Opinião

A Saúde Mental dos Adolescentes e a Parentalidade na Atualidade

Atualizado: 
10/03/2023 - 09:36
A adolescência é uma fase de desenvolvimento, crescimento e transição para a idade adulta, o que torna muito pertinente a intervenção para a promoção da saúde e desenvolvimento de competências pessoais, sociais e de resiliência.

O desenvolvimento de competências socioemocionais, incidindo nas particularidades da adolescência, como as alterações pubertárias, a explosão hormonal, o desenvolvimento sexual e busca incessante pela autonomia, mudanças que podem ser instigadoras de comportamentos violentos e comportamentos de risco. Pretende-se, assim, o desenvolvimento cognitivo, social e emocional de forma a promover a saúde mental dos adolescentes, melhorando as suas capacidades de enfrentamento quando sujeitos a violência ou contrariedades, prevenido fenómenos de bullying, melhorando as interações sociais e favorecendo a tomada de decisão responsável a promoção e educação para a saúde. De facto, as consequências dos comportamentos violentos em idade infantil podem ser devastadoras para a saúde física e mental das crianças e adolescentes, com fortes implicações no seu desenvolvimento, rendimento escolar e no seu futuro enquanto adultos.

A aquisição de competências das crianças e dos jovens, permitindo-lhes confrontar-se positivamente consigo próprios, construírem um projeto de vida e serem capazes de fazer escolhas individuais, conscientes e responsáveis. Tem como missão, criar ambientes facilitadores dessas escolhas e estimular o espírito crítico para o exercício de uma cidadania ativa. A promoção da saúde mental no meio familiar possibilita uma melhoria da ligação entre a escola, a família e a comunidade, redução do abandono, do insucesso e dos comportamentos violentos em meio escolar, com repercussões nos resultados académicos e nos ganhos em saúde da comunidade educativa. Pela redução da exposição a fatores de risco e pelo favorecimento de fatores protetores, durante a infância, pré-adolescência e adolescência, permitem promover a saúde mental, e prevenir a doença mental na pessoa adulta.

Existem cada vez mais problemas de saúde mental, resultantes de agentes comportamentais, o que prediz a necessidade de desenvolver capacidades que apoiem os adolescentes na tomada de decisão, e que promovam a sua saúde mental.

Mas o que se passa, atualmente, com os nossos adolescentes, porque estamos numa era em que nunca houve tanta informação sobre saúde mental, parentalidade positiva, mindfulness, meditação e a ferramenta que é a internet. Mas o que se está a assistir é que que nunca vimos jovens com tanta superficialidade de emoções e sobrevalorização do aspeto exterior. O coping ineficaz, sem estratégias para lidar com as dificuldades conduzindo à impulsividade, frustração e ansiedade marcadas.

A interação relacional comprometida com os grupos de pares e com os pais. Os Pais com pouco tempo disponível para os filhos, exigências profissionais e ganhar dinheiro, não são capazes de identificar e avaliar as dificuldades dos filhos. Os progenitores têm medo de deixar os filhos errar e, portanto, fazem por eles, não percebendo que, desta forma, estão a tirar ferramentas aos jovens para aprender a lidar com as contrariedades da vida, e que mais tarde não vão ser capazes de reagir e ultrapassar as dificuldades da vida. Com toda a informação e as redes sociais, perdem a noção do limite entre o que é certo/errado. Perdem-se as rotinas em família, os horários e a própria interação muito reduzida para o tempo em família. A disfuncionalidade parental e, com isto, os jovens iniciam o desenvolvimento de quadros de autoestima diminuída, inseguranças, medos, fobias, humor depressivo, ansiedade, ideação suicida, comportamentos autolesivos e os distúrbios alimentares.

Em alguns casos, a existência de doença mental nos progenitores e a dificuldade na sua articulação com os meios existentes. A acessibilidade aos cuidados de saúde mental é suposta ser igualitária a nível do nosso serviço nacional de saúde. Mas o que acontece é que em regiões mais distantes das grandes cidades ainda é escassa ou inexistente.

O estar presente, o toque é, desde logo, uma boa prática na primeira intervenção com os jovens. Aprender a ouvir e a escutar mais, e evitar dar opiniões ou mesmo julgamentos de valor. A reestruturação cognitiva é uma intervenção adequada a estes jovens, mas com a necessidade de técnicos especializados e com custos elevados. Em termos comunitários, a ajuda diferenciada é escassa, e a que ainda existe tem custos económicos que grande parte das famílias não consegue suportar. A farmacoterapia é a que predomina, mas isto é só uma parte do processo. O tratamento passa por conciliar a psicoterapia com a farmacoterapia. Caso contrário, o problema, se não for resolvido mais tarde ou mais cedo, acaba por reaparecer sob a forma de outro problema físico e/ou emocional.

A adolescência é, por si, uma fase do ciclo vital que implica muitas alterações, quer a nível físico, emocional como socialmente. Desta forma, os jovens estão a definir as suas personalidades, sexualidade e identidade de género. Com isto, temos que estar atentos, principalmente nos jovens mais introvertidos e que tem mais dificuldade em exprimir e gerir as suas emoções.

Autor: 
Cátia Ferreira – Enfermeira Especialista em Saúde Mental e Psiquiatria
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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