O nascimento da medicina baseada em evidências
A experiência de James Lind que em 20 de maio de 1747 mudou a história da saúde
19/05/2025 - 10:37
Atualizado:
19/05/2025 - 10:37
Em maio de 1747, a bordo do navio HMS Salisbury, o médico escocês James Lind realizou uma experiência pioneira que viria a tornar-se um marco na história da medicina.

Ao investigar uma cura eficaz para o escorbuto, uma doença mortal entre marinheiros, Lind conduziu o que é hoje reconhecido como o primeiro ensaio clínico controlado da história da medicina ocidental. Essa intervenção simples, mas revolucionária, não apenas salvou vidas, como também introduziu um novo paradigma: a importância de testar tratamentos de forma sistemática e comparativa.
James Lind (1716–1794) formou-se em Medicina pela Universidade de Edimburgo e serviu como cirurgião na Marinha Real Britânica. Atento à elevada mortalidade causada pelo escorbuto, condição hoje conhecida por resultar da deficiência de vitamina C, Lind dedicou-se a investigar as possíveis causas e soluções para a doença, que então representava uma ameaça tão letal quanto as batalhas navais.
No dia 20 de maio de 1747, Lind selecionou 12 marinheiros com sintomas avançados de escorbuto e dividiu-os em seis pares, fornecendo a cada par diferentes tratamentos alimentares: cidra, ácido sulfúrico diluído, vinagre, água do mar, uma mistura de alho e mostarda, e frutas cítricas (limões e laranjas). Após apenas seis dias, os dois marinheiros que receberam frutas cítricas apresentaram uma recuperação evidente, enquanto os outros permaneceram doentes ou pioraram.
Lind registou cuidadosamente os procedimentos e os resultados, introduzindo conceitos fundamentais como grupos de comparação e uniformização das condições clínicas, práticas que se tornariam pilares dos ensaios clínicos modernos.
Ensaios clínicos são estudos científicos que testam a eficácia e segurança de tratamentos, medicamentos ou intervenções médicas em grupos humanos. São considerados o método mais robusto para determinar se uma intervenção funciona, superando suposições, coincidências ou perceções subjetivas.
A importância dos ensaios clínicos reside no seu papel em evitar erros sistemáticos (viés) e conclusões precipitadas. Para isso, utilizam-se princípios como a randomização (distribuição aleatória dos participantes entre os grupos), a comparação controlada (entre grupo experimental e grupo de controle) e evitar influências conscientes ou inconscientes nos resultados.
Os ensaios clínicos são, a espinha dorsal da medicina baseada em evidências, uma abordagem que prioriza a melhor evidência científica disponível para decisões clínicas.
Apesar de seus resultados promissores, a recomendação de Lind de usar frutas cítricas levou décadas a ser adotada oficialmente pela Marinha Britânica. Ainda assim, sua obra A Treatise of the Scurvy (1753) tornou-se uma referência obrigatória. O seu método marcou a transição da medicina empírica para a medicina científica, com implicações profundas que se mantêm até aos dias de hoje.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e as agências reguladoras internacionais exigem ensaios clínicos rigorosos antes da aprovação de qualquer novo tratamento. A experiência de James Lind, embora modesta, foi o primeiro passo dessa longa e fundamental evolução científica.
James Lind não apenas contribuiu para erradicar o escorbuto das embarcações britânicas, a sua experiência ensinou-nos que salvar vidas começa por questionar certezas e testar soluções, um princípio que continua a ser o alicerce da medicina moderna.
Autor:
Ana Paula Nunes
Nota:
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.