Interação nem sempre é pacífica

Pode haver interação entre medicamentos e suplementos?

Atualizado: 
14/01/2022 - 10:20
Com a idade, surgem mais condições crónicas de saúde. Além disso, algumas pessoas podem desenvolver deficiências de determinadas vitaminas à medida que envelhecem. Felizmente, diversos medicamentos com ou sem prescrição, bem como vitaminas e suplementos dietéticos, estão disponíveis para aliviar os sintomas, retardar o avanço de muitas condições crónicas relacionadas à idade e ajudar as pessoas a manter uma boa saúde.

No entanto, com o passar dos anos, as prateleiras de lojas especializadas receberam centenas de suplementos fitoterápicos e outros intensificadores nutricionais que prometem beneficiar a saúde e as funções física e mental.

A palavra usada por muitos para descrever a ingestão de diversos medicamentos com e sem prescrição e suplementos dietéticos e fitoterápicos é “Polifarmácia”. Embora ela abrigue muitas definições, a mais ampla é o uso simultâneo de vários medicamentos ou suplementos para tratar uma ou mais condições médicas de um paciente.

O problema é que, com a idade, as pessoas adquirem mais problemas de saúde. E com esses problemas são necessários cada vez mais médicos. A menos que os pacientes garantam que cada médico recebe uma lista atualizada de medicamentos e suplementos, é possível que eles não saibam com precisão o que os pacientes tomam ou não os informem sobre os riscos relacionados a esses medicamentos e suplementos. À medida que as pessoas tomam mais e mais medicamentos e suplementos, aumentam as chances de interação.

Por exemplo, considere uma paciente que recebeu uma prescrição de estatina para reduzir o colesterol. No entanto, após ver um anúncio que promove o arroz vermelho fermentado como sendo bom para controlar o colesterol, ela começou a tomá-lo. O arroz vermelho fermentado naturalmente contém a lovastatina, uma estatina natural. Sem perceber, essa paciente começou a duplicar a dose de atorvastatina já prescrita pelo médico. Ela começou a sentir cãibras nas pernas, dores musculares e a ter resultados com valores elevados em exames de função hepática devido a essa interação.

Embora seja importante conversar com o médico e com o farmacêutico sobre o que toma, para evitar o excesso de medicamentos, também é importante evitar deficiências.

Considere pacientes vegetarianos ou veganos que recentemente foram diagnosticados com Diabetes tipo 2. Frequentemente, essas pessoas tomam um suplemento de vitamina B12 porque não comem carne. No entanto, a terapia padrão para um diabético tipo 2 é um medicamento conhecido como metformina, que pode esgotar os níveis de vitamina B12 em alguns pacientes. Portanto, a partir do momento que começaram a tomar metformina, essas pessoas precisam de uma dose ainda maior do suplemento desta vitamina. Para complicar, se elas já estavam a tomar ou a começar a tomar medicamentos para a redução de refluxo e úlcera como o Omeprazol, que diminui a produção do ácido estomacal, a deficiência da vitamina B12 pode piorar ainda mais, já que ela depende do ácido gástrico para absorção.

Há outros exemplos de interações entre suplementos e medicamentos. Por exemplo, a ingestão de cálcio com um suplemento de vitamina D para osteoporose e um multivitamínico contendo vitamina D pode aumentar o cálcio na urina o suficiente para aumentar o risco de formação de cálculos renais. Tomar um analgésico narcótico para dores agudas ou crónicas quando já está a tomar um ansiolítico como o alprazolam pode resultar em perda de consciência. Isso piora ainda mais com a ingestão de bebidas alcoólicas.

Os Suplementos fitoterápicos podem representar riscos para pacientes com polifarmácia, pois também podem afetar a metabolização de medicamentos ou suplementos. O resveratrol, encontrado na casca da uva, costuma ser ingerido como um suplemento antioxidante. Algumas evidências sugerem que ele pode retardar a metabolização de certos medicamentos comuns e causar efeitos colaterais. O Ginkgo biloba, que é usado para memória, pode ter um efeito antiplaquetário, aumentando o risco de sangramento grave em pacientes que já tomam anticoagulantes como varfarina ou apixabana.

Ao tomar vários medicamentos com ou sem prescrição e suplementos, avalie-os pelo menos uma vez por ano. Procurar uma farmácia especializada ou um farmacêutico especializado em polifarmácia é ideal, pois esse profissional pode identificar possíveis interações ou reações adversas a medicamentos causadas pelos vários componentes e pode trabalhar em parceria seu médico para evitar problemas futuros. Além disso, converse com o farmacêutico sempre que receber a prescrição para um novo medicamento, para que você possa avaliar as prescrições e suplementos atuais para identificar quaisquer possíveis preocupações. 

 

Autor: 
Michael Schuh - Departamento de Farmácia Mayo Clinic
Fonte: 
Mayo Clinic
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay