O que precisa saber

Escoliose: quando se gera uma perceção negativa do corpo

Atualizado: 
05/07/2023 - 06:36
A escoliose é uma deformidade do plano frontal da coluna ou, por outras palavras, a coluna apresenta desvios para a esquerda ou direita, que constituem curvas.

Esta condição afeta entre 2 a 3% da população e apenas a 1% destas pessoas se irá aplicar um tratamento. Embora a escoliose possa ser detetada logo na infância, a maioria dos diagnósticos ocorre no período da adolescência, sendo que em cerca de 70 a 80% dos casos a causa é desconhecida, designando-se, assim, por escoliose idiopática.

As raparigas representam cerca de 80% dos diagnósticos de escoliose e, como dito anteriormente, é muitas vezes na adolescência que o diagnóstico chega. Nesta altura, podem detetar-se assimetrias francas da altura dos ombros, assimetrias das pregas, uma bossa torácica, do lado direito ou do lado esquerdo e, em alguns casos, a nível lombar.

Naturalmente, esta condição tem consequências ao nível da saúde mental, já que o corpo se começa a distanciar dos padrões ideais de beleza que são amplamente veiculados nos media e a perceção negativa da autoimagem automaticamente se reflete na quebra da autoestima.

O medo e a vergonha caracterizam estes jovens que, muitas vezes, tendem a encobrir alguns sinais que já possam ter detetado. Esta situação não só gera um atraso no diagnóstico que pode ditar a evolução para uma situação mais complicada como, por outro lado, pode provocar o isolamento social destes jovens, que não querem ser notados pelos seus pares.

Por isto, é tão importante falarmos de escoliose e sensibilizarmos pais, encarregados de educação e educares para estarem atentos às suas crianças e adolescentes. Para quem é afetado pela escoliose, a deteção precoce e um acompanhamento cuidadoso são cruciais.

Quanto ao tratamento, podemos assumir que existem três níveis de intervenção. Num primeiro nível, a escoliose apenas exige um seguimento para que se perceba como progride durante a adolescência. Num segundo nível, no caso dos adolescentes, se já existem curvas com indicação terapêutica, muitas vezes vão precisar de tratamento com um colete. E no terceiro e último nível, quando se trata de curvas muito importantes ou que apresentem uma perspetiva de evolução inexorável, é necessário recorrer a cirurgia. No que toca à cirurgia, hoje em dia temos vários tipos de técnicas, vários tipos de materiais, que nos permitem obter os melhores resultados possíveis.

A campanha “Josephine explica a Escoliose” visa, ano após ano, aumentar o grau de sensibilização e conhecimento sobre esta doença. É necessário desfazer mitos. É necessário que pais e encarregados de educação estejam mais atentos e pratiquem a observação, de forma mais ou menos discreta, para detetar possíveis assimetrias que devem ser, posteriormente, avaliadas pelo médico de família, que deve, por sua vez, referenciar para um ortopedista, caso tenha dúvidas relativamente à existência de escoliose.

É importante também sublinhar que o verão é uma altura propícia para detetar sinais de escoliose e que, mesmo na praia ou piscina, é fácil fazer um pequeno teste, que servirá de base para o diagnóstico desta condição. O teste de Adams consiste em pedir à criança ou adolescente que incline o tronco para a frente com os pés juntos, sem dobrar os joelhos e que una as mãos. A curva da escoliose será mais evidente quando o corpo se curva para a frente.

Assim, qualquer assimetria na caixa torácica ou outras deformidades ao longo das costas pode indiciar que se trata de escoliose.

 

Autor: 
Dr. João Lameiras Campagnolo - Médico Ortopedista no Hospital Dona Estefânica e Coordenador da Campanha “Josephine explica a Escoliose”
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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