Dia Mundial da Incontinência Urinária

Monitorização à distância torna o acesso ao tratamento da incontinência urinária mais “equitativo e justo”

Atualizado: 
15/03/2021 - 11:20
Com um impacto devastador na qualidade de vida de quem dela sofre, estima-se que a Incontinência Urinária afete 600 mil portugueses, entre as diferentes faixas etárias. Sendo a comunicação um dos principais pilares para o sucesso da abordagem desta problemática, a pandemia veio reforçar a necessidade de se manter a relação médico-doente ainda que à distância. Em entrevista ao Atlas da Saúde, Ana Lopes, técnica superior de diagnóstico e terapêutica na Unidade de Urodinâmica, do Serviço de Urologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto, revela que a telemonitorização permite “a possibilidade de se chegar a qualquer ponto do país, de forma equitativa e justa, no tratamento da incontinência e outras patologias pélvicas”

Estima-se que, em todo o mundo, mais de 60 milhões de pessoas sofram de incontinência urinária. Em Portugal, cerca de 33% das mulheres com mais de 40 anos apresentam sintomas da doença, mas destas apenas 10% recorre ao médico. Neste sentido, começo por perguntar por que é que continuamos a evitar falar sobre um tema que, para além de frequente, causa um grande impacto na vida dos doentes?

Apesar de ser uma patologia prevalente e com comorbilidades importantes, é ainda aceite pela sociedade, refiro-me à mulher, como um problema “normal” do envelhecimento ou na sequência dos partos. De facto, esta postura tem-se vindo a alterar, sendo que hoje as mulheres são muito mais proativas na busca de soluções. Porém, esta evolução faz-se de forma lenta.

De que forma a Incontinência Urinária condiciona a vida de quem dela padece?

Limita desde logo as atividades que exigem algum tipo de esforço físico, sendo variável consoante a gravidade, impedindo, por exemplo, a prática de desporto ou atividades lúdicas como dançar. Isto reflete-se na autoestima e bem-estar.

Quais as principais causas associadas a esta patologia? Há formas de a prevenir?

As causas desta patologia são dependentes do tipo de incontinência, pelo que o seu tratamento ou prevenção será também variável. Mas de uma forma genérica, podemos destacar a obesidade, os antecedentes obstétricos e cirúrgicos, bem como patologias do foro neurológico. A prevenção passará sempre por adotar um estilo de vida saudável e a inclusão de exercícios pélvicos no quotidiano, como forma de prevenir problemas futuros.

Como se manifesta? E quais os principais sinais de alerta?

Manifesta-se através de perda de urina involuntária, que pode ocorrer diariamente ou de forma esporádica, associada a esforço (p.e. desde a tosse ao exercício físico) e/ou urgência (sensação imperiosa e incontrolável para ir urinar). A identificação desta problemática, tende a ser desvalorizada nos estádios iniciais, contudo, é numa fase inicial da doença que a ajuda deve ser procurada. Sempre que, existir perda de urina, seja ela associada a alguma atividade do nosso dia ou, simplesmente, porque não chegamos a tempo à casa de banho, e esta situação não é isolada, devemos procurar ajuda especializada.

Quais as principais complicações associadas à Incontinência Urinária?

Do ponto de vista emocional são várias, destacando o isolamento e fuga sociais e a baixa autoestima. Existem ainda repercussões ao nível das relações interpessoais e profissionais, uma vez que esta problemática está associada ao aumento do absentismo.  

Sabendo que existem vários tipos de incontinência urinária, em que consiste o seu tratamento? Em que casos está indicada a cirurgia, por exemplo, ou o tratamento neuromodulador?

A forma mais comumente conhecida é a incontinência de esforço que tem como tratamentos a abordagem conservadora, através da reeducação do pavimento pélvico e a cirurgia. No caso da Incontinência de urgência esta apresenta um maior desafio, e a abordagem terapêutica inicial passa por farmacoterapia. No entanto, é relativamente frequente a má resposta ou baixa adesão por intolerância a estes fármacos. Nestes casos apresenta-se como opção terapêutica a injeção de toxina botulínica intravesical e a neuromodulação sagrada. Esta última opção terapêutica, consiste no implante de um estimulador que irá de certo modo “corrigir” a função da bexiga. Dito assim, parece um tratamento muito complicado, mas na verdade, do ponto de vista do doente, é um procedimento simples, sem necessidade de internamento. Com o avanço da tecnologia, os novos dispositivos recarregáveis para além de oferecerem uma longevidade de 15 anos, o sistema permite o controlo por parte do doente através de um smartphone.

Qual o seu prognóstico?  

O Prognóstico é tanto melhor quanto mais cedo for procurada a ajuda especializada.

Após o diagnóstico, que cuidados deve o doente ter?  Qual o seu papel na gestão desta doença?

Volto a referir a adoção de um estilo de vida saudável, a preocupação/consciência da saúde pélvica e a atitude proativa perante os sintomas.

Uma vez que falamos em gestão da doença, a telemonitoriação à distância destes doentes, sobretudo em período pandémico, surge como alternativa de acompanhamento. Quais as grandes vantagens?

Destaco desde logo a relação profissional de saúde – doente, que será determinante na adesão terapêutica, reconhecimento de sintomas, comunicação atempada de efeitos indesejáveis e sua resolução. Não menos importante, a possibilidade de se chegar a qualquer ponto do país, de forma equitativa e justa, no tratamento da incontinência e outras patologias pélvicas.

No âmbito do Dia Mundial da Incontiência Urinária, que se assinala no próximo dia 14 de março, que mensagem gostaria de deixar?

Enquanto profissional de saúde dedicada à urologia funcional dizer que informação é poder, e que nesse sentido quanto mais esforços se fizerem para combater a iliteracia em saúde mais próximo estaremos de eliminar os medos, vergonhas e tabus associados à incontinência. A ajuda existe, os tratamentos mais inovadores estão disponíveis e não faz sentido adiar a busca da solução.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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