Dia Mundial do Linfoma

Casos de Linfoma têm vindo a aumentar

Atualizado: 
15/09/2016 - 12:20
Hoje assinala-se o dia Mundial do Linfoma, uma doença que tem vindo a aumentar nas últimas décadas mas que, de acordo com a Agência Internacional de Investigação do Cancro (IARC), continua a representar apenas 1% dos casos de cancro em todo o mundo, apresentando uma taxa de sobrevivência próxima dos 90 por cento. Para compreendermos melhor o Linfoma, Daniela Alves, Interna do serviço de Hematologia do Hospital Lusíadas, em Lisboa, fala-nos dos sintomas, da incidência e do seu tratamento.

O linfoma é uma doença maligna que afecta os linfócitos, que são um subtipo de glóbulos brancos.

Os linfócitos têm como função a montagem e regulação da resposta imunitária contra microrganismos tais como vírus, estando ainda implicados na produção de anticorpos que nos protegem das infecções, sendo também a base das doenças ditas auto-imunes.

Os linfócitos são glóbulos brancos muito versáteis que adquirem um grande leque de funções, dependendo da sua localização. Uns são essenciais para a produção de anticorpos (linfocitos B), enquanto que outros destroem as células que são infectadas por vírus, por exemplo (linfócitos T). Sendo que, dentro destes dois subgrupos, existem múltiplos subtipos de linfócitos B e T. Habitualmente os Linfomas T têm pior resposta aos tratamentos que os Linfomas B.

Os linfócitos habitualmente  encontram-se nos gânglios linfáticos, no sangue e no baço. Podem ainda ser encontrados em menor número noutros órgãos, tais como o estômago, intestino ou amígdalas, entre outros.

Assim, os linfomas habitualmente afectam os compartimentos onde habitualmente se encontram os linfócitos. Sendo este um “tumor liquido”, este tipo de doença pode-se encontrar em vários sítios ao mesmo tempo, sem que isso signifique a presença de metástases.

Dependendo do subtipo de linfócitos e da sua localização assim se classificam, de forma diferencial, os linfomas.

Os sintomas associados a esta patologia dependem do subtipo específico de linfoma e da sua localização. Existem depois sintomas que podem surgir de forma transversal a todos os tipo de linfomas: o cansaço, a falta de apetite, a perda de peso, os suores nocturnos e a febre esporádica que, frequentemente, surge durante a tarde/noite.

Dependendo da localização, os doentes podem notar o aparecimento de gânglios aumentados ou podem vir a desenvolver anemia.

Conhecem-se alguns factores de risco para o aparecimento de linfoma, estando estes relacionados com situações clínicas que possam estar a desregular o sistema imunitário no geral. Assim os indivíduos que, por qualquer motivo, estejam sob medicação que suprima o sistema imunitário estão sob maior risco de desenvolver este tipo de patologia oncológica (doentes transplantados, doentes com patologia auto-imune). Da mesma forma algumas doenças congénitas, que se definem por alguma deficiência imunitária, têm um risco acrescido de desenvolver linfoma.

A primeira grande divergência do ponto de vista diagnóstico está entre o Linfoma de Hodgkin e o Linfoma Não Hodgkin.

O linfoma de Hodgkin é caracterizado pela presença de linfócitos malignos (chamados de células de Reed-Sternberg), que provocam uma reacção inflamatória desmesurada em seu redor ao desregular a resposta imunitária das células normais.

Assim, o tratamento do Linfoma de Hodgkin é muito específico e diferente dos outros tipos de linfoma. Salvo algumas excepções, o linfoma de Hodgkin tem melhor prognóstico, sendo muito sensível à quimioterapia e à radioterapia.

Este tipo de linfoma é mais comum no adulto jovem, tendo posteriormente outro pico de incidência no idoso, sendo que nesta faixa etária é mais difícil de obter remissão.

O Linfoma Não Hodgkin (LNH) é constituído por um grupo muito grande e heterogéneo de doenças. A classificação dos LNH tem vindo a ser optimizada ao longo dos anos, baseando-se em descobertas do ponto de vista molecular, que diferenciam os linfomas não só do ponto de vista de morfologia das células, mas também de prognóstico, levando a uma tentativa de realizar um tratamento diferencial.

De uma forma mais generalista, podemos classificar os LNH em linfomas indolentes (considerados de evolução mais lenta e crónicos) e os linfomas agressivos (de evolução mais aguda, mas que são curáveis).

São exemplos de linfomas indolentes o Linfoma Folicular, o Linfoma Linfoplasmocítico, os Linfomas de MALT (das mucosas do estômago, intestino, pulmão, entre outros), o Linfoma Esplénico (do baço) e algusn linfomas T cutâneos.

São exemplos de Linfomas Agressivos o Linfoma de Burkitt, Linfoma Difuso de Grandes Células B, Linfoma T Periférico, Linfoma Anaplásico, Linfoma do Manto.

Os linfomas indolentes são doenças que se desenvolvem de forma mais lenta e cujas células são mais lentas a dividirem-se. Por esse motivo, quando tratados com esquemas de quimioterapia, embora se consiga atingir boas respostas com desaparecimento dos gânglios aumentados ou outras massas, não se consegue erradicar a doença na totalidade, que eventualmente, ao longo do tempo se volta a manifestar.

Assim, o objectivo do tratamento deste tipo de linfomas passa por só tratar quando a doença preenche critérios para tal, ou seja,  quando esta começa a provocar sintomas (gânglios muito aumentados, anemia, suores, febre, infecções de repetição). Isso permite tratar só quando é preciso, não infligindo demasiada toxicidade secundária à quimioterapia de forma precoce, tentando atingir respostas muito profundas, que permitam os doentes estarem sem tratamento durante um período mais longo possível. Quando a doença voltar a necessitar, é novamente tratada.

Este tipo de linfomas tem então uma evolução por paroxismos, alternando entre períodos em são sintomáticos e que têm que ser tratados e períodos em que estão senescentes (adormecidos).

Os linfomas agressivos, sendo linfomas mais sensíveis à quimioterapia, surgem de uma forma mais explosiva, necessitando rapidamente de iniciar tratamento. A resposta ao tratamento é mais rápida, sendo o objectivo deste a erradicação total da doença e consequente cura.

Assim sendo, a recaída de um linfoma agressivo tem um significado prognóstico muito mais desfavorável que a recaída de um linfoma indolente (que é espectável). Assim, se um linfoma agressivo recidiva, significa que não foi atingida a cura e os tratamentos subsequentes têm que incluir tratamentos de quimioterapia de alta dose e eventual transplante (nos doentes jovens).

Os tratamentos de quimioterapia, com associação ou não de radioterapia,  são frequentemente semelhantes e transversais entre linfomas agressivos e indolentes, tirando algumas excepções. De referir que frequentemente se usam esquemas de quimioterapia combinados com imunoterapia (medicamentos que são anticorpos que actuam especificamente contra moléculas presentes nas células de linfoma). A grande maioria das pessoas com linfoma conseguem manter-se sob tratamento em ambulatório.

Actualmente, havendo um maior conhecimento dos mecanismos de desenvolvimento dos linfomas a nível genético e molecular, vão também sendo desenvolvidos novos fármacos, o que abre uma janela a tratamentos inovadores, mais específicos e que trazem uma esperança aos doentes que tenham linfomas resistentes à quimioterapia.

Autor: 
Daniela Alves - Interna de Hematologia Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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