Hoje é Dia Mundial do Rim

“Devia haver um dia mundial do rim esquerdo e um dia mundial do rim direito”

Atualizado: 
13/03/2014 - 13:00
Existem em Portugal cerca de 800 mil pessoas que sofrem de doença renal crónica, prevendo-se que os números venham a aumentar. Para dar a conhecer o problema assinala-se anualmente o Dia do Rim.

Assinala-se hoje o Dia Mundial do Rim. Uma efeméride que pretende “fundamentalmente para dar a conhecer o problema”, diz ao Atlas da Saúde Fernando Neves, nefrologista. Este ano a data é dedicada ao tema ‘A Doença Renal Crónica e o Envelhecimento’, porque “o envelhecimento da população é uma realidade, a doença renal ‘oculta’, porque não dá dores, é subavaliada e quando se torna clinicamente relevante, a maior parte das vezes, está irreversivelmente instalada sendo então de evolução inexorável para a sua fase terminal, em que pouco mais há a fazer do que ‘controlar os danos’”, acrescenta o especialista, também membro da Sociedade Portuguesa de Nefrologia.

O facto de haver um dia dedicado a esta temática é na opinião do especialista mais que propositado, inclusive Fernando Neves considera que, “a problemática é de tal ordem, prevendo-se o seu agravamento, que devia haver um dia mundial do rim direito e outro dia mundial do rim esquerdo”.

Mas para além da gravidade da doença, convém salientar que são muitas as dificuldades pelas quais os insuficientes renais crónicos em idade activa passam. Nomeadamente, esclarece Fernando Neves, “o estigma social, a descriminação na hora de obter emprego, pedir empréstimos, fazer seguros”, para além “do cansaço, da depressão, etc.”. “Imagine-se, por um breve instante, dependente de uma máquina!”, alerta o especialista.

Para este Dia Mundial do Rim, Fernando Neves deixa uma mensagem: “Vale a pena não cometer excessos, que gordura não é formosura, que a piada de o diabético ser muito doce…não tem piada nenhuma. Que os pais se devem preocupar com a alimentação dos filhos e com o exemplo que dão. Que o Estado não deveria ganhar dinheiro com as máquinas de venda de comida hipercalórica, de chocolates, alto teor em gorduras e sal… particularmente em hospitais e escolas! Que as populações deveriam ter acesso a consultas nos centros de saúde, para informação, aconselhamento e rastreio. Para que deixasse de ser necessário a existência do dia mundial do rim. Do direito e do esquerdo”.

 

 

A Doença Renal

Segundo o nefrologista esta é uma doença que arrastou para a Terapêutica Substitutiva da Função Renal (TSFR) mais de 17.500 portugueses - número de doentes actualmente em tratamento - com todas as consequências clínicas, sociais e económicas.

“A Diabetes, a Hipertensão Arterial, a obesidade, hábitos dietéticos errados com o consumo de gorduras e açúcares desregulados” são os principais factores de risco para desenvolver falência renal. Por outro lado, acrescenta o nefrologista, “o abuso do sal, o tabagismo, o abuso de medicamentos de grande consumo como são os anti-inflamatórios não esteroides, mais requisitados pelos idosos, onde se regista com elevada prevalência patologia osteo-articular (as atroses)”.

 

Tratamento

O tratamento da Doença Renal Crónica passa pela diálise e pelo transplante “para os casos em que se avance para a substituição da função renal”, refere Fernando Neves, acrescentando que, “outros casos há em que as medidas terapêuticas são menos invasivas, particularmente nas situações de outras doenças terminais, tumores malignos disseminados ou estados de demência”.

A diálise é – das duas práticas – a mais prevalente, sendo que a hemodiálise é mais praticada do que a dialise peritoneal. Na opinião do especialista porque “foi a primeira, porque está acessível em todo o país, porque exige menos responsabilidade ao doente e muitos deles são idosos com algum grau de dependência, porque há um investimento muito forte, com unidades de diálise de grande qualidade, que deverão ser rentabilizadas, porque a dialise peritoneal está concentrada nas grandes cidades e os doentes de outras zonas necessitariam de grandes deslocações, etc. Mas sobretudo porque a hemodiálise em Portugal tem resultados de grande qualidade merecendo a plena confiança dos doentes e profissionais de saúde”.

 

Dados do Registo da Doença Renal Crónica da Sociedade Portuguesa de Nefrologia

Segundo os Dados do Registo da Doença Renal Crónica da Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN), tem-se assistido nos últimos anos a um aumento da prevalência da doença renal na população com mais de 65 anos. Neste sentido, é necessária uma maior vigilância junto da população mais envelhecida de forma a detectar o mais precocemente possível estas doenças. Mas Fernando Neves esclarece que “muito raramente o diagnóstico é precoce, sobretudo, nas doenças mais graves, com sintomas bem evidentes, pois aí existe a possibilidade de se procurar a causa, tão cedo quanto possível, do que os está a provocar”. Contudo, o facto de muitos portugueses não terem médico de família atribuído ajuda a que os doentes não sejam atempadamente detectados e tratados.

Ainda segundo os dados da SPN, estima-se que existam em Portugal cerca de 800 mil pessoas que sofrem de doença renal crónica e todos os anos surgem mais de 2 mil novos casos de doentes em falência renal.

Existem actualmente cerca de 16 mil doentes em tratamento substitutivo da função renal (cerca de 2/3 em diálise e 1/3 já transplantados), e cerca 2 mil aguardam em lista de espera a possibilidade de um transplante renal.

De salientar que os dados estatísticos conhecidos são anualmente recolhidos, analisados e tratados pela SPN à sua inteira custa com “a colaboração de todo o grupo nefrológico, obtendo uma adesão de próxima dos 100% de respostas por parte das unidades de diálise e transplantação do país. É um trabalho insano por parte dos colegas envolvidos neste processo, cujos resultados são facultados às Autoridades de Saúde nacionais sem qualquer contrapartida”.

Autor: 
Célia Figueiredo
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.