Opinião

A importância do bem respirar em locais fechados

Atualizado: 
07/12/2021 - 10:44
Quando se fala em qualidade do ar pensamos imediatamente em poluição atmosférica, no exterior dos edifícios. Mas a verdade é que, aos dias de hoje, todos nós passamos a maior parte do nosso tempo em ambientes interiores, seja nas nossas casas, locais de trabalho ou zonas comerciais e de lazer, pelo que assegurar uma boa qualidade de ar nestes espaços é fulcral para a saúde e bem-estar de quem usufrui dos mesmos.

É extrema relevância referir que o ar que se respira no interior dos edifícios é muito diferente do ar exterior. É certo que os poluentes exteriores mais frequentes podem infiltrar-se nos edifícios, mas um dos maiores problemas relativamente à qualidade do ar interior é a emissão de poluentes no próprio interior dos edifícios e a sua acumulação numa ventilação que por vezes é deficiente e apresenta baixas renovações do ar, podendo afetar consideravelmente a saúde humana. Nos países industrializados, a maioria da população passa grande parte do tempo em locais fechados, cerca de 95% (60% no local de residência, 30% no local de trabalho e 5% no tráfego urbano). Sendo que a qualidade do ar nesses locais está dependente de fatores como a emissão de poluentes no interior dos edifícios; a infiltração de poluentes do ar exterior e a acumulação no interior dos edifícios.

Um dado a reter é que uma parte substancial do consumo total de energia em edifícios consiste em ventilação mecânica. No entanto, nos últimos anos esta tem vindo a ser reduzida ao mínimo, devido ao aumento dos preços da energia. Verificando-se, ainda, a introdução de novos materiais de construção que contribuem para o aumento do problema emitindo gases.

Todas estas razões levaram ao aparecimento do Síndroma do Edifício Doente que, também em Portugal, afeta cada vez mais indivíduos e que ocorre frequentemente em edifícios com sistema central de ventilação em que o tipo de sistema de humidificação resulta em fonte de contaminação por micróbios e fungos. Este termo tem vindo a ser usado há mais de 15 anos e, hoje em dia, descreve, mais precisamente, irritações das membranas mucosas, sintomas no sistema nervoso central, rigidez do tronco, alergias e afeções da pele. Muitas destas afeções são originadas por microrganismos em suspensão na atmosfera que se designam por bioaerossóis.

A acrescer a esta preocupação com os poluentes típicos do ar interior, anteriormente referidos, este é também um meio propício para a transmissão de vírus, entre os quais o coronavírus SARS-Cov-2, responsável pela COVID-19. Na verdade, a propagação deste vírus pode ocorrer a partir de pessoas infetadas e através de gotículas respiratórias, aerossóis (partículas aéreas de dimensão muito pequena) que podem viajar até dezenas de metros nos espaços fechados, o que levou à tomada de medidas de prevenção como o uso de máscaras respiratórias e observação de distâncias de segurança em espaços interiores.

Por todas estas razões, é de importância primordial, efetuar-se uma regular monitorização dos parâmetros que definem a boa qualidade do ar interior, ou seja, da concentração dos poluentes atmosféricos, por forma a definir condições adequadas de ventilação e renovação do ar interior e, assim garantir a existência de meios salubres para os seus ocupantes. Através da realização da recolha de amostras em contínuo dos vários poluentes existentes, poderá ser possível responder e resolver cada situação específica.


João Gomes - Consultor da Innovair (Eng. e Doutor Engª Química IST); Delegado nacional à Cost Action 17136 – Indoor Air Pollution Network; Prof. Coordenador com Agregação, ISEL.

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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