Sintomas e tratamento

Doença de Graves: fique a conhecer uma doença autoimune da tiroide

Atualizado: 
09/04/2020 - 16:40
Mais prevalente entre as mulheres, sobretudo entre os 20 e os 40 anos, a Doença de Graves é considerada uma das doenças autoimunes mais frequentes, sendo a principal causa do hipertiroidismo. Os olhos proeminentes são uma das características mais marcantes da patologia.

Como em todas as doenças autoimunes, a Doença de Graves surge por defeito do sistema imunitário que, ao atacar a tiroide, leva à sua hiperatividade. A produção de hormonas tiroideias - T3 e T4 - em excesso resulta numa disfunção conhecida por hipertiroidismo.

De acordo com Maria João Oliveira, endocrinologista e Membro do Conselho Científico da ADTI - Associação das Doenças da Tiróide, o hipertiroidismo aparece geralmente de uma forma súbita com uma clínica exuberante” que inclui alterações do humor, irritabilidade, agitação, perda inexplicada de peso apesar de aumento do apetite, tremor, suores, intolerância ao calor, palpitações, diarreia, irregularidades menstruais, aumento do volume cervical (bócio). “No caso da Doença de Graves podem aparecer alterações oculares, como edema das pálpebras (olhos inchados) e proeminência dos globos oculares, a oftalmopatia de Graves, e também edema dos membros inferiores – conhecida como dermopatia de Graves”, explica a especialista.

O seu diagnóstico é realizado com base nos sintomas manifestados pelo paciente e confirmado com recurso à medicina laboratorial, onde se destaca a presença de anticorpos contra a tiroide. “Quando há uma suspeita clínica de hipertiroidismo pode ser realizada uma análise ao sangue onde é doseada a TSH – a hormona da hipófise que estimula a tiróide e que no hipertiroidismo está diminuída - e a T3 e T4 – hormonas da tiróide que no hipertiroidismo circulam em excesso no sangue. Pode existir excesso de uma só ou de ambas. Posteriormente poderão ser necessários outros exames: determinação de anticorpos tiroideus e contra o receptor da TSH (TRABs) – estes são os específicos da doença de Graves e confirmam a doença, cintigrafia da tiróide ou ecografia para avaliar a morfologia da glândula”, esclarece Maria João Oliveira.

Por outro lado, há que ter em atenção aos chamados fatores de risco como a história familiar da doença ou de tiroidite autoimune, ser fumador, ou “aparecimento de acontecimento que cause uma emoção forte como morte de um ente querido ou perda de emprego”, esclarece a especialista. Sabe-se ainda, por exemplo, os portadores de outras doenças autoimunes como diabetes tipo I ou artrite reumatoide, têm maior probabilidade de desenvolver a doença.

Contudo, e embora o seu diagnóstico seja fácil, Maria João Oliveira realça que, em alguns casos, este processo pode não ser tão rápido quanto o desejado. “Quando predominam alguns sintomas como as alterações de humor e a ansiedade, pode ser confundido com uma patologia psiquiátrica e, quando a perda de peso é marcada, pode ser confundido com uma doença neoplásica. Na população mais idosa os sintomas podem ser mais frustes e o diagnóstico pode ser atrasado, o que coloca em risco a vida destes doentes mais frágeis”, explica a endocrinologista.

Entre as principais complicações associadas a esta doença autoimune está a insuficiência cardíaca “com falência deste órgão por esforço excessivo do sistema cardiovascular”. “No entanto, um hipertiroidismo prolongado não tratado pode levar a uma exaustão de todo o organismo e a um estado de debilidade do doente”, revela a especialista.

Por outro lado, em caso de oftalmopatia severa, pode ocorrer a deformação permanente dos globos oculares com compromisso sério da visão.

Com o objetivo de travar a produção descontrolada de hormonas da tiroide, o tratamento da Doença de Graves pode variar entre medicação, terapia de Iodo radioativo ou cirurgia.

“Em Portugal há dois fármacos que atuam diminuindo a produção de hormonas pela tiroide: o propiltiouracilo e o tiamazol”, começa por explicar a endocrinologista adiantando que, no entanto, atualmente “prefere-se o uso do tiamazol (Metibasol)”, por ser menos tóxico para o fígado.  Segundo Maria João Oliveira, alguns doentes conseguem uma remissão do hipertiroidismo com o uso prolongado destes fármacos (cerca de 12-18 meses), embora noutros apenas se consiga um controlo provisório. No entanto adverte: “podem ter alguns efeitos laterais, como reações cutâneas, alterações hepáticas, redução dos glóbulos brancos, e o seu uso deve ser vigiado e controlado por um médico endocrinologista”.  Quando a remissão não é permanente tem de se partir para o chamado tratamento definitivo: Iodo radioativo ou cirurgia.

O Iodo radioativo “é administrado por via oral (geralmente em cápsulas ou sob a forma líquida) e ao entrar nas células da tiroide destrói algumas, provocando uma fibrose. O seu efeito terapêutico raramente acontece nos primeiros dois meses, manifestando-se depois, de um modo geral, até 6 meses após a sua administração”.

Ocasionalmente o hipertiroidismo mantém-se e é necessária uma 2ª dose. Como consequência resulta num hipotiroidismo (glândula menos ativa) e “é preciso ficar a tomar hormona tiroideia de substituição”, revela a médica especialista.

Nos casos em que a hormona da tiroide está muito aumentada ou quando há contraindicação para o tratamento do Iodo radioativo – como é o caso de mulheres grávidas ou a amamentar -, a hipótese de tratamento é a cirurgia. Nestas situações pode optar-se para remoção total ou parcial da tiroide, resultando num hipotiroidismo “sendo depois necessário tomar hormona tiroideia para o resto da vida”.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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