Opinião

A Asma pode (e deve) ser Controlada

Atualizado: 
25/07/2018 - 10:06
Estima-se que a asma afecte cerca de 700 mil de pessoas em Portugal e que, destas, 300 mil não têm a doença controlada. Pieira, tosse e sensação de opressão no tórax são os principais sintomas de uma patologia que pode condicionar, e muito, a qualidade de vida do doente.

A asma é definida como uma “doença” das vias aéreas, caracterizada por uma inflamação crónica que determina a sua obstrução, e se manifesta por pieira (“chiadeira“ no peito) dificuldade em respirar, sensação de opressão ou peso torácico e tosse, sintomas que são variáveis no tempo e em intensidade.

Isto significa que em determinados momentos os doentes podem não ter qualquer sintoma, mas noutros eles poderão existir, induzidos por diversos factores, como a prática de exercício físico, a exposição a substâncias para as quais estão sensibilizados (alergénios) ou substâncias irritantes (como o fumo de tabaco, vapores de produtos de limpeza, por exemplo) ou, ainda, infecções, especialmente, a vírus.

Estes sintomas, que são uma consequência da inflamação das vias aéreas, fazem com que elas passem a reagir mais facilmente às agressões do meio ambiente, tendendo a encerrar-se para evitar a agressão, podem diminuir ou desaparecer espontaneamente (sobretudo nas fases iniciais do afecção) ou sob acção de medicação.

Por controlo da asma entende-se a ausência de sintomas, quer diurnos quer nocturnos, mesmo na presença dos diversos factores atrás enunciados. Ou seja, um doente com a sua asma controlada pode ter uma qualidade de vida e bem-estar como se da doença não padecesse. E esta situação pode ser obtida numa muito elevada percentagem de casos.

Existem medicamentos que actuam na inflamação, e outros que têm como acção controlar a obstrução. Muitas vezes é necessário fazê-los em conjunto. Deixamos um alerta: se é necessária medicação contínua nunca se deve fazer apenas um broncodilatador.

Existem outros tratamentos, como por exemplo as vacinas antialérgicas, para os casos em que estão indicadas. Deve, ainda ser efectuado o tratamento da rinite – se existente, da obesidade, e de outras comorbilidades.

O tratamento deve ser iniciado o mais cedo possível e, na maioria dos casos, tem que se prolongar por vários anos. De acordo com a evolução clínica de cada caso poderá variar na sua intensidade e duração.

Qual a dimensão deste problema de saúde pública?

Em 2010, por iniciativa da Comissão de Acompanhamento do Programa Nacional de Controlo da Asma (que coordenámos) foi efectuado um estudo no Continente português – o Inquérito Nacional de Controlo da Asma – cujos resultados, então publicados, nomeadamente no site da DGS, consideramos muito importantes.

Verificou-se que cerca de 43% dos doentes inquiridos não tinham a sua asma controlada, estimando-se, assim, que existiam cerca de 300.000 asmáticos não controlados.

Mas, talvez mais importante, foi saber quem eram os que a não tinham.

A maior ausência de controlo foi observada no género feminino, nos doentes com mais de 65 anos, nos que tinham níveis de escolaridade mais baixa, nos das classes sociais mais desfavorecidas, e nos com maior índice de massa corporal – leia-se, mais obesos.

Desconhecemos a existência de outros estudos nacionais que tenham sido realizados posteriormente. Fica-nos a dúvida por continuarmos a ver, de vez em quando, a citação de alguns números deste Inquérito. 

Desconhecemos, igualmente, se estes resultados, que nos indicavam sobre quem devia incidir o apoio, a informação, a motivação, determinaram acções concretas que visassem reduzir esta tão elevada percentagem de doentes em risco. Nem que fosse só por razões económicas, dado que um doente controlado tem custos, para si e para a Sociedade, muito inferiores aos de um doente não controlado.

Um doente é um Ser Humano que tem direito a ter uma qualidade de vida igual à de qualquer outro. E os asmáticos controlados podem tê-la.

Professor Doutor António Bugalho de Almeida
Pneumologista na Corclínica
Professor Catedrático Jubilado Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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