Opinião

O regresso à escola e a importância na reabilitação dos jovens com perturbação de saúde mental

Atualizado: 
14/09/2022 - 10:00
O mês de setembro representa, para muitos jovens, o início de mais um ano letivo, o regresso às aulas e o voltar à rotina, novamente. Para outros jovens, representa medos, inseguranças, ansiedade e, até mesmo, a recusa.

A escola, é o local onde a criança ou jovem passa uma parte significativa do seu tempo, onde tem um largo espectro de experiências que a pode ajudar a construir a sua identidade, a estabelecer relações interpessoais e a desenvolver competências como a motivação, a resiliência e o autocontrolo. Com toda a importância que tem, não será de estranhar que o meio escolar também acarrete um conjunto de riscos para o aparecimento ou evolução negativa de um problema de saúde mental.

As crianças ou jovens com perturbação de saúde mental tendem a subestimar as suas capacidades e a enfrentar com maior apreensão ou evitamento tarefas escolares mais complexas e desafiantes, podendo comprometer o seu percurso escolar. E, ao depararem-se com resultados negativos, tendem a agravar as queixas emocionais que levam ao desinteresse escolar, podendo, mesmo, conduzir ao absentismo ou abandono escolar.

Aqui, é crucial a intervenção dos profissionais que os acompanham. Nós, enquanto equipa multidisciplinar da Unidade de Cuidados Continuados Integrados para a Saúde Mental na Infância e Adolescência trabalhamos no modelo terapeuta de referência. Esta é a base da nossa intervenção, cada jovem tem o seu terapeuta, com quem estabelece uma relação empática e de confiança, uma relação de apoio para que possa explorar as dificuldades sentidas em contexto escolar e outras. É importante para a criança ou jovem, que se depara com dificuldades, ter uma figura de referência que a ajude a compreender o que está a viver. Alguém que esteja disponível para ouvir o que sente, pensa ou a ajude a adquirir estratégias para as dificuldades do dia a dia e, assim, se sentir compreendido/a.

No entanto, é necessário transmitir uma perspetiva positiva sobre as capacidades da criança ou jovem para a ajudar a superar essas dificuldades e estimular a dar passos progressivos. Devemos elogiar as conquistas, por muito pequenas que sejam, desconstruir pensamentos e, mesmo que o resultado seja negativo, passar a mensagem de que é natural encontrarem-se obstáculos pelo caminho e que o esforço continuado permitirá ultrapassar o problema. O reconhecimento dos seus progressos e esforços é um fator de satisfação, promovendo a confiança nas suas capacidades. O reforço positivo, salientar os passos que deu na regulação das emoções, comportamento, autonomia, relação com o grupo de pares, na aprendizagem e, assim, traçar metas futuras.

No presente, as perturbações de saúde mental são o principal problema de saúde pública na Europa, e um dos principais em todo o mundo, para todos os grupos etários. O grande desafio da sociedade atual terá, necessariamente, de passar pelo desenvolvimento de estratégias que possibilitem o recovery, o empoderamento e a participação, e que, consequentemente, promovam a diminuição do estigma associado à doença mental.

 

Autor: 
Joana Coelho - Assistente Social
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay