Dia Mundial de Luta Contra a Dor | 17 de outubro

Entre o mito e a verdade: o que ainda acreditamos sobre a dor

Atualizado: 
15/10/2025 - 13:55
O Dia Mundial de Luta Contra a Dor é promovido pela Associação Internacional para o Estudo da Dor e pela OMS com o objetivo de sensibilizar as pessoas para a dor como uma doença, do sofrimento que esta pode causar e do impacto negativo que esta condição tem na própria sociedade. Em Portugal, estima-se que 36,7% dos adultos portugueses têm dor crónica com duração superior a três meses. Nas faixas etárias mais jovens, a prevalência é crescente: 18% das raparigas e 9% dos rapazes reportam dor crónica multirregional, ou seja, dor em pelo menos duas regiões corporais.

A dor é real!

A dor é, atualmente, definida pela Associação Internacional para o Estudo da Dor como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada, ou semelhante àquela associada, a dano tecidular real ou potencial. Isto quer dizer que a dor é sempre real e que parte de uma experiência subjetiva que é influenciada por vários fatores biológicos, psicológicos e sociais que devem ser considerados para cada pessoa, de forma individual.

 

A dor, enquanto dor aguda, é boa e resulta de um processo neurofisiológico normal que funciona como um sinal de alerta para nós!

Na verdade, a dor é uma experiência essencial à nossa sobrevivência. Quando nos magoamos ou sofremos algum tipo de trauma, sentimos dor e desencadeamos um conjunto de comportamentos importantes para a nossa recuperação e proteção do nosso corpo. Este mecanismo de proteção está presente desde o nascimento e não acontece só com o avançar da idade como ouvimos algumas pessoas à nossa volta dizer recorrentemente.

 

Quando é que a dor deixa de ser então um alerta importante?

Quando se mantém prolongada, de forma recorrente ou persistente, por mais de três meses, a dor perde a sua utilidade biológica, ou seja, deixa de ser um sinal de aviso de que algo possa estar errado e, muitas vezes, não é encontrada nenhuma alteração ou lesão nos tecidos que a justifique. Quantas vezes ouvimos as pessoas dizer que fizeram um conjunto de exames imagiológicos (raio-X, ecografia, ressonância, …) mas, continuam sem saber a causa da sua dor porque os exames não mostraram nada?!

Nestes casos, a dor passa a ser uma doença por si só e transita para uma situação de dor crónica. Na dor crónica, a dor pode persistir mesmo depois de uma lesão ter cicatrizado e/ou quando não há lesão identificável. Existem atualmente vários mecanismos neurofisiológicos que ajudam a explicar o que acontece na transição, e manutenção, de uma dor aguda para dor crónica, em particular, sustentados em várias alterações que ocorrem ao nível do funcionamento do próprio sistema nervoso. O sistema nervoso é responsável por receber/enviar, processar e interpretar sinais entre diferentes partes do nosso corpo e, em condições de dor crónica, pode ficar mais sensível a esta transmissão de informações e tornar-se sensível a outros estímulos como movimentos, pensamentos, emoções, que se tornam suficientes para exacerbar a dor.

 

Mais repouso nem sempre é a melhor opção!

A ideia de que ao sentir dor devemos evitar tudo o que nos provoca dor para impedir que ela agrave é, excessivamente, comum. Muitas vezes achamos que o repouso e o cessar totalmente as nossas atividades laborais, familiares e/ou sociais, são a solução para resolver e/ou diminuir a dor crónica, mas, na verdade, só a estamos a agravar. O repouso prolongado irá contribuir para a persistência da dor e maior sensibilização do sistema nervoso, aumentar o medo-evitamento de atividades/movimentos, reduzir a nossa capacidade física, promover o isolamento e problemas emocionais e cognitivos associados.

Na presença de dor crónica, é importante mantermos as rotinas do nosso dia-a-dia e promovermos um estilo de vida ativo e saudável, como a prática de exercício, rotinas de sono reparadoras, atividades que nos tragam prazer e qualidade de vida. Quantas vezes já experienciaram estar com uma dor de cabeça ou dor lombar, que desaparece assim que chegam a um evento entre amigos?! Isto acontece porque as atividades/experiências positivas, que nos distraem, que nos dão gosto em realizar, e que não nos colocam o foco e o pensamento na dor, ajudam a reduzir a dor e a sensibilidade de todo o nosso sistema nervoso!

Sabemos atualmente que saber mais sobre dor e sobre a sua autogestão, também tem efeitos positivos na experiência de dor. Estratégias de intervenção baseadas em educação em ciência da dor, combinadas com a prática de exercício físico, têm sido reconhecidas na evidência científica como estratégias eficazes no tratamento e prevenção de várias condições de dor crónica quer em populações jovens, quer em adultos. Esta temática e outras questões sobre a dor podem ser exploradas com maior detalhe no livro “Intervenção em Dor”, editado pela LIDEL.

 

Autor: 
Rosa Andias - Assistente Convidada da Licenciatura e do Mestrado em Fisioterapia da Escola Superior da Saúde da Universidade de Aveiro; Investigadora júnior do CINTESIS; Coautora do livro Intervenção em Dor - Comunicação e Educação em Fisioterapia (LIDEL)
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.