Opinião

Porque é que há cada vez mais jovens a usar Aparelhos Auditivos?

Atualizado: 
25/08/2023 - 14:34
Existem várias razões pelas quais mais jovens estão a usar mais aparelhos auditivos, e particularmente, próteses auditivas. Uma delas é a exposição frequente a níveis altos de ruído, como música alta e fones de ouvido. Além disso, problemas auditivos também podem ser hereditários ou causados por infeções ou lesões ou doenças. Também pode ter sido adquirido por medicação ototóxica tomada na infância, apesar de atualmente existir um maior cuidado. O importante é que os aparelhos auditivos (as próteses auditivas, também os implantes auditivos quando a surdez é mais grave) ajudam a melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Os Aparelhos Auditivos são dispositivos eletrónicos usados para corrigir problemas de audição. Eles amplificam e/ou processam o som e ajudam as pessoas a ouvirem melhor. Próteses auditivas são dispositivos personalizados que se encaixam no ouvido para melhorar a audição. Já os implantes auditivos são dispositivos cirurgicamente implantados no ouvido para proporcionar uma audição mais clara. Cada opção tem suas próprias vantagens e é importante consultar um especialista para determinar qual é a melhor para cada caso.

A surdez pode ser pré-lingual ou pós-lingual. A surdez pré-lingual ocorre quando a pessoa nasce com a perda auditiva ou a desenvolve antes de adquirir a linguagem verbal. Já a surdez pós-lingual acontece quando a pessoa adquire a linguagem oral antes de perder a audição.

A exposição frequente a níveis altos de ruído pode causar danos permanentes à audição. É importante proteger os ouvidos usando fones de ouvido com volume adequado e evitando ambientes barulhentos por longos períodos de tempo. Cuidar da audição é essencial para preservar a capacidade auditiva ao longo da vida. Pressupõe-se que nestes casos, a surdez seja do tipo pós-lingual, quando adquiriu o gosto por determinado género musical (em shows ou concertos) ou que exerça uma atividade profissional de grande exposição a ruído.

Mais de um bilião de pessoas EM TODO O MUNDO correm o risco de sofrer danos auditivos devido a práticas auditivas recreativas inseguras. Para combater esses riscos, a OMS criou a iniciativa 'Make Listening Safe' em 2015. “Tornar a audição segura” visa criar um mundo onde pessoas de todas as idades possam desfrutar da audição recreativa sem riscos para a audição. A abordagem desta iniciativa é mudar as práticas e comportamentos de escuta. A OMS pretende alcançar este objetivo através de:

  • aumento da conscientização sobre a necessidade e os meios de ouvir com segurança, e
  • implementação de padrões baseados em evidências que possam facilitar a mudança de comportamento em grupos da população-alvo.

A missão da 'Make Listening Safe' é executada através de três pilares principais, desenvolvidos e executados em colaboração com todas as partes interessadas na área.

Criação de padrões baseados em evidências: A OMS cria padrões que descrevem características de escuta segura para uma variedade de situações em que práticas inseguras são comuns.

Aumentando a conscientização: A OMS desenvolve e divulga materiais de sensibilização baseados em evidências para uma escuta segura.

Investindo em pesquisa: A investigação sobre a escuta segura é realizada em colaboração com os nossos parceiros globais para compreender melhor a situação atual, para garantir que a OMS aproveita as melhores práticas atuais em todo o mundo e para descobrir a necessidade futura de intervenções de escuta segura. Para mais informações, pode visitar: https://www.who.int/activities/making-listening-safe.

Em Portugal, é importante que sejam implementadas medidas legislativas para combater e prevenir as consequências da exposição ao ruído alto. Isso pode incluir a definição de limites de ruído em diferentes ambientes, como locais de trabalho, espaços públicos e residenciais. Além disso, é necessário promover a conscientização sobre os riscos do ruído excessivo e educar a população sobre a importância de proteger a audição. Também é crucial garantir que existam mecanismos de fiscalização e aplicação da legislação para garantir o cumprimento dessas medidas. Dessa forma, será possível reduzir os efeitos negativos do ruído alto na saúde auditiva das pessoas.

Acredito que uma maior conscientização sobre o uso de protetores e tampões auditivos é essencial para prevenir danos causados pela exposição ao ruído alto. Para promover essa conscientização, seria importante realizar campanhas de educação pública, informando sobre os riscos do ruído excessivo e destacando a importância de proteger a audição. Além disso, seria benéfico incentivar o uso de protetores e tampões auditivos em ambientes barulhentos, como festivais, shows e locais de trabalho ruidosos. Essas medidas podem ajudar a reduzir os danos causados pelo ruído e preservar a saúde auditiva das pessoas.

Os convencionais aparelhos auditivos, as próteses auditivas, não são apenas a solução auditiva para as pessoas mais velhas. Existem cada vez mais jovens que enfrentam a surdez. Novos estudos sugerem, que pelo menos, mais de dois terços dos adultos acima dos 70 anos, têm algum tipo de surdez (muitos deles por envelhecimento, ou presbiacusia), no entanto, somente 30% deles usam próteses auditivas, e uma pequena percentagem com surdez severa a profunda seria aconselhado a implantação de dispositivos. Contudo, pessoas mais novas, como jovens estão em risco de perda auditiva, em que uma taxa significativa dessas pessoas (abaixo dos 30 anos) têm surdez afetada pela exposição a ruído alto, que contempla a exposição a música alta, a níveis não recomendados.

Uma vez perdidas as células do ouvido interno, as células ciliadas, que transmitem o som para o nervo auditivo, não será possível substitui-las. A única forma que se pode efetuar para compensar essa perda auditiva, é através da sua reabilitação, com aparelhos auditivos.

Cada vez existem mais aparelhos auditivos de tecnologia mais avançada, e, portanto, mais robustos ou potentes. Atualmente, a tecnologia permite que estes possam ter características como o Bluetooth, ajuste por software através de telemóvel, assim como funcionalidades para ajuste da música ou som que captam.

Enquanto aumenta a oferta dos aparelhos auditivos, porque existe uma gama maior e alguns mais avançados tecnologicamente, podem tornar-se mais caros e uma barreira para algumas pessoas do ponto de vista económico. Os seguros de saúde são poucos que comportam e comparticipam este tipo de equipamentos. O facto de se usarem aparelhos auditivos com baterias, também implica que muitas vezes, após longo uso, deixem de funcionar, ou então haver o recurso de baterias para substituição (ou alguns casos, o uso de porta-pilhas auxiliares).

Estudos comprovam a ligação entre perda auditiva e demência, sugerindo que o uso de aparelhos auditivos podem reduzir esse risco, mais tarde na vida.

Em Portugal, os aparelhos auditivos podem ser adquiridos tanto através do Serviço Nacional de Saúde (SNS) como por meio de investimento privado. No SNS, é necessário passar por uma consulta de especialidade e cumprir os critérios definidos para ter acesso aos aparelhos auditivos gratuitamente, por comparticipação do Estado. Caso não se enquadre nos critérios do SNS ou prefira uma opção mais personalizada, é possível adquirir aparelhos auditivos através de investimento privado em centros auditivos ou clínicas especializadas. Cada opção tem suas particularidades, e é recomendado consultar um especialista para obter mais informações sobre o processo e as opções disponíveis.

Finalizando, deixo uma pergunta pertinente e curiosa ao mesmo tempo, porque de facto é aquilo que se passa nos dias que correm, relativamente ao estigma de usar aparelhos auditivos para correção da audição: Porque é moda e dá estilo usar fones/auscultadores de ouvido, que se forem utilizados indevidamente podem prejudicar a audição, e pelo contrário quando é recomendado por um especialista (leia-se, médico otorrinolaringologista e/ou audiologista devidamente qualificado) o uso de aparelhos auditivos, existe o problema de estética e de adaptação ao usá-los? (Esta pergunta poderia ser feita a qualquer pessoa, de qualquer idade, e não somente a jovens).

Autor: 
A. Ricardo Miranda - Associação OUVIR
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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