Saiba o que são, para que servem e quais os cuidados a ter

Medicamentos Antipsicóticos: perguntas e respostas

Atualizado: 
14/12/2021 - 15:25
Os medicamentos antipsicóticos são uma classe de fármacos utilizados para o tratamento sintomático das psicoses, nomeadamente, no contexto da esquizofrenia. Com a ajuda do médico psiquiatra do Hospital Lusíadas Porto, Fernando Medeiros Paiva, ajudamos a esclarecer as principais questões sobre este tipo de medicamento.

1. O que são e como funcionam os medicamentos antipsicóticos? Quais os seus mecanismos de ação?

Os medicamentos antipsicóticos são psicofármacos que atuam nas Perturbações Psicóticas (Esquizofrenia, Mania, Agitação Psicomotora grave) controlando a agitação grave (tranquilização e sedação), combatendo os delírios e as alucinações.

O seu mecanismo de ação consiste no bloqueio dos neurorreceptores dopaminérgicos.

2. Que patologias são tratadas com recurso a este tipo de medicamento?

Esquizofrenia, Episódio maníaco da Perturbação Bipolar e, em doses baixas, na ansiedade grave ou como potenciadores dos antidepressivos nas depressões resistentes.

3. Que tipos de antipsicóticos existem? Quais as principais diferenças entre os antipsicóticos de primeira e segunda geração?

A principal diferença entre os APG e os ASG é nos efeitos colaterais (extrapiramidais, síndrome maligno dos neurolépticos, neurotoxicidade) mais pronunciados nos primeiros.

4. Quais os principais efeitos colaterais associados a este tipo de medicação e quais os grandes benefícios/ mais valias na utilização desta segunda geração de antipsicóticos?

Os 5 principais benefícios dos ASG são: efeitos colaterais menos graves, maior adesão, maior prevenção de recaídas, efeito neuroprotetor e menor taxa de mortalidade

5. No caso particular da esquizofrenia, como atuam e como são utilizados?

Os ASG atuam nos sintomas positivos (delírios e alucinações) mas também nos sintomas negativos (inibição, anedonia).

6. Com que outros medicamentos podem ser conjugados?

Dependendo dos sintomas predominantes associados (ansiedade ou depressão) podem usar-se ansiolíticos, indutores do sono (benzodiazepinas) ou antidepressivos (predominantemente os SSRIs).

7. Quais os principais critérios para a definição de um plano terapêutico para o tratamento da esquizofrenia?

Conhecendo nós que a adesão à terapêutica dos doentes com perturbações psicóticas (esquizofrenia, mania ou outras) é reduzida, muito abaixo dos 50%, o plano terapêutico mais indicado é o da utilização de Injetáveis de Libertação Prolongada (ILP), logo no seu primeiro episódio.

Isto porque a lesão ocasionada pelo primeiro episódio psicótico a nível cerebral é substancial (diminuição da substância cinzenta cortical). Os ASG e não os de PG protegem o doente desta lesão (neuroprotetores).

8. E o que pode condicionar a resposta terapêutica? É frequente haver necessidade de ajustar a medicação? Que fatores podem contribuir para esta necessidade?

O atraso no início da terapêutica é a principal causa da ineficácia do tratamento. Quanto mais tarde for instituída a terapêutica menor é a eficácia e também a adesão. O controlo da medicação (muito difícil ou impossível quando a via é a oral), o controlo dos sintomas (através de consulta frequentes), o apoio da família (programas educacionais).

9. Quais os cuidados a ter na sua utilização?

Os principais cuidados referem-se aos efeitos colaterais (extrapiramidais, mais frequentes, síndrome maligno dos neurolépticos, mais raro).

10. Quais as principais barreiras de acesso a este tipo de medicamento, e o que pode representar a cedência gratuita de medicamentos antipsicóticos simples em contexto de acompanhamento clínico, pelos estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde?

A - As principais barreiras à substituição dos APG pelos de SG 

1. Económica (doente de baixo rendimento)

2. Aparente estabilidade do doente (valorização apenas da melhoria dos sintomas positivos, desvalorizando os sintomas negativos e os aspetos da funcionalidade do doente)

3. Família (não aceitação de maior dinâmica e maior atividade do doente com algumas funcionalidades psíquicas aumentadas, nomeadamente a vontade, o desejo e o “drive”)

4. Médico (inércia, dificuldade de dialogar/empatizar com o doente)

5. Decisões das direções de gestão das instituições (má economia de custos)

B - Barreira ao uso de Injetáveis de Libertação Prolongada (ILP)

1 – Dos doentes

a) Têm um conhecimento limitado ou inadequado sobre ILD, em virtude de só 50% dos psiquiatras os informarem com pormenor. Porque quando os doentes são informados, iniciam a terapêutica mais cedo e aceitam-na ou são neutrais em 2/3 dos casos, rejeitando-a apenas em 1/3.

b) Medo da agulha e da injeção.

c) Medo de perda de controlo sobre a medicação.

d) Estigma da injeção como um ato coercivo.

e) Custos das deslocações e do medicamento.

2 – Do clínico

a) O clínico pode ser uma barreira, tanto por conhecimento insuficiente ou pouca experiência, como por excesso de confiança (acredita que o doente toma a medicação).

b) A pouca clareza das guidelines (não atualizadas) e a contradição de alguns estudos publicados contribuem para a ambivalência do médico que acaba por transmitir a sua insegurança ao doente.

3 – Dos gestores e responsáveis políticos - a barreira maior, porque desconhecem ou, pior, ignoram os estudos de farmacoeconomia existentes.

Evidentemente que se estes medicamentos forem distribuídos gratuitamente o item da barreira ao seu uso “económica (doente de baixo rendimento), predominante nesta patologia, desaparece. Contudo as outras barreiras têm de ser trabalhadas, sob pena de os doentes continuarem a não ter acesso a estes tratamentos.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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