Dia Mundial do Ritmo Cardíaco

9% dos portugueses com mais de 65 anos sofre de fibrilhação auricular

Atualizado: 
14/06/2017 - 08:44
No Dia Mundial do Ritmo Cardíaco importa ressalvar a grande evolução no diagnóstico e tratamento deste subgrupo de doenças que afetam o coração. Fibrilhação auricular é a arritmia mais prevalente, atingindo 4,5 milhões de Europeus.

Uma arritmia consiste numa alteração do ritmo cardíaco. Toda a atividade do músculo cardíaco ocorre como consequência de impulsos elétricos que fazem com que a estrutura fibromuscular das aurículas e dos ventrículos se contraia de forma adequada, síncrona e rítmica. A frequência cardíaca normalmente oscila entre 60 a 100 por minuto.

As arritmias cardíacas aparecem essencialmente por 3 motivos: o impulso elétrico não se origina adequadamente; o impulso elétrico tem origem num sítio erróneo/ectópico diferente do normal; os impulsos elétricos são conduzidos de forma errática por fibras que estão alterados (estruturalmente doentes).

Os sintomas mais habituais, embora inespecíficos, são as palpitações, tonturas, desmaios, dores torácicas ou permanecem assintomáticas sem perceção do doente e posteriormente são diagnosticadas num exame de rotina.

Para se fazer o diagnóstico é necessário demostrar que existe una alteração na atividade elétrica cardíaca.

O exame cardiológico de referência é o eletrocardiograma, que apresenta contudo grandes limitações de sensibilidade diagnóstica porque só regista a atividade elétrica cardíaca no momento.

Deste modo podem utilizar-se outros exames complementares de diagnóstico, como o Holter, que regista a atividade elétrica cardíaca durante um período de tempo mais prolongado (um ou mais dias); detetor de eventos (registo de 1 a 2 semanas) ; mais raramente os dispositivos implantáveis, que se introduzem debaixo da pele, mediante uma intervenção cirúrgica (minimamente invasiva), podendo permanecer durante anos e que se reservam apenas para os doentes em que se suspeita de arritmias graves não detetáveis por outros métodos.

Finalmente, pode estudar-se em profundidade o sistema de condução cardíaco e tentar induzir as arritmias mediante o chamado estudo eletrofisiológico, num exame invasivo intra-hospitalar que se realiza introduzindo um sistema de cateteres no interior do coração, a partir das veias dos membros inferiores (veia femoral) ou do pescoço (veia jugular) . Através deste estudo é possível registar a atividade elétrica cardíaca (mapeamento) e estimular o coração para reproduzir as arritmias.

Também é importante averiguar se existe alguma alteração estrutural do coração associada a arritmia, para o qual se pode realizar uma prova de esforço em tapete rolante ou um ecocardiograma modo m/ bidimensional com doppler.

Embora as arritmias cardíacas sejam um grupo muito heterogéneo, a fibrilhação auricular (FA) merece plano de destaque, por ser de longe a arritmia mais comum na prática clinica e por ser um exemplo muito concreto da investigação farmacológica e do tratamento invasivo por cateter decorrente do investimento nas duas últimas décadas.
Estima-se que na Europa esta arritmia atinja 4,5 milhões de pessoas com uma grande importância  em termos de custos na saúde pública.

No Estudo FAMA conduzido em Portugal  (Prevalência de fibrilhação auricular na população portuguesa com 40 ou mais anos) a prevalência de FA encontrada numa amostra da população portuguesa com mais de 40 anos foi de 2,5%.

Com base nos dados mais recentes publicados em 2016 no estudo SAFIRA (7.500 indivíduos de 65 ou mais anos, avaliados em centros de saúde e hospitais portugueses)  perto de 9% dos portugueses com mais de 65 anos sofre de FA.

A prevalência de FA na população, aumenta substancialmente com a idade, observando-se que a prevalência de FA em pacientes com menos de 60 anos é inferior a 0,1%, ao passo que nos doentes acima dos 80 anos sua prevalência é de cerca de 10%.A importância de diagnóstico precoce da fibrilhação auricular tem implicações na utilização de fármacos anticoagulantes de forma a evitar o potencial risco tromboembolico subjacente. O citado estudo SAFIRA também revelou ainda um elevado subdiagnóstico. De entre os 9% dos doentes em que se detetou existência de FA, 35,9% desconheciam ter a doença. De facto 20% dos acidentes vasculares cerebrais isquémicos que ocorrem em Portugal, têm como origem uma FA que não foi de forma atempada diagnosticada e medicada em particular com recurso a estes fármacos.

Autor: 
Dr. Pedro Bico - Cardiologista Clínica Europa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock