Guardar células estaminais é um plano B?

Atualmente, as células do cordão umbilical já são usadas para tratar diversas doenças hematológicas e oncológicas, como leucemias, linfomas e anemias severas. Além disso, as células estaminais mesenquimais derivadas do cordão são amplamente estudadas para o surgimento de terapias promissoras em doenças como autismo, paralisia cerebral, Alzheimer, Parkinson, diabetes, enfarte do miocárdio, doença de Crohn e lesões da medula espinal, entre outras.
Um estudo publicado na Signal Transduction and Targeted Therapy descreve o quarto caso documentado de cura funcional da infeção por HIV, utilizando uma abordagem inovadora que combina células estaminais hematopoiéticas haploidenticas com sangue de cordão umbilical HLA-mismatched (não totalmente compatível). Este caso é notável por ser o primeiro numa mulher, de origem mista a utilizar um transplante de sangue do cordão com mutação CCR5Δ32/Δ32 (mutação que confere resistência ao HIV).
O tratamento foi realizado numa paciente com leucemia mieloide aguda, que recebeu um transplante combinado de células CD34+ de um dador haploidentico e sangue de cordão umbilical. Esse protocolo permitiu uma recuperação hematológica mais rápida e robusta, além de reduzir o risco de complicações infeciosas associadas à neutropenia prolongada. Após o transplante, a paciente permaneceu sem sinais de HIV detetáveis, mesmo após a interrupção da terapia antirretroviral, sugerindo uma possível erradicação funcional do vírus.
Este avanço destaca o potencial terapêutico das células estaminais do cordão umbilical, especialmente quando combinadas com estratégias como a mutação CCR5Δ32/Δ32, que confere resistência ao HIV. Além disso, reforça a importância da criopreservação do sangue do cordão umbilical como uma opção terapêutica valiosa para o futuro.
Estudos recentes apontam para o potencial das células do cordão em doenças como paralisia cerebral e Lúpus Eritematoso Sistémico. As investigações clínicas demonstraram assim que a infusão dessas células pode melhorar a função motora em crianças e modular a resposta imunitária em pacientes com lúpus, trazendo esperança para tratamentos mais seguros e eficazes.
Avanços na terapia com células do cordão umbilical também indicam benefícios na recuperação de doentes após AVC isquémico e o ensaios clínicos revelam melhorias significativas quer na função neurológica quer na autonomia dos pacientes, reforçando o valor da criopreservação.
Já perante as doenças inflamatórias crónicas, como a psoríase — que afeta até 3% da população — também podem se beneficiar da terapia com células estaminais do cordão umbilical uma vez que essas células podem modular o sistema imunológico, reduzindo a inflamação e melhorando sintomas, apontando para uma nova fronteira no tratamento dessas condições.
A verdade é que guardar o sangue e o tecido do cordão umbilical é muito mais do que uma simples precaução — é uma estratégia de prevenção ativa que pode transformar o futuro da saúde da criança e de sua família. Com os avanços nas terapias celulares e na medicina regenerativa, as células estaminais do cordão umbilical (proveniente do sangue e tecido) tornaram-se um recurso médico valioso, capaz de oferecer tratamentos inovadores para doenças graves e crónicas.
A colheita do sangue do cordão umbilical é um procedimento simples, seguro, indolor e não invasivo, realizado logo após o parto, sem riscos para a mãe ou para o bebé. As células mantêm a sua viabilidade e propriedades terapêuticas mesmo após décadas armazenadas em criopreservação, garantindo um acesso imediato a tratamentos eficazes, quando necessário.
Conservar as células do cordão umbilical acaba por se traduzir num investimento em segurança e saúde, que pode ser considerado como um “plano B” que cria esperança para o futuro.
Diante das evidências científicas e dos avanços clínicos constantes, guardar as células estaminais do cordão umbilical é um ato de cuidado e generosidade que pode salvar ou melhorar vidas e revolucionar tratamentos médicos.