Opinião

A importância da investigação na área da oncologia

Atualizado: 
18/06/2019 - 10:43
O desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e de melhor aceitabilidade e tolerabilidade, quase todos orais e menos tóxicos, tem contribuído para que os doentes oncológicos possam viver mais e melhor. Mas a farmacoterapia não resolve tudo.

Mais uma vez está em curso o processo de candidaturas às Bolsas Celgene 2019. A Bolsa, no valor de 10.000 Euros, distingue o melhor projeto elaborado por entidades nacionais que seja uma iniciativa centrada nas pessoas com doença e que demonstre excelência na procura de soluções inovadoras, respondendo a necessidades dos doentes e dos seus cuidadores. Os projetos, como diz o regulamento, “devem preferencialmente ser concebidos com o envolvimento de doentes ou cuidadores de modo a demonstrar resultados mensuráveis e indicadores de sucesso que traduzam o seu impacto junto da sociedade e também das pessoas com doença”, sendo idealmente replicáveis em várias áreas das necessidades em saúde. No entanto, as Bolsas destinam-se a projetos nas áreas da Oncologia, especialmente a áreas relacionadas com tumores hematológicos, e doenças crónicas debilitantes do sistema nervoso.

Em qualquer destas áreas há muitas necessidades ainda não respondidas a que urge dar contributos. Temos tido uma sociedade civil pujante, muito em especial através de ONGs que se têm dedicado aos problemas do cancro e das doenças neurológicas debilitantes, além de intervenções da Academia e, como sempre, do setor social com especial destaque para as organizações religiosas. Em todas elas poderão surgir ideias que precisem de financiamento que aqui poderão encontrar.

A evolução biológica natural de cada pessoa, aquilo a que chamamos envelhecimento, é um processo complexo e multifacetado. Não é sincrónico e varia muito de indivíduo para indivíduo. No entanto, o passar do tempo torna-nos vulneráveis a noxas, por um lado, e suscetíveis ao processo físico e termodinamicamente inultrapassável da degenerescência, a entropia normal de cada organismo vivo, por outro. Ora, por causa desses processos, há uma crescente probabilidade de surgir uma doença celular grave que pode ser de natureza oncológica, perdidos os mecanismos de controlo da função e divisão das células, o que designamos de cancro, ou de natureza neurológica, o que inclui as demências e outros fenómenos de perda de função neuronal central ou periférica. Infelizmente, no caso das doenças crónicas degenerativas do sistema nervoso há também um largo conjunto de doenças que afetam pessoas mais novas, sejam elas hereditárias ou de cariz imunológico, que condicionam fortemente a qualidade de vida dos doentes e de quem os rodeia, em especial da família mais próxima, como os pais, irmãos, esposos, filhos e todos os que partilharem o dia a dia destas pessoas. E também há os impactos no trabalho e até nos colegas que têm de ser minorados, já que o interesses das pessoas doentes e de quem as trata é a manutenção de uma vida tão normal quanto possível. E hoje é muito mais possível do que há poucos anos.

O desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e de melhor aceitabilidade e tolerabilidade, quase todos orais e menos tóxicos, tem contribuído para que estes doentes possam viver mais e melhor. Mas a farmacoterapia não resolve tudo. Por isso, sendo certo que não é desejável esperar que outros venham resolver os nossos problemas, apelo a todos os interessados que se disponham a concorrer à Bolsa Celgene de 2019. Ainda vão a tempo, até ao fim de junho. Quem sabe, sendo vencedores, quanto não poderão fazer a mais com esta ajuda da Bolsa que está ao vosso dispor. Os doentes e os seus cuidadores certamente que vos agradecerão por terem concorrido.

Autor: 
Dr. Fernando Leal da Costa - hematologista do IPO de Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
ShutterStock