Saúde sexual

1. O que é, afinal, a saúde sexual?
A saúde sexual é definida pela Organização Mundial da Saúde como um estado de bem-estar físico, emocional, mental e social em relação à sexualidade.
2. Porque é que tantas mulheres têm dificuldade em falar sobre este tema?
Em várias culturas, é possível verificar que a sexualidade feminina foi sempre muito silenciada. A vergonha, os tabus e a ideia de que o prazer da mulher é secundário ainda persistem. Do ponto de vista psicológico, essas inibições podem estar ligadas a padrões inconscientes e à forma como cada uma internalizou a sexualidade na infância e adolescência. Por exemplo, por vezes observo em contexto clínico que ambientes familiares mais conservadores, onde falar sobre sexualidade sempre foi tabu, muitas mulheres acabam por ter muita dificuldade em falar disso com os seus parceiros, e como consequência, a ter problemas a esse nível, como se “fosse incorreto por parte da mulher sequer falar sobre aquil que não gosta, ou que não gosta”, como se não tivesse esse “direito”, e o prazer fosse para ser exclusivamente mais masculino.
3. O desejo sexual é suposto ser algo constante?
Não. O desejo sexual é dinâmico e flutua com as fases da vida, o ciclo menstrual, o estado emocional, a qualidade da relação e até o stress diário. Muitas mulheres sentem culpa ou preocupação com a “falta de desejo”, mas é importante normalizar estas variações e procurar compreender o que o desejo quer comunicar, em vez de forçar respostas rápidas. Para além disso, muitos casais acabam por se esquecer que ao longo dos anos de relação, é importante ir mudando as rotinas, ou melhor dizendo, sair da própria rotina que por vezes se instala, é preciso fazer um plano diferente, dedicar tempo a dois, conversar mais, elogiar mais, e não tomar nada por garantido. Muitas vezes ouço: “Mas ela/ele já sabem que são bonitos e que me sinto apaixonada/o, eu costumo dizer, que o óbvio precisa de ser dito, sim o parceiro já pode saber isso, mas para se manter a “chama” ao longo do tempo, é importante também manter aquilo que ajudou a que ela se acendesse.
4. O que pode causar dor nas relações sexuais?
A dor pode ter causas físicas, ou também psicológicas, como ansiedade, trauma ou falta de desejo. O vaginismo, por exemplo, é uma contração involuntária dos músculos vaginais muitas vezes associada a medo ou experiências negativas. O primeiro passo é procurar um ginecologista e, se necessário, apoio psicológico. Já observei, que em alguns casos, que este se deve a questões emocionais, onde se a pessoa provinha de famílias onde a sexualidade era tabu e onde a mentalidade era mais conservadora.
5. É comum não alcançar o prazer pleno apenas com a relação íntima?
Sim. Muitas mulheres não alcançam o prazer pleno apenas com a relação íntima tradicional. O corpo feminino tem zonas muito sensíveis, que desempenham um papel essencial na vivência do prazer. Por falta de informação, algumas mulheres sentem-se inseguras ou acreditam que algo não está bem consigo, mas é importante saber que cada corpo é diferente e que explorar o que lhe traz bem-estar faz parte de uma sexualidade saudável, e mais importante ainda, é não ter medo nem vergonha disso, e poder falar abertamente com o parceiro, para uma vida sexual mais satisfatória.
6. Como posso melhorar a minha vida sexual?
Comece por si mesma: conheça o seu corpo, explore o que lhe dá prazer, sem pressa. Com o parceiro(a), a comunicação é essencial, falar sobre o que gosta ou não gosta pode ser libertador. Reduzir o stress, dormir melhor e trabalhar a autoestima também têm impacto direto na libido. Em alguns casos, sessões de terapia podem ajudar a desbloquear medos e inibições.
7. Que papel têm as emoções na sexualidade?
Tem um papel enorme. O prazer não é só físico, depende da capacidade de entrega e conexão. Emoções como medo, culpa ou vergonha podem bloquear o desejo. Trabalhar estas questões em psicoterapia pode permitir uma vivência mais plena da sexualidade e ajudar a resgatar a espontaneidade entre o casal.
8. O que é a “carga mental” e como afeta o desejo feminino?
A carga mental refere-se ao peso das responsabilidades diárias, geralmente acumuladas pelas mulheres como cuidar da casa, dos filhos, da carreira. Este estado constante de alerta e fadiga afeta diretamente o desejo sexual. É fundamental dividir tarefas e criar espaços de autocuidado, para que o corpo e a mente possam entrar em estado de disponibilidade.
9. A pornografia influencia a sexualidade?
A pornografia pode criar expectativas irrealistas sobre o corpo, o desempenho e o próprio prazer. Muitas mulheres sentem-se pressionadas a corresponder a padrões que não têm nada a ver com o desejo autêntico. A chave está em consumir com consciência crítica e não permitir que substitua a exploração real e íntima com o parceiro(a) ou consigo mesma.
10. Quando devo procurar ajuda profissional?
Sempre que sentir sofrimento ou dificuldades persistentes na vida sexual como dor, ausência de desejo, dificuldades de comunicação com o parceiro(a), traumas passados (procurar um psicólogo, sexólogo ou terapeuta sexual).
Muitas vezes a questão não é só nem apenas física, é muitas vezes emocional. Falta de conexão, as discussões diárias e conflitos mal resolvidos que se deixam passar, podem ter realmente uma influência direta no desejo sexual e na vida sexual do casal. Comunicar sem medos, não acumular mágoas de conflitos mal resolvidos, não pensar que “ com o tempo isto resolve-se sozinho”, porque não, efetivamente não resolve, e tende até a piorar ao longo do tempo. Cuidar da sexualidade é cuidar de si como um todo, e também, da saúde mental.
Conclusão
Promover a saúde sexual é promover dignidade, liberdade e bem-estar. Ao longo do ciclo de vida, a sexualidade acompanha-nos como uma dimensão fundamental da experiência humana, influenciando não só a forma como nos relacionamos connosco próprios, mas também com os outros. O Dia da Saúde Sexual relembra-nos que é essencial cultivar espaços seguros para o diálogo aberto, onde se possam abordar dúvidas, medos e expetativas sem julgamento ou preconceito.
Enquanto profissionais de saúde, temos a responsabilidade de ajudar a desconstruir mitos, combater estigmas e oferecer orientação baseada no conhecimento científico e no respeito pela diversidade. A saúde sexual não se limita à prevenção de doenças ou disfunções, envolve também o direito a relações afetivas saudáveis, ao prazer, ao consentimento e à autodeterminação. É um direito humano básico que deve ser garantido a todas as pessoas, independentemente da idade, do género, orientação sexual ou condição de saúde.
Este dia convida-nos, portanto, a refletir e a agir: a reforçar a educação para a sexualidade desde cedo, a facilitar o acesso a cuidados especializados e a empoderar cada indivíduo para viver a sua sexualidade de forma informada, segura e satisfatória. Que possamos, juntos, trabalhar para uma sociedade onde falar de saúde sexual seja natural, inclusivo e transformador, contribuindo para o bem-estar integral de cada pessoa, deixando de ser um tabu e levando tantas pessoas a deixar de comunicar o que realmente sentem.