Doença Cardíaca

Reabilitação Cardíaca: o que é e para quem?

Atualizado: 
08/11/2021 - 15:18
A Reabilitação Cardíaca consiste em “programas a longo prazo envolvendo avaliação médica, prescrição de exercício, modificação de fatores de risco cardíacos, educação e aconselhamento, com o objetivo de limitar os efeitos psicológicos e fisiológicos da doença cardíaca, resultando num impacto positivo na qualidade de vida física e psicológica”.

Este conceito envolve obrigatoriamente duas vertentes: A educacional com aconselhamento e apoio para o controlo dos fatores de risco (em que o doente é avaliado em consulta com o profissional da área e envolvido em sessões temáticas com a participação do profissional da saúde e envolvido no grupo de treino em que se insere); A vertente de exercício, com a prática regular de sessões de treino, sob monitorização e vigilância médica, de forma a adequar o treino à situação cardíaca do doente e a ensiná-lo a automonitorizar-se. O objetivo a médio e longo prazo é promover e perpetuar a prática de exercício físico para a vida, fazendo com que o integre o quotidiano.

Para que o programa se desenvolva de forma correta existe uma equipa. A equipa de RC esta é constituída por profissionais de várias áreas que trabalham para um objetivo comum reabilitar o doente cardíaco.

A equipa é constituída por: Cardiologista; Fisiatra; Fisioterapeuta; Enfermeiro; Nutricionista; Psicólogo e Psiquiatra apoio; Enfermeiro. Na equipa que coordeno existe ainda um pneumologista, responsável pela consulta de desabituação tabágica. É frequente as equipas incluíram fisiologistas de exercício e técnicos cardiopneumologistas.

Objetivos (provados)

  • Diminuição do risco de novos eventos cardiovasculares (CV) em 25%;
  • Diminuição do número. de internamentos;
  • Diminuição da mortalidade CV 20-25%;
  • Melhoria da qualidade de vida com maior confiança e menos depressão;
  • Maior capacidade ao exercício
  • Benefício económico para o sistema de saúde (por exemplo o menor absentismo).

Para quem?

Atualmente a Reabilitação Cardíaca (RC) está indicada em todos os grupos de doença cardíaca. No início, os programas de RC apenas incluíam doentes com doença coronária, hoje esta patologia continua a dominar tendo em conta a sua prevalência, mas a insuficiência cardíaca de várias etiologias, os doentes pós-cirurgia cardíaca e a hipertensão pulmonar têm também indicação formal e obrigatória para a inclusão em programas de RC.

A realidade portuguesa

A realidade portuguesa no que respeita à RC é pobre, não é uma área de fácil desenvolvimento mesmo noutros países do mundo ocidental, é verdade que temos muito para andar e crescer.

Teoricamente, defende-se o conceito de que devemos atingir, no mínimo, 30% da população potencial. A taxa média de participação europeia é superior a 30%.

Para termos uma ideia em 2014 apenas 8% dos doentes com enfarte acediam a programas de RC, em 2019, passados cinco anos, 9,3% dos doentes com patologia cardíaca eram incluídos, (este valor já contempla doentes não coronários) e apenas 8-15% dos doentes tinham acesso a estes programas.

A pandemia não ajudou em nada o desenvolvimento desta área da cardiologia, (durante as fases de confinamento estima-se que a nível mundial 75% dos centros de RC estiveram encerrados). Por outro lado, este problema de saúde pública permitiu desenvolver outro tipo de programas com um diferente envolvimento dos doentes através de programas homebased.

Quando nos referimos a Programas de RC estamos a referir-nos a doentes em prevenção secundária, ou seja, que já sofreram eventos cardíacos, mas tudo o que foi dito, e em termos de objetivos, também se aplica no contexto de prevenção primária, o que quer dizer antes de ter o evento prevenir a doença. A prática de exercício físico regular e o controlo dos fatores de risco CV demonstrou benefícios em toda a população, e esta é a ideia que deve prevalecer.

 

Autor: 
Dra. Luísa Bento - Coordenadora do Grupo de Estudo de Fisiopatologia de Esforço e Reabilitação Cardíaca (GEFERC) da Sociedade Portuguesa de Cardiologia; Assistente Sénior graduado de Cardiologia do Hospital Garcia de Orta
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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