Síndrome de Olho Seco

O impacto da utilização da máscara na saúde ocular

Atualizado: 
03/12/2020 - 12:42
Durante os últimos meses, a utilização de máscara passou a fazer parte do quotidiano da maioria dos indivíduos, uma vez que esta é essencial para evitar a transmissão da Covid-19. Contudo, o uso deste equipamento de proteção individual tem estado na origem de alguns problemas de saúde, como, por exemplo, ao nível da saúde ocular.

Ao longo deste último ano, com o uso regular da máscara, as queixas de irritação ocular tornaram-se cada vez mais habituais. A maioria dos indivíduos descrevem sistematicamente uma sensação de aumento do fluxo de ar, que, através da máscara, segue em direção aos olhos, durante a respiração - isto é especialmente notório em pessoas que usam óculos e que têm constantemente as lentes embaciadas. Consequentemente, este aumento de fluxo de ar contribui para a evaporação contínua do filme lacrimal, secando a superfície ocular, o que se traduz num aumento da irritação e inflamação do olho.

Apesar de a irritação ocular associada ao uso da máscara ser muito frequente, esta torna-se mais intensa em pessoas com antecedentes de inflamação ocular e/ou de olho seco. Os sintomas, ou sinais mais frequentes, a que devemos estar alerta são a presença de olho vermelho persistente, comichão, ardência, sensação de picada ou de corpo estranho e eventualmente lacrimejo. De acordo com Salgado Borges, médico especialista em oftalmologia, “é crucial não esfregar os olhos, para proteger a córnea e evitando dessa forma o risco de infeção. No caso de sentir vontade imperiosa de mexer nos olhos ou mesmo de ajustar os óculos deverá usar um lenço de papel, em vez dos dedos, e higienizar as mãos frequentemente.”

Comum ao tratamento de todas as situações de irritação ocular, nomeadamente, o olho seco, é a administração de lágrimas artificiais. Porém, há que ter o cuidado de utilizar lágrimas artificiais sem conservantes, uma vez que os conservantes podem ter efeitos tóxicos e ser indutores de alergias, que, por si só, podem agravar a situação de irritação ou olho seco.

Por outro lado, os utilizadores de lentes de contacto devem ter cuidados acrescidos e, sempre que possível, utilizar óculos, uma vez que que mexem mais frequentemente nos olhos, aumentando a probabilidade de contágio.

A utilização de máscara em espaços públicos é não só obrigatória como essencial, pelo que o seu uso não poderá ser negligenciado em situação alguma. Há, no entanto, diversas ações que poderão ajudar no controlo da irritação ocular. Segundo  Salgado Borges, “sempre que possível, deve-se pestanejar e aplicar um colírio lubrificante (mais conhecido por lágrimas artificiais). Por seu turno, e ainda que não oferecendo uma segurança de 100%, os óculos de correção ou de sol protegem os olhos de gotículas respiratórias infetadas. Relativamente às máscaras, poderá ser benéfico utilizar aquelas que associam as características de uma proteção certificada a uma melhor ergonomia (ou seja, que se adaptem à fisionomia facial), nomeadamente, as que possuem uma prega metálica e moldável para melhor se adaptarem ao dorso do nariz e, desta forma, diminuir o fluxo de ar nessa zona.”

Numa altura em que o risco de infeção por SARS-CoV-2 impera, torna-se fundamental, por um lado não descurar o uso da máscara e, por outro, combater e evitar o risco de irritação ocular uma vez que nos leva ao ato continuado e desaconselhado de tocar na face o que pode levar à propagação deste vírus. 

O que é o olho seco? 

Considera-se “olho seco” quando existe um desajuste entre a quantidade/qualidade da secreção lacrimal (lágrima) e as necessidades da superfície ocular. O olho seco é cada vez mais frequente, estimando-se que, atualmente, cerca de 15% da população adulta sofra desta patologia.

Principais sintomas

Os sintomas mais comuns associados ao olho seco incluem: sensação de corpo estranho, ardor, irritação, prurido ligeiro, lacrimejo, fotofobia, visão enevoada, intolerância às lentes de contacto, pestanejo frequente e flutuação visual diurna.

É muito comum que estes sintomas se agravem ao final do dia.

Causas

O olho seco pode ter diversas causas, tais como:

  • Parte do processo natural de envelhecimento, especialmente durante a menopausa;
  • Efeito secundário de diversos medicamentos, como é o caso dos anti-histamínicos e antidepressivos;
  • Doenças locais ou sistémicas, como blefarite, rosácea, artrite reumatoide, lupus eritematoso sistémico, síndrome de Sjögren, paralisia facial e a cirurgia refrativa para o tratamento da miopia e hipermetropia;
  • Condições ambientais, como a exposição ao ar condicionado/outros sistemas de aquecimento;
  • Pestanejo insuficiente, provocado pela fixação ao ecrã de computador durante longos períodos;
  • Utilização prolongada de lentes de contacto.

Diagnóstico e Tratamento

Só é possível realizar o diagnóstico do olho seco através de exames clínicos. Mesmo nos casos em que alguns dos sintomas se apresentam com alguma gravidade, o diagnóstico deverá sempre ser confirmado pelo médico oftalmologista.

Na esmagadora maioria dos casos, o diagnóstico pode ser relativamente simples, por exemplo, através da observação do olho ou de um teste simples para medir a produção de lágrima.

Apesar de ser uma doença crónica, o olho seco pode ser facilmente controlado com sucesso, desde que sejam seguidas as indicações do médico oftalmologista, não só em relação aos medicamentos a tomar, mas também aos cuidados diários a ter para que a situação não se agrave.

Geralmente, o tratamento do olho seco passa pela utilização de lágrimas artificiais, que compensam as lágrimas naturais em falta, lubrificando e protegendo os olhos, e que devem ser utilizadas as vezes necessárias para evitar o aparecimento dos sintomas.

Principais grupos de risco

Além da prevenção e tratamento, é também importante alertar os grupos de risco para este problema.

Os mais afetados pelo olho seco são, maioritariamente, pessoas idosas, mulheres no período da menopausa, pessoas sujeitas a determinadas medicações (como por exemplo: pílula contracetiva, anti-histamínicos ou antidepressivos) ou que passam muito tempo em frente a ecrãs de computador. Por outro lado, os portadores de lentes de contato, pessoas sujeitas a ambientes poluídos, que viajam frequentemente de avião, ou que estão sujeitas a ambientes com ar condicionado são também muito afetadas por esta doença crónica.

A importância das lágrimas

A lágrima tem um importante papel no olho e na qualidade da visão. Assegura a nutrição e hidratação do olho e regulariza a superfície ocular, o que permite uma visão com melhor qualidade.

As lágrimas são produzidas pelas glândulas lacrimais, situadas junto à pálpebra superior, no seu canto externo, e espalhadas pela mucosa que recobre o olho. Estas são permanentemente produzidas para uma lubrificação do olho e, adicionalmente, em resposta a uma irritação ou emoção. 

A lágrima é constituída por três camadas:

  1. A camada lipídica, que está em contato com o ar, e cuja principal função é evitar que as lágrimas se evaporem;
  2. A camada aquosa, intermédia, que assegura a nutrição dos olhos e que os protege de corpos estranhos, potencialmente perigosos;
  3. A camada mucínica, que está em contato com a superfície ocular e que é responsável pela adesão da lágrima aos olhos, formando uma película protetora transparente.

A produção de lágrimas é igualmente afetada por fatores hormonais, daí a que o olho seco seja mais frequente nas mulheres após a menopausa. Outro fator importante é a idade, uma vez que, após os 60 anos, a produção de lágrimas é de apenas cerca de 25%, quando comparada com a de um jovem adulto.

Fonte: 
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Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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