Revisão de literatura

“Slow Nursing” – Contributo para a humanização dos cuidados de enfermagem

Atualizado: 
13/05/2020 - 10:14
O presente artigo pretende refletir sobre como o conceito de Slow Nursing poderá contribuir para a Humanização dos Cuidados de Enfermagem. Neste artigo analisamos os poucos artigos publicados neste âmbito. Concluímos que a filosofia/terminologia Slow Nursing pode fornecer novas abordagens para avaliação ou desenvolvimento de ferramentas para uso em pesquisas adicionais, desenvolvimento de teoria e prática clínica de Enfermagem. Também concluímos que o conceito de Slow Nursing poderá ser um importante contributo para a humanização dos cuidados de enfermagem, bem como para a satisfação profissional dos próprios enfermeiros.

Objetivos

  • Conhecer o conceito de Slow Nursing;
  • Dar a conhecer os estudos que foram produzidos neste âmbito;
  • Refletir sobre como este conceito poderá contribuir para a Humanização dos Cuidados de Saúde e, particularmente, para os Cuidados de Enfermagem.

Metodologia

Tratou-se de uma revisão de literatura tendo por finalidade identificar o conhecimento existente sobre esta temática. Foi realizada uma pesquisa na base de dados EBSCOhost, através de “texto completo” no título: Slow Nursing. A pesquisa foi efetuada para documentos em inglês e em português entre os anos de 2009 e 2019.

A nossa pesquisa a 9/9/2019 encontrou na EBSCOhost sete documentos sobre o tema. Destes sete, dois artigos estavam duplicados, visto terem sido publicados em duas revistas diferentes. Um dos artigos não foi incluído porque a publicação não estava acessível. Assim, no final, após aplicação dos critérios de pesquisa, reunimos um conjunto de quatro documentos (dois artigos científicos e dois artigos de opinião publicados em revistas de enfermagem) que se constituíram como o nosso corpus de análise. Para o efeito trabalhamos com os documentos em texto integral.

Durante a elaboração deste artigo tivemos a necessidade de consultar mais dois artigos citados nos artigos pesquisados com o intuito de aprofundar alguns conteúdos.

Resultados

O processo de derivação do conceito Slow Nursing surge a partir do domínio da Sociologia (confrontar abaixo com a Figura 1) a partir do conceito de Slow Movement (Lillekroken, D., 2014).

Este é um movimento que propõe uma mudança cultural para a desaceleração da vida cotidiana. A ideia surgiu quando Carlo Petrini realizou um protesto contra a inauguração de um restaurante McDonald's na Piazza di Spagna em Roma, em 1986. Nesse contexto, surgiu o movimento Slow Food (Honoré, 2004).

Com o tempo, esse princípio Slow foi sendo aplicado a outras áreas, entre elas a saúde, e em particular pela Medicina e, mais recentemente, pela Enfermagem (Lillekroken, D., 2014).

O objetivo da derivação do conceito de Slow Nursing foi gerar novas maneiras de pensar e considerar que Slow Nursing é uma forma competente e um contributo oportuno para a prática de Enfermagem. As etapas para realizar a derivação do conceito, conforme descrito pelos autores Walker & Avant (2011), bem como as etapas que foram seguidas, estão resumidas na Tabela 1 (Lillekroken, D., 2014, p. 41).

A produção de artigos com a terminologia Slow Nursing ainda é escassa. Em língua portuguesa não encontramos nenhum artigo ou texto sobre este conceito.

A expressão Slow Nursing apareceu pela primeira num artigo de opinião assinado pela Enfermeira Tessa Bachmann no The American Journal of Nursing em 2011, refletindo sobre o seu trabalho com a comunidade a nível dos cuidados de saúde primários numa instituição de saúde da cidade de Nova Iorque (Bachmann, T., 2011).

Mais recentemente o conceito Slow Nursing foi desenvolvido pela Enfermeira norueguesa Daniela Lillekroken da Universidade de Agder em 2014 (Lillekroken, D., 2014).

Este primeiro artigo de Lillekroken teve como objetivo apresentar e descrever o processo de desenvolvimento do conceito de Slow Nursing. Esta autora refere que ao momento, uma definição universal do conceito de  Slow Nursing para os contextos de enfermagem e de saúde, está ausente das pesquisas publicadas no domínio da saúde.

Com base na pesquisa bibliográfica e no objetivo da estratégia de derivação de conceitos, foi sugerida uma definição do conceito de Slow Nursing. Assim, em 2015, a Enfermeira Lillekroken mais duas colegas da mesma universidade estudaram o conceito de Slow Nursing junto de enfermeiros que prestavam cuidados a pessoas com demência (Lillekroken et al., 2015).

Do estudo fenomenológico-hermenêutico realizado por Lillekroken et al. (2015) foram identificados três grandes temas cuja interpretação global é descrita como Slow Nursing. Os três temas identificados são os seguintes: “estar no momento presente”, “fazer uma coisa de cada vez/cada coisa no seu tempo” e “criar alegria e contentamento” (Lillekroken et al., 2015).

Assim, uma interpretação geral desses três temas é descrita pela metáfora Slow Nursing, um modelo de cuidados que pode levar a apoiar o “senso de coerência” em pessoas com demência.

Mais recentemente, em 2016, Tonarelli num artigo de opinião recorda que o conceito de Slow Nursing é um aspecto crucial da prestação de cuidados de enfermagem com benefícios duradouros para utentes, familiares e profissionais de enfermagem (Tonarelli, L., 2016).

Por último, refletindo sobre o tema Slow Nursing relacionado com a formação em enfermagem, Sellmann refere que uma geração de enfermeiros que apenas conhece o caminho da técnica e da tecnologia poderá ter implicações negativas no processo de cuidar, quer para utentes quer para profissionais. Assim, a incorporação de ideias Slow Nursing pode ser um contributo importante para a Humanização dos Cuidados de Enfermagem e satisfação profissional dos próprios enfermeiros (Selmann, D., 2014).

Conclusões

Os escassos artigos produzidos com o conceito Slow Nursing parecem estar totalmente de acordo com os princípios nigthingerianos e da enfermagem contemporânea que sustentam os Cuidados de Enfermagem na Observação, Relação de Ajuda, Comunicação Terapêutica, Escuta Ativa, Personalização, Empatia e Valorização dos valores de cada Pessoa.

Paralelamente, conclui-se que a filosofia/terminologia Slow Nursing pode fornecer novas abordagens para avaliação ou desenvolvimento de ferramentas para uso em pesquisas adicionais e desenvolvimento de teoria e prática clínica de Enfermagem. A Slow Nursing como conceito para uso no trabalho clínico pode ser inovador, influenciando positivamente os Cuidados de Enfermagem.

Ainda, na área da formação em enfermagem, alguns estudos alertam para o facto da maioria dos currículos escolares estarem centrados em matérias muito técnicas ou para a valorização da tecnologia, podendo este facto afastar os alunos/futuros profissionais de enfermagem do que é verdadeiramente Cuidar de Um Ser Humano.

Por último, depois de analisados os documentos encontrados concluímos que o conceito de Slow Nursing poderá ser um importante contributo para a Humanização dos Cuidados de Saúde, e de Enfermagem em particular, bem como para a satisfação profissional dos próprios enfermeiros.

Nota: Optamos por manter a expressão original Slow Nursing em inglês, por não encontrarmos em português algum artigo científico sobre o tema e pela dificuldade em traduzirmos este conceito para a Língua Portuguesa, pois poderíamos perder o seu verdadeiro sentido, significado e dimensão.

Referências Bibliográficas

  • Bachmann, T. (2011). Slow Nursing.The American Journal Of Nursing, 111(3), 12.
  • Honoré, C., (2004). In Praise of Slow: How a Worldwide Movement is Challenging the Cult of Speed. Vintage Canada, Toronto.
  • Lillekroken, D. (2014). Slow Nursing-The Concept Inventing Process. International Journal for Human Caring, 18(4), 40-44. DOI: 10.20467/1091-5710.18.4.40
  • Lillekroken D.; Hauge, S. & Slettebø Å. (2015). The meaning of slow nursing in dementia care. Dementia, 16 (7), 930-947. DOI:10.1177/1471301215625112
  • Sellman, D. (2014). Does the Slow movement have anything to offer nursing education? Nurse Education Today, 34, 1414-1416. DOI:10.1016/j.nedt.2014.08.008
  • Tonarelli, L. (2016). Slow nursing' gears you up for success! Nurse Aide-VIP, 28(4), 9.

 


Autores: 

Maria Helena Carreira Anastácio Junqueira
Enfermeira Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica,
Mestre em Enfermagem de Médico-Cirúrgica e em Estudos sobre as Mulheres,
Serviço de Medicina – Unidade de Pombal do Centro Hospitalar de Leiria, EPE,
Morada: Rua da Figueira da Foz, n.º 93, 3100-370 Pombal
Contatos: tel. 966604270; email helenajunqu[email protected]

Pedro Manuel Pereira Quintas
Enfermeiro Especialista em Enfermagem Comunitária,
Mestre em Enfermagem Comunitária e em Bioética,
Unidade de Cuidados na Comunidade Pombal do Agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal Litoral, [email protected]

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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