Dia Mundial da DPOC

600 mil portugueses com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica

Atualizado: 
17/11/2016 - 09:57
No dia em se assinala mundialmente a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, Teresa Mourato, especialista em pneumologia no Centro Pneumológico Dr. Ribeiro Sanches, descreve-nos uma patologia que afeta mais de 600 mil portugueses. Fumadores e ex-fumadores são as principais vítimas.

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, conhecida por DPOC, é uma doença crónica, que resulta da inflamação dos brônquios (que corresponde à bronquite), podendo ser acompanhada de lesão das vias respiratórias e dos alvéolos pulmonares (correspondente ao enfisema pulmonar).

Estas duas entidades podem estar presentes isoladamente ou em conjunto. Quando coexistem ocorre uma obstrução das vias aéreas com acumulação de muco, levando ao aparecimento de expectoração e dificuldade em respirar (dispneia).

Trata-se de uma doença possível de prevenir e tratar e constitui a 4ª causa de morte em todo o mundo.

Afecta apenas os adultos, a partir dos 40 anos de idade, sendo mais frequente nos homens e sobretudo nos fumadores e ex-fumadores.

A principal causa da DPOC é o fumo do tabaco porque leva a inflamação e lesão nas vias respiratórias. Outras causas são a poluição atmosférica e os factores poluentes no domicílio (resultante da combustão de combustível para cozinhar em recintos fechados), no local de trabalho, fumos das fábricas e indústrias, bem como alguma predisposição genética como o déficit da alfa-1-antitripsina.

Os sintomas da doença são: tosse, expectoração, dispneia e episódios de exacerbações frequentes. Cerca de 30 % dos doentes com DPOC não apresentam qualquer sintoma.

A tosse é normalmente o primeiro sintoma a aparecer, podendo ser ocasional no início mas tornando-se cada vez mais persistente. Habitualmente vem acompanhada de expectoração, que traduz um aumento na produção de muco pelas vias respiratórias lesadas.

A dispneia de esforço é o sintoma mais frequente mas pode passar despercebido durante muito tempo por o doente não o valorizar.

As exacerbações caracterizam-se por aumento do volume e purulência da expectoração associadas a agravamento da dispneia e podem necessitar, nas de maior gravidade, de internamento hospitalar.

O diagnóstico da DPOC é feito pelos sintomas, exposição a factores de risco e confirmado pela espirometria, exame que indica a limitação de fluxo de ar através das vias respiratórias, a qual não é totalmente reversível após inalação de medicamento broncodilatador.

A gravidade da doença é estabelecida pelo número e intensidade dos sintomas, pelos valores da espirometria e pelo número de agudizações anuais e respectivos internamentos.

As medidas para evitar o agravamento da doença incluem:

- deixar de fumar, sendo esta a mais importante para evitar a progressão da doença e o impacto na vida do doente. Para isso é fundamental o aconselhamento médico, bem como o recurso  a medicamentos (gomas ou pastilhas, adesivos ou comprimidos);

- evitar o contacto com agentes poluentes, quer no local de trabalho mediante medidas de protecção, quer no domicílio, evitando fumos domésticos em casas mal ventiladas, quer ainda ao ar livre evitando sair em dias de maior contaminação do ar ou de altos níveis de polinização;

- praticar actividade física regular;

- manter o peso adequado já que a obesidade agrava os sintomas.

O tratamento principal da DPOC são os medicamentos que vão aliviar os sintomas, diminuir a frequência e a gravidade das exacerbações e melhorar a qualidade de vida e a tolerância ao exercício.

Os medicamentos são administrados sobretudo através de um dispositivo chamado inalador que permite uma melhor penetração do fármaco na via aérea, com uma acção mais eficaz. Têm uma acção broncodilatadora e anti-inflamatória.

Nas exacerbações pode ser necessário o internamento hospitalar do doente, aporte de oxigénio, corticóides por via inalada, oral ou injectável e antibióticos, se a causa daquelas for infecciosa.

Nestes doentes estão indicadas as vacinas sazonal da gripe e da pneumonia, importantes na prevenção das formas mais graves de infecção.

Em doentes com DPOC mais grave, já com insuficiência respiratória crónica, pode ser necessário o aporte de oxigénio domiciliário (num período superior a 15 horas/dia), isoladamente ou em combinação com a necessidade de um ventilador portátil, que permite um aumento da sobrevida e uma redução no risco de hospitalizações.

A cirurgia pulmonar está indicada apenas em doentes com enfisema predominante nos lobos superiores e com grande repercussão na capacidade de exercício.

O transplante pulmonar está indicado em doentes com DPOC muito grave e com critérios muito precisos.

Sendo a DPOC uma doença progressiva com degradação gradual do estado de saúde e da qualidade de vida, com sintomatologia crescente e maior frequência de exacerbações, os cuidados paliativos são um componente fundamental na sua fase terminal. 

Autor: 
Dra. Teresa Mourato - Pneumologista Centro Pneumológico Dr. Ribeiro Sanches
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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