Opinião

A imagem só é tudo, se nós a deixarmos ser tudo

Atualizado: 
12/04/2023 - 11:03
Numa semana de rescaldo em torno da polémica da Crónica “A imagem não é tudo”, a qual infelizmente, não deixa de representar o que muitas pessoas pensam e fazem no dia a dia. Entretanto, temos de considerar que todos os dias existem milhares de pessoas que fazem a mesma coisa através das redes sociais.

No “ideal de beleza”, no que diz respeito às mulheres, devemos ter um aspeto sempre jovem e não basta sermos só magras, mas também que, de acordo com o tal jornalista, é inaceitável termos flacidez, o que leva a que exista muita pressão para que os nossos corpos nunca sejam bons o suficiente.

E com as redes sociais, tudo isto tem vindo a piorar. Hoje vivemos numa cultura com estímulos visuais constantes, onde somos bombardeadas com imagens e vídeos que promovem padrões de beleza irrealistas. Vivemos uma epidemia de ansiedade em relação à nossa aparência. Isso refere-se ao fenómeno generalizado de pessoas, especialmente mulheres, que se sentem pressionadas a adequar-se a um determinado padrão de aparência física. Essa pressão pode levar a uma série de resultados negativos, incluindo insatisfação corporal, baixa auto-estima e distúrbios de alimentação.

No livro O Mito da Beleza, a escritora Naomi Wolf relata que “Os ideais de beleza não desceram do céu, eles realmente vieram de algum lugar e serviram a um propósito, muitas vezes financeiro, quanto mais fortes as mulheres se tornavam politicamente, mais pesados os ideais de beleza pesavam sobre elas, principalmente para distrair sua energia e minar seu progresso.” “Embora as mulheres representem 50% da população mundial, elas realizam quase ⅔ de todas as horas de trabalho, recebem apenas 1/10 da renda mundial e possuem menos de 1% das propriedades mundiais.” Ou seja, ter uma grande preocupação em relação à nossa aparência, distrai-nos do que é realmente importante no final das contas.

Tanto homens, como mulheres devem ter a liberdade de se concentrar na sua aparência física, se assim o desejarem, sem serem julgados ou discriminados com base no seu género. Mas ao fazer isso, temos de considerar quais consequências que isso trará para as nossas vidas.

Estamos a enfrentar alterações climáticas, a desigualdade social está a aumentar e nós mulheres continuamos a enfrentar barreiras sistemáticas que podem limitar o nosso poder e influência em várias áreas da vida, como no local de trabalho, na política e na sociedade em geral.

Tudo isso é muito bonito e inspirador no papel. Já pararam para pensar no verdadeiro custo em abrir mão dos padrões de beleza e deixarmo-nos ganhar uns “quilinhos” e parar de fazer botox?

Economicamente, ao abrir mão dos padrões de beleza, as pessoas podem enfrentar oportunidades limitadas em áreas como emprego. Estudos têm mostrado que pessoas consideradas atraentes têm maior probabilidade de serem contratadas para empregos e ganhar salários mais altos, enquanto aquelas consideradas “pouco atraentes” podem enfrentar discriminação no local de trabalho. E quando falamos de trabalhos de quem depende da sua imagem e, sobretudo, pessoas que trabalham na televisão, o custo de não seguir os padrões é muito alto, principalmente se forem mulheres.

A luta contra a pressão social exercida sobre as mulheres para se adequarem a um padrão irreal de beleza, vai ser árdua. Há muito incentivo financeiro para a indústria de beleza, assim como para os media que ganham dinheiro a fazer publicidade destes produtos e serviços. A insegurança das mulheres traz muito lucro.

O que nos resta fazer? Temos que perceber que a imagem só é tudo, se nós como sociedade deixarmos ser tudo. Foi positivo as várias pessoas que se manifestaram contra a crónica, pois é importante que os indivíduos, bem como a sociedade como um todo, continuem a lutar para promover uma imagem corporal positiva e desafiar padrões de beleza irrealistas.

Autor: 
Michelle Bond - Naturopata e proprietária da Clínica Michelle Bond
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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