Entender a depressão

Depressão afeta mais mulheres mas homens cometem mais suicídio

Atualizado: 
27/07/2018 - 17:24
De acordo com a Organização Mundial de Saúde mais de 350 milhões de pessoas sofrem de depressão em todo o mundo. Estima-se, ainda, que os episódios de depressão afetem mais as mulheres do que os homens. No entanto, são eles os que mais comentem suicídio. Neste artigo, o psiquiatra Diogo Telles Correia ajuda-nos a entender a doença.

Estima-se que, em cada ano, cerca de sete por cento da população sofra de depressão e que ocorram mais de mil mortes por suicídio, em Portugal. Os dados da Aliança Europeia contra a Depressão revelam ainda que este é o país com a maior taxa de incidência da Europa. Números alarmantes se tivermos em conta que muitos casos estão subdiagnosticados.

“Pensa-se que a prevalência da depressão possa chegar aos 15 por cento ao longo de toda a vida. Ou seja, existe cerca de 15 por cento de probabilidade que qualquer um de nós experimente uma depressão ao longo da vida”, começa por explicar o psiquiatra Diogo Telles Correia, autor de “A Vida num degrau: histórias reais de quem venceu a depressão”, um livro que surge como uma fonte de esperança e inspiração para aqueles que sofrem da doença.

“A depressão é um estado mental em que estão presentes uma tristeza desproporcionada, uma dificuldade em ter prazer pelo que antes era prazeroso, falta de energia, dificuldade em dormir e, em casos mais graves, ideias de suicídio”, explica o especialista, acrescentado que o principal sinal de alerta é o sentimento de tristeza e desânimo que se mantém ao longo do tempo. “Quando sentimos que a nossa vida social e profissional está afetada por um período prolongado de tristeza e desânimo, estamos provavelmente perante uma depressão”, refere.

De acordo com o vice-presidente da Associação Portuguesa de Psicopatologia, na depressão a tristeza é geralmente mais intensa mas sobretudo desproporcional em relação aos acontecimentos. “Por exemplo, é normal ficarmos tristes com a morte de um ente querido. Mas já pode ser problemático se esse estado durar muito tempo e se perturbar prolongadamente a nossa atividade profissional e social”, explica.

Por isso, embora possa ser desvalorizada, a depressão quando avaliada por especialista experiente, é fácil de diagnosticar. “Quando se suspeita que se tem uma depressão deve-se ir ao médico psiquiatra para ele fazer o diagnóstico, diferenciar a situação de situações médicas (por exemplo, alterações hormonais) e depois encaminhar o tratamento”, adverte Diogo Telles Correia.

Embora não se conheçam “com toda a certeza” as causas da depressão “aceita-se, no entanto, que estas possam se biológicas (a informação genética que herdamos dos pais) e ambientais (as situações de vida por que vamos passando) e de uma interação entre estes dois fatores”.

Entre os fatores de risco, o psiquiatra, destaca uma infância problemática, “nomeadamente a nível relacional com os pais, bullying na infância”  e fatores precipitantes no trabalho ou nas relações amorosas.

“Os problemas de personalidade (pertubações de personalidade) podem aumentar a predisposição a depressões, porque aumentam os conflitos entre o indíviduo e o meio exterior”, acrescenta.

Quanto à sua classificação, tal como explica o especialista, a depressão pode ser classificada de endógena – “com aparente predominância de fatores biológicos” – ou reativa (provocada por fatores ambientais).

“No livro «A Vida num Degrau» estão apresentados quatro casos de depressão, baseados em histórias verídicas. Em dois dos casos, devido à predominância dos fatores endógenos, a depressão pode chamar-se do tipo endógeno (depressão crónica e depressão bipolar), nos outros dois do tipo reativo (depressão reativa a um problema amoroso, e reação secundária a mobbing no trabalho)”, enumera.

Por outro lado, a depressão pode ser classificada de acordo com a frequência com  que surgem os episódios depressivos como depressão crónica, depressão recorrente ou episódio único.

“Na depressão crónica não há propriamente um período em que os sintomas desapareçam por completo” enquanto que na depressão recorrente “há períodos sem sintomas mas intercalados com períodos de recorrência”.

Embora exista sempre forma de tratar a depressão, mesmo em casos mais graves e resistentes, existe uma grande probabilidade de se voltar a experimentar um episódio depressivo. “Na maioria dos casos a depressão é recorrente, com períodos intercalados por períodos assintomáticos”, revela Diogo Telles Correia.

O tratamento da doença pode incluir farmacoterapia e psicoterapia. “Quando o diagnóstico é feito por um médico psiquiatra é este que planeia o seu tratamento”, diz.  De acordo com este especialista, hoje em dia os antidepressivos são bem tolerados e apresentam poucos efeitos secundários.

No entanto, admite que o tratamento farmacológico nem sempre é necessário. Dos quatro casos que refere no seu livro, o especialista revela que “num deles não foi necessário medicação, noutro foi necessário durante um curto espaço de tempo e noutro por tempo mais prolongado.” “Em todas as situações o tratamento foi adequado à situação e cursou com eficácia”, explica.

Quanto à psicoterapia, que consiste num tratamento não farmacológico, esta só pode ser realizada por psiquiatras ou psicólogos com formação específica em psicoterapia. “Psiquiatras ou psicólogos sem uma pós-graduação em psicoterapia reconhecida pelas sociedades internacionais de psicoterapia não estão habilitados para fazer psicoterapia”, chama à atenção.

Tratando-se de um tratamento psicológico, nela são avaliados “quais os fatores de personalidade do paciente que podem estar na base de uma maior tendência para se deprimir, e é estimulada uma forma mais saudável de lidar com o mundo” que na depressão está inibida.

Em último caso, e em situações muito graves, pode ser necessário o recurso ao tratamento electroconvulsivo, que consiste numa leve descarga eléctrica aplicada no cérebro. “Este tratamento é feito sob anestesia pelo que o doente não sente nada nem sofre convulsões (abanões)”, adianta o psiquiatra. 

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay