15 a 21 de Setembro - Semana das Doenças da Próstata

“Cada vez mais portugueses recorrem ao seu médico por causa de doenças da próstata”

Atualizado: 
12/09/2014 - 15:09
A Associação Portuguesa de Urologia celebra a Semana das Doenças da Próstata com uma mensagem de alerta para todos os homens acima dos 45 anos. A vigilância médica periódica é essencial para despistar estas doenças.

De 15 a 21 de Setembro a Associação Portuguesa de Urologia (APU) celebra a Semana das Doenças da Próstata com o principal objectivo de alertar todos os homens acima dos 45 anos da importância de uma vigilância médica periódica essencial para despistar estas doenças.

Esta semana insere-se na semana europeia de divulgação de informação relativa a doenças urológicas. “Os principais objectivos são informar e promover uma discussão aberta entre urologistas, médicos de família e público em geral sobre este tema”, conta Miguel Ramos, urologista e membro da Associação Portuguesa de Urologia.

Pretende-se durante esta semana divulgar informação nos meios de comunicação social e no portal da Associação Portuguesa de Urologia – www.apurologia.pt – como forma de também ajudar a desmistificar alguns preconceitos que ainda comportam estas doenças. Para além disso, durante esta semana “alguns hospitais promovem dias de consulta aberta”.

Na opinião do especialista “cada vez mais portugueses recorrem ao seu médico por causa de doenças da próstata. Há inclusive, em Portugal, dados que sugerem uma diminuição da mortalidade por cancro da próstata por uma melhoria no diagnóstico precoce”. Contudo, há ainda o reverso da medalha e alguns homens têm receio do impacto que a doença ou os tratamentos possam ter na actividade sexual. “Na realidade os tratamentos para a Hipertrofia Benigna da Próstata (HBP) têm um efeito mínimo na actividade sexual e alguns podem até ter um efeito benéfico”, alerta o urologista sublinhando que, os tratamentos para o cancro da próstata podem ter um impacto negativo, mas cada vez menor na função sexual.

É sobre essa área que os homens mais temem que as doenças da próstata os afectem. Tal como explica Joaquim da Cruz Domingos, doente com carcinoma da próstata, “continua a haver preconceito porque a próstata está muito ligada na mente do homem à masculinidade, impotência, incontinência, etc. É comum os homens não falarem deste assunto nem a familiares ou amigos/as. Mas este preconceito está lentamente a mudar”.

As doenças mais prevalentes
A prostatite, a Hipertrofia Benigna da Próstata (HBP) e o cancro da próstata são os tipos de doença da próstata mais frequentes, sendo que conforme explica Miguel Ramos, “as mais frequentes são as duas últimas, cuja prevalência aumenta com a idade”. Também a incidência da HBP e do carcinoma tem sido maior nas últimas décadas, devido não só ao aumento da esperança média de vida, mas porventura também devido às alterações dos hábitos alimentares e pelos novos métodos de diagnóstico.

Embora o cancro da próstata seja usualmente a doença mais falada, a HBP é a doença prostática mais frequente, dando origem a cerca de 10 mil cirurgias por ano e atingindo metade dos portugueses com 60 anos e 90% com 80 anos.

“A HBP é muito prevalente, cerca de um quarto dos homens na sexta década de vida e cerca de um terço dos homens com mais de 70 anos, têm sintomas urinários relacionados com a HBP. Se olharmos apenas para o volume da próstata a prevalência é ainda maior cerca de 60% aos 60 anos e de 80% aos 80 anos”, explica Miguel Ramos sublinhando que, apesar de benigna pode causar sintomas urinários importantes com um grande impacto na qualidade de vida dos doentes.

“O cancro da próstata é o tumor visceral mais comum no homem. A incidência deste tumor varia muito de país para país por causa das diferentes políticas de rastreio e por questões étnicas, mas ronda os 150 novos casos por 100 000 habitantes/ ano nos EUA e na Europa”, refere o especialista, acrescentando que a probabilidade de um homem vir a ter um cancro da próstata diagnosticado ao longo da vida é cerca de 15%.

Joaquim da Cruz Domingos conta que quando o médico o informou do diagnóstico, reagiu com muita preocupação. “A partir daí, a próstata, o cancro, os exames, as intervenções, etc. passaram a ter um papel relevante no meu dia-a-dia”. Há 15 anos acompanhado pelo mesmo especialista, “em 2012 o urologista achou necessário repetir alguns exames e pedir uma biopsia. Confirmou-se assim a existência de um carcinoma na próstata”, conta Joaquim.

É nessa medida que um dos objectivos da Semana das Doenças da Próstata é alertar os homens para não ficarem à espera que surjam os sintomas – por exemplo dificuldade em urinar ou retenção urinária - para procurarem o seu médico. Devem fazer uma vigilância médica periódica, essencial para despistar o cancro, pois apesar de ser a segunda causa de morte por cancro no homem nos países ocidentais, a sua possibilidade de cura é de 85% quando detectado precocemente. Em Portugal, segundo os dados estatísticos disponíveis, o cancro da próstata atinge anualmente 3.500 a 4 mil portugueses, sendo que 1800 acabam por morrer.

O quotidiano de Joaquim alterou-se essencialmente porque “agora está sempre presente no meu espírito a preocupação pelo evoluir da doença, a expectativa pelo resultado das intervenções médicas feitas, medo do que venha pela frente seja ainda pior. Aquilo de que gostava antes mantém-se, mas a tranquilidade e gosto pela vida diminuíram”.

Causas e diagnóstico
Segundo explicou Miguel Ramos ao Atlas da Saúde, “as causas do cancro da próstata não são conhecidas, mas sabe-se que o factor hereditariedade e idade têm um grande peso”.

O diagnóstico, diz o especialista, “pode ser feito com o doseamento do PSA (antigénio específico da próstata), uma análise ao sangue que doseia uma substância libertada pela próstata para a corrente sanguínea. A subida deste valor levanta a suspeita da doença, devendo ser complementada com o exame do toque rectal”.

Quanto ao cancro da próstata, não estão definidas estratégias de prevenção, mas sim de diagnóstico precoce. O urologista explica que “o rastreio provou diminuir a incidência de cancro da próstata avançado e a mortalidade por cancro na próstata, no entanto também envolve riscos que devem ser discutidos com o doente”.

Tratamento
Actualmente existem várias modalidades terapêuticas que podem curar o cancro da próstata localizado. Inclusive, “nas situações de carcinoma avançado, existem soluções terapêuticas que aumentam a sobrevida”. Pena é que, “existam algumas dificuldades no acesso a novos fármacos extremamente caros”, lamenta o especialista. Opinião corroborada por Joaquim da Cruz Domingos que sabe, por conversas com outros doentes que recorrem às unidades de saúde pública, que o acesso a cuidados de saúde “são mais difíceis e morosos”.

Em jeito de conclusão, Miguel Ramos refere que “os exames de rastreio do cancro da próstata são simples e deverão ser considerados em homens entre os 45 e os 70 anos. Os homens com familiares directos com carcinoma da próstata têm risco aumentado de o desenvolverem, por isso quando diagnosticado precocemente pode ser curado na grande maioria dos casos”.

Joaquim vê com muito interesse a existência de uma semana dedicada a estas doenças: “espero que a Comunicação Social mostre ainda mais as questões ligadas às doenças da próstata para levar os homens a acompanhar o estado de saúde da sua próstata regularmente todos os anos depois do 45 a 50 anos de idade”. 

Autor: 
Célia Figueiredo
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
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