O passado, presente e futuro da masturbação
A masturbação ao longo da história: olhar para trás
Na Grécia Antiga a masturbação era considerada uma atividade normal e saudável, especialmente para os homens mais jovens. Era uma forma de libertar tensão sexual e ajudar os rapazes a descobrirem os seus corpos na preparação para o matrimónio. De facto, Aristóteles acreditava que o prazer era uma parte necessária e natural da vida: o objetivo de todas as atividades humanas. No entanto, ele também acreditava em moderação, equilíbrio e que demasiado prazer poderia levar a excessos e decadência moral. Em oposição, os romanos antigos tinham uma perspetiva mais negativa da masturbação: acreditavam que demasiada masturbação podia causar problemas físicos e mentais e que era um sinal de fraqueza e falta de autocontrolo. Era frequentemente associada a escravos e outras pessoas menos abastadas e passou a ser considerada uma prática vergonhosa e imoral.
As razões específicas que criaram um tabu em torno da masturbação durante séculos variaram de acordo com a cultura e o tempo. Nas culturas judaico-cristãs, por exemplo, era considerado um pecado, pois acreditava-se ser contra o mandamento bíblico de "ser fecundo e multiplicar-se". Na Europa do século XIX, as atitudes face à masturbação tornaram-se mais negativas, devido à influência de códigos de conduta religiosos e morais, bem como à crença de que poderia causar doenças físicas e mentais, e às opiniões conservadoras da Rainha Vitória de Inglaterra.
As teorias psicanalíticas do início do século XX também contribuíram para o tabu em torno da masturbação. Sigmund Freud e outros psicólogos sugeriram que esta prática poderia levar a vários problemas de saúde mental, tais como neurose e psicose. Uma das ideias mais controversas de Freud era o conceito de "inveja do pénis", que sugeria que as mulheres eram inerentemente inferiores aos homens porque não tinham um pénis. Freud também acreditava que a sexualidade feminina centrada no clitóris era imatura e infantil, e que as mulheres acabariam por ultrapassar o prazer clitorial e desenvolver uma forma madura de sexualidade centrada no sexo vaginal com um parceiro masculino. Isto, claro, acabou por ser desacreditado pela investigação sexual moderna.
Antes, no século XIX, os médicos costumavam tratar a histeria feminina tocando manualmente nos clítoris dos pacientes até atingirem o orgasmo. A prática da massagem pélvica exigia muito tempo e esforço físico por parte dos médicos, e acabou por levar ao desenvolvimento de dispositivos mecânicos que podiam reproduzir essa estimulação. Embora tenham sido recentemente encontrados objetos romanos mais rudimentares para masturbação, o primeiro brinquedo sexual mecânico ou vibrador foi inventado no final do século XIX por um médico britânico chamado Joseph Mortimer Granville, que concebeu um dispositivo movido a vapor chamado "Granville Hammer". A invenção do vibrador revolucionou o "tratamento" da histeria feminina, tornando-o mais rápido e mais eficaz. Também levou ao desenvolvimento de vibradores pessoais para uso doméstico.
Desestigmatização da masturbação: o nosso presente
No século XXI, o conceito de masturbação tornou-se aceite e desestigmatizado em muitas partes do mundo. As atitudes face à masturbação mudaram e esta é agora considerada uma parte saudável e normal da sexualidade humana.
Uma das maiores mudanças foi o aumento da consciencialização e da educação sobre a saúde e o bem-estar sexuais. Com o surgimento da Internet e das redes sociais, as pessoas têm mais acesso do que nunca a informações e conselhos sobre masturbação e saúde sexual. Isto levou a uma maior consciencialização e compreensão dos benefícios e riscos da masturbação, bem como a uma maior variedade de atitudes e crenças sobre a masturbação.
Outra mudança tem sido o reconhecimento da prática como uma forma de autocuidado e amor-próprio. A masturbação é agora vista como uma forma saudável e estimulante de explorar a própria sexualidade, reduzir o stress e melhorar o bem-estar geral. Esta mudança de perspetiva levou a uma maior abertura e aceitação da masturbação como um aspeto positivo da sexualidade humana.
Os brinquedos eróticos têm desempenhado um papel importante no sentido de tornar a masturbação feminina mais visível na esfera pública. No passado, a sexualidade feminina e a masturbação era frequentemente um assunto tabu e muitas mulheres sentiam-se envergonhadas em falar abertamente sobre o assunto. Contudo, nos últimos anos, os brinquedos sexuais tornaram-se mais acessíveis e populares e ajudaram a quebrar algumas das barreiras para falar sobre a masturbação feminina. É difícil prever exatamente quanto tempo levará a sociedade a aceitar plenamente a masturbação como uma parte natural e saudável da sexualidade humana. No entanto, com esforços contínuos para promover a educação, a consciencialização e a mudança cultural, podem ser feitos progressos no sentido de uma maior libertação sexual e aceitação de todas as formas de sexualidade humana.
Inteligência Artificial (IA) no sexo?: o futuro da masturbação
Embora seja difícil prever ao certo o que o futuro nos reserva, é evidente que ainda há muito espaço para a inovação e a criatividade no campo da masturbação e do bem-estar sexual. Os avanços tecnológicos, como as ferramentas sensoriais interativas, a realidade virtual e a inteligência artificial, podem revolucionar a forma como abordamos e experienciamos a masturbação. As ferramentas sensoriais, tais como os brinquedos sexuais de alta tecnologia que podem ser controlados remotamente ou responder a comandos de voz, podem aumentar muito o prazer e a espontaneidade das experiências sexuais íntimas a solo.
A tecnologia da realidade virtual poderia recriar ambientes imersivos e interativos para a masturbação, permitindo aos utilizadores explorar os seus desejos e fantasias num espaço seguro e controlado. Isto será especialmente útil para os utilizadores que lutam com a ansiedade e timidez relacionadas com o prazer sexual. A IA poderia também ajudar a melhorar as experiências sexuais a solo, fornecendo sugestões e recomendações personalizadas de estimulação sexual com base em preferências, fantasias e comportamentos individuais.
Pessoalmente, estou também muito inspirada pela possibilidade dos dispositivos de bem-estar sexual serem utilizados como instrumentos médicos, com novos avanços em tecnologias vestíveis capazes de determinar biomarcadores como a variabilidade da frequência cardíaca, temperatura e contrações musculares, todos em sincronização para fornecer informações que podem ajudar a melhorar a função sexual e a melhorar a saúde e o bem-estar. Além disso, a integração de tecnologias como a terapia da luz, que se revelou eficaz no tratamento de várias disfunções sexuais como a secura vaginal e a dor durante as relações sexuais, será provavelmente integrada em tecnologias de apoio ao bem-estar sexual.