. E é aqui que as coisas falham: o médico tem o seu tempo de consulta espartilhado por números, e indicadores, uma limitação difícil de ultrapassar e a qual se soma o próprio problema, já que a sua abordagem facilmente ocupa, por si só, o tempo de uma consulta.

No tratamento de “primeira linha”, além das medidas gerais mencionadas atrás, mantêm-se as orais com os inibidores da fosfodiesterase tipo 5. Neste grupo dispomos hoje de quatro medicamentos, que nos permitem ajustar a terapêutica ao perfil de cada doente. Temos ainda terapêuticas indicadas em situações pontuais, às quais se recorre tendo em conta a medicação que o doente está a fazer para tratamento ou controlo de co-morbilidades. É o caso, por exemplo, de patologias como a hiperprolactinémia, o hipogonadismo e do hipo/hipertiroidismo, tratadas com recurso a terapêuticas hormonais.

Numa “segunda linha” temos as drogas injetáveis ou de administração tópica intra-uretral (comprimido ou creme) e os dispositivos de ereção por vácuo, os quais são pouco utilizados porque são incómodos e pouco práticos, o que resulta numa reduzida adesão por parte dos doentes.

Esgotados estes recursos, temos ainda a possibilidade de recorrer à cirurgia de implante de prótese peniana (maleável ou hidráulica), utilizadas apenas em “fim de linha”.

A.J. Pepe Cardoso
Urologista/Andrologista
Serviço de Urologia, Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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