Causas e tratamento

Tromboembolismo Venoso mata mais que o cancro

Atualizado: 
09/12/2019 - 16:09
Pode atingir pessoas de todas as faixas etárias e desenvolver-se de forma assintomática até culminar num quadro de morte súbita. O tromboembolismo venoso atinge cerca de 10 milhões de pessoas em todo o mundo, matando mais do que o cancro de mama e próstata juntos.

O Tromboembolismo Venoso é uma condição que inclui a trombose venosa profunda e a embolia pulmonar, constituindo-se como uma das principais causas de morte em todo o mundo.  Apesar de nem sempre ser possível ser prevenido, há cuidados que pode ter, sobretudo, se tiver doença que predisponha a formação de trombos.

No entanto, ainda que possa depender de vários fatores, este problema é mais frequente do que pode imaginar. Segundo Pereira Albino, coordenador da unidade de cirurgia vascular do Hospital Lusíadas Lisboa, “o sistema venoso é um sistema de baixas pressões e, portanto, o sangue corre de forma mais lenta o que, numa forma simplista, predispõe à formação de trombos.” “Múltiplos fatores, que vão desde a genética, a doenças sistémicas, a fatores ambientais, são propensos a que nas veias, em especial nos membros inferiores, se formem trombos dando origem ao aparecimento de tromboses venosas”, acrescenta o cirurgião vascular. Estes trombos podem migrar para o pulmão levando ao aparecimento de uma embolia pulmonar que tem maior ou menor gravidade conforme a dimensão desse mesmo trombo.

Nos doentes mais novos (até aos 40 anos) as causas são, habitualmente, genéticas. Segundo Pereira Albino, estes doentes “nascem com anomalias no seu sistema de coagulação do sangue” predispondo à formação de trombos. “São pessoas que têm o que a em Medicina se designa uma trombofilia primária”, explica.

A par destas situações, o cirurgião acrescenta que existem ainda outras doenças que podem alterar o nosso estado trombótico. “À cabeça destas situações aparecem todos os tipos de cancro”, em particular o cancro do estômago, cérebro e pâncreas.

“As outras doenças propensas a este tipo de acontecimentos são do foro imunológico e reumatológico”, refere dando como exemplo o lupus eritematoso e o síndroma antifosfolipidico.

No entanto, deixa a advertência: mesmo sem qualquer predisposição ou doença, algumas situações podem potenciar o aparecimento de situações trombóticas, como as viagens de avião de longo curso, a obesidade, a gravidez (pelas alterações hormonais que origina) e ser portador de varizes (“quando muito acentuadas”).

Condição pode ser assintomática mas existem alguns sinais aos quais deve prestar atenção:

Tal como esclarece Pereira Albino, a trombose venosa profunda pode ocorrer de forma assintomática e manifestar-se apenas quando o doente apresenta uma embolia pulmonar, “muitas vezes com quadro de morte súbita”.

Não sendo possível prever quando acontece, o diagnóstico chega quase sempre tarde demais. Muitas vezes “quando o doente tem uma situação fatal ou muito próxima disso, ou seja, quando o trombo originou, pela sua migração, a oclusão de uma das principais veias do pulmão”.

“Contudo, normalmente tudo começa com uma trombose venosa profunda, ou seja, uma perna que subitamente aparece inchada em relação à contralateral, com dor (que varia conforme a localização do trombo) e com dificuldade na marcha”, realça o especialista.

E uma vez que este conjunto de sintomas pode ser interpretado como um problema reumático ou muscular, é, de acordo com o cirurgião, “sempre importante fazer o despiste de uma situação trombótica”.

“Perante um doente com uma dor numa perna ou quadro de falta de ar súbito, existe uma série de questionários designados por ´scores´ que, quando aplicados a um doente nestas circunstâncias, podem de imediato fazer suspeitar da existência de uma trombose venosa profunda ou de uma embolia pulmonar”, explica Pereira Albino referindo que o exame clínico com palpação é muito falível. Deste modo, devem ser usados ainda métodos de diagnóstico laboratoriais para determinação, inclusive, de um valor – D Dimeros – que comprove a existência de um processo trombótico ativo.

O ecodoppler (uma ecografia dos membros dirigida aos vasos) permite determinar o diagnóstico uma vez que “de forma categórica localiza o trombo a nível dos membros inferiores”.

E como se trata o Tromboembolismo venoso?

A forma mais clássica é através de fármacos anticoagulantes. “Estas são substâncias que existem desde a primeira metade do século XX - a heparina foi descoberta por Mclean e Howell em 1916/18 e iniciou a sua utilização em 1935 – e, sem dúvida, revolucionaram o tratamento e o prognóstico destes quadros”, afirma o coordenador da unidade de cirurgia vascular do Hospital Lusíadas Lisboa. “O primeiro anticoagulante foi a heparina que era administrada por via endovenosa ou subcutânea que era seguida depois por um anticoagulantes oral, a varfarina, que exigia um controlo muito rigoroso dado que estas substâncias como tornavam o sangue mais fluído, evitando os trombos, tinham também um marcado risco hemorrágico”, explica o especialista.

Segundo o cirurgião vascular, a evolução da ciência permitiu, “sobretudo já neste século”, o desenvolvimento de múltiplos novos anticoagulantes orais (NOACs ou DoACs – dabigatrano, apixabano, rivaroxabano, edoxabano) “que permitem que estes processos sejam tratados sem tanto risco hemorrágico e de forma oral e também em ambulatório”.

“No futuro é previsível o desenvolvimento de novas moléculas anticoagulantes dado que a investigação nesta área tem sido muito intensa. Todos estes anticoagulantes têm como finalidade evitar a propagação do processo trombótico em curso ou o evitar, em doentes que tenham propensão para os mesmos, o seu aparecimento”, acrescenta.

Há ainda fármacos trombolíticos que podem ser administrados precocemente, durante o evento agudo, com o objetivo de dissolver o trombo. “Contudo, mesmo administrados através de cateter, no local da trombose, têm as suas indicações de utilização muito limitadas dado o marcado risco hemorrágico”, alerta Pereira Albino acrescentando que os estudos até agora realizados mostram que esta opção só traz vantagens em caso de trombose venosa maciça ou de embolismo pulmonar grave.

Para este cirurgião é fundamental, em termos de tratamento na fase aguda do tromboembolismo venoso, o uso de meia elástica para diminuir a dor. “O uso de fármacos analgésicos, e em situações muito particulares de anti-inflamatórios, pode ser importante mas, claro, sempre por um espaço temporal curto”, conclui.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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