Sintoma de Distúrbio respiratório do sono

Roncopatia: ressonar “não é normal” e é um sinal de alerta para a Apneia do Sono

Atualizado: 
17/03/2023 - 11:06
A roncopatia é muito frequente na população geral, estimando-se que afete cerca de 40% dos homens e 24% das mulheres. E, embora, a sua prevalência aumente com a idade, esta pode atingir crianças e adolescentes. Vânia Caldeira, Pneumologista que integra a Comissão de Trabalho de Patologia Respiratória do Sono da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, explica o que precisamos saber sobre aquele que é um dos principais sinais de alerta da Apneia do Sono.

“A roncopatia ou ressonar é o ruído emitido durante o sono resultante da vibração de estruturas da via aérea superior, como as paredes da faringe e o palato”, explica a especialista em Pneumologia adiantando que entre os fatores de risco “estão a anatomia obstrutiva da via aérea (por exemplo, a hipertrofia das amígdalas) e a obstrução nasal (por desvio do septo ou rinite), o excesso de peso e a obesidade, o consumo de álcool, tabaco, relaxantes musculares ou medicação para a dor, como os opióides”.  

Quando ressonar é um ato isolado, é frequente que quem ressona procure ajuda em consulta pelo impacto que o problema tem na sua vida familiar e social, nomeadamente, por perturbar ou interromper o sono do casal.

Não obstante, Vânia Caldeira revela que “que a roncopatia é o início de um espectro que pode terminar na Apneia do Sono”.

“O doente começa por apenas ressonar. Com a manutenção do problema podem começar a surgir microdespertares do sono associados ao esforço respiratório e depois fenómenos de obstrução parcial ou total da via aérea com dessaturação de oxigénio associada”, explica sublinhando que “ressonar não é normal” e é uma condição que deve ser investigada.

“Os doentes com apneia do sono podem ter também outros sintomas durante a noite como a dificuldade em manter o sono com muitos despertares, a necessidade frequente de urinar durante a noite e as paragens respiratórias testemunhadas por outros”, enumera acrescentando que as consequências se fazem sentir também durante o dia. “No dia seguinte pode haver a sensação de sono não reparador e o doente acordar cansado, com sonolência nas atividades mais monótonas (por vezes mesmo a conduzir), dores de cabeça, dificuldades de concentração, atenção ou irritabilidade”, revela. Motivos mais que suficientes para que o doente seja avaliado e realize um estudo do sono para que confirme o diagnóstico.

“O tratamento da roncopatia isolada depende das causas associadas. As medidas de boa higiene do sono, com adequado tempo e regularidade do mesmo, evicção de tabaco, álcool e medicação de risco, tal como refeições mais ligeiras ao deitar e perda de peso podem ajudar neste problema”, adianta quando às medidas terapêuticas disponíveis.

“O dispositivo de avanço mandibular é um dispositivo intraoral feito por médicos dentistas e que causa um avanço da mandíbula (“puxando-a para a frente”), prevenindo o colapso da via aérea e tratando a roncopatia. Também o tratamento de condições associadas como a rinite, com medicação adequada, ajuda a uma melhor respiração nasal”, acrescenta ainda, revelando que a cirurgia pode ser uma opção nos casos em que a roncopatia esteja associada ao desvio do septo nasal ou hipertrofia das amígdalas.

“Nos casos de Apneia do Sono Grave ou com sonolência diurna excessiva associada pode mesmo ser necessário fazer o CPAP, em que o doente coloca uma máscara de noite que fornece uma pressão na via aérea capaz de corrigir as apneias e diminuir o risco cardiovascular e metabólico associado”, alerta.

Quando atinge crianças, a roncopatia está associada sobretudo ao tamanho das amígdalas, excesso de peso e obesidade. “A incidência de roncopatia nas crianças é de cerca de 10 a 12%. Os estudos referem que a prevalência de Apneia do Sono moderada a grave nas crianças em idade escolar é de cerca de 1%”, refere.

“A principal particularidade dos distúrbios respiratórios do sono nas crianças é que além do ressonar, predominam sobretudo sintomas atípicos – respiração essencialmente pela boca, despertares frequentes durante a noite e enurese (incontinência urinária no sono), dificuldades de concentração e atenção, com alterações do comportamento, hiperatividade e impacto no rendimento escolar”, sublinha Vânia Caldeira.

Deste modo, a especialista aconselha a que não desvalorize o ressonar. “Ressonar não é normal e tem tratamento. Por outro lado, pode ser o primeiro sinal de um distúrbio mais grave – como a Apneia do Sono – com riscos para a saúde. Estes doentes têm maior risco de hipertensão arterial ou diabetes mellitus não controlada, de enfarte do miocárdio ou acidente vascular cerebral e de doenças como a ansiedade e a depressão”, reforça.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
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