Alguns conselhos

Esquizofrenia: como pode a família ajudar o doente

Atualizado: 
11/08/2020 - 16:06
Caracterizada fundamentalmente por uma quebra do contacto com a realidade, a esquizofrenia é uma doença psiquiátrica crónica que surge no final da adolescência ou início da idade adulta e que tende a apresentar um enorme impacto no seio familiar. Compreender a doença e aceitá-la é essencial para ajudar o doente.

De acordo com Ana Peixinho, coordenadora da Unidade de Psiquiatria e Psicologia do Hospital Lusíadas Lisboa, nenhuma família está preparada para aceitar uma doença como a Esquizofrenia. “O aparecimento desta doença numa fase da vida em que todas as expectativas estão centradas num jovem saudável e frequentemente com sucesso escolar abala profundamente a dinâmica familiar”, refere acrescentando que “frequentemente, as famílias necessitam de suporte profissional para aprender a lidar com esta realidade”. É aconselhado, deste modo, que procurem suporte psicológico para compreender a doença, “quer a nível individual quer a nível de grupo”. Só depois de compreender e aceitar a patologia poderão ajudar o seu familiar, afirma a especialista.

O que é então a esquizofrenia e quais as principais manifestações da doença?

“A esquizofrenia é um transtorno mental grave que interfere na forma como a pessoa pensa, sente e se comporta socialmente”, começa por explicar o psiquiatra Jorge Miranda.

Segundo Ana Peixinho, esta doença “caracteriza-se fundamentalmente por uma quebra do contacto com a realidade, que se expressa habitualmente por ideias delirantes persecutórias (o doente acha que está a ser perseguido) e alucinações auditivo-verbais, em que o doente ouve vozes que comentam a sua vida ou lhe dão ordens”. O doente acredita que o que está a vivenciar corresponde à realidade e é incapaz de, tal como explica a coordenadora da Unidade de Psiquiatria e Psicologia do Hospital Lusíadas Lisboa, ceder à argumentação lógica.

Entre os principais sintomas, refere Jorge Miranda, estão:

  • Sensação constante de estar a ser vigiado;
  • Ver ou ouvir coisas que não existem;
  • Sentir profunda indiferença perante situações importantes;
  • Queda profunda no desempenho (estudos, trabalho...)
  • Alterações nítidas na higiene pessoal e na aparência;
  • Isolamento social;
  • Respostas irracionais, como medo ou raiva da família e amigos;
  • Dificuldade de dormir e de se concentrar;
  • Interesse exagerado por ocultismos ou religião;
  • Comportamentos que parecem estranhos e inapropriados em situações sociais.

No entanto, o médico admite que em caso de pessoas muito jovens, sobretudo nos adolescentes, “torna-se difícil perceber o que é uma atitude comum para a idade e o que é sintoma de esquizofrenia”. Em todo o caso, aconselha a que os pais estejam atentos a sinais como “problemas para dormir, irritabilidade, oscilações de humor, diminuição de desempenho na escola, afastamento de colegas e familiares e falta de motivação”.

Ana Peixinho chama ainda à atenção que em fase iniciais, “o doente fica de tal forma assustado com o que lhe está a acontecer, que se isola e modifica o seu comportamento habitual, podendo inclusivamente, e para se defender, tomar atitudes mais bizarras e agressivas”. Um aspeto que contribui ainda mais para a estigmatização da doença.

Como é tratada a esquizofrenia?

“A esquizofrenia trata-se com fármacos antipsicóticos. Atualmente, existem fármacos eficazes e com menos efeitos adversos que os anteriores, os chamados antipsicóticos atípicos que controlam os sintomas da doença”, explica a psiquiatra Ana Peixinho. Para o sucesso do tratamento, como em qualquer outra doença crónica, deve ser mantido o acompanhamento médico regular bem como a medicação prescrita.

Contudo, um dos principais problemas no tratamento da esquizofrenia é a fraca adesão terapêutica por parte dos doentes que, frequentemente, não cumprem devidamente ou interrompem a medicação prescrita. “Esta situação deve-se não só ao aparecimento de efeitos secundários indesejáveis (que devem sempre ser discutidos com o médico com o objetivo de escolher a melhor opção terapêutica  (eficaz e com poucos efeitos adversos); bem como à falta de crítica para a situação patológica, ou seja o doente acha que não está doente e por isso não há necessidade de tomar medicamentos”, esclarece a especialista.

A este nível, o psiquiatra Jorge Miranda, defende ainda que a terapia familiar pode ser uma ajuda preciosa para manutenção do tratamento destes doentes.

Como ajudar um doente esquizofrénico?

Segundo Jorge Miranda, depois de entender a doença, tente ser paciente e saiba respeitar o doente com esquizofrenia. “Para estes doentes as alucinações parecem realmente ser parte da realidade.  Por isso, converse calmamente com ele para explicar que você vê as coisas de uma forma diferente”.

A seguir é essencial que seja capaz de prestar atenção a possíveis gatilhos. “Existem muitas coisas que podem provocar o aparecimento ou agravar os sintomas. Se você perceber, por exemplo, que o consumo excessivo de álcool, drogas e outros vícios pode desencadear os sintomas, fique atento e ajude o doente a evitar esses hábitos”, refere o médico.

Por outro lado, ajude-o a tomar os medicamentos. “Muitas pessoas com esquizofrenia perguntam sobre a necessidade dos remédios que tomam. Incentive seu amigo ou familiar a utilizá-los da maneira correta”, acrescenta Jorge Miranda.

Segundo o especialista, é essencial ainda que procure apoio psicológico. “Nestes casos, a terapia pode ajudar a criar ferramentas e caminhos para lidar com as situações que afetam diretamente a sua vida”, conclui.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pixabay