Doença rara e genética

Diabetes MODY: o que precisa saber

Atualizado: 
19/01/2021 - 16:12
Trata-se de um tipo de diabetes rara, de causa genética, que pelas suas características nem sempre é fácil de diagnosticar. A diabetes tipo MODY constitui cerca de 1 a 2% de todos os diagnósticos de diabetes na Europa e atinge, sobretudo, jovens com menos de 25 anos.

O termo MODY (Maturity Onset Diabetes of the Young) surgiu nos anos 60 do século XX para descrever um tipo de diabetes diferente dos que eram conhecidos até à data. Com origem em mutações em 14 genes, este tipo de diabetes conta com apresentações clínicas bastante heterogéneas, pelo que não é raro encontrar-se subdiagnosticada ou mal diagnosticada.

Segundo um artigo de revisão dos especialistas Marta Ilharco e José Silva Nunes, estima-se que este tipo de diabetes apresenta uma taxa de subdiagnóstico que ronda os 80%. Isto porque, descrevem os especialistas, “os doentes podem apresentar ou não sintomatologia clássica da diabetes”: hiperglicemia, como poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso.

O grande desafio é, deste modo, conseguir distinguir os doentes com esta patologia dos doentes com diabetes tipo 1 ou tipo 2, “uma vez que as características clínicas podem ser semelhantes e existe frequentemente uma sobreposição fenotípica”.

Segundo os especialistas, tanto a diabetes tipo 2 como o MODY “têm um forte componente hereditário, com história de diabetes afetando múltiplas gerações sucessivas, o que pode dificultar o diagnóstico diferencial”. Contudo, ao contrário dos doentes com diabetes tipo 2, tipicamente, o doentes MODY “não apresentam excesso ponderal, hipertensão arterial ou dislipidemia e não têm outras características típicas dos estados de insulinorresistência”. Por outro lado, embora a obesidade raramente seja descrita neste tipo de diabetes, o facto de esta atingir cada vez mais adolescentes e adultos jovens “implica que possa ser reportada em doentes com MODY”, adiantam.

No que diz respeito à associação com a diabetes tipo 1, dizem os especialistas que “apesar do carácter hereditário da diabetes ser mais comum no MODY do que na diabetes tipo 1, alguns jovens com MODY acabam por ser rotulados como tendo diabetes tipo 1.” Contudo, os doentes com MODY não apresentam “níveis elevados de anticorpos contra antigénios pancreáticos e têm evidência de produção endógena de insulina (péptido C mensurável, necessidade de baixas doses de insulina para obtenção de normoglicemia e ausência de cetoacidose se a insulinoterapia for omitida)”. Por outro lado, ao contrário da diabetes tipo 1, que requer sempre tratamento com insulina,” os doentes com MODY podem ser tratados apenas com antidiabéticos orais”.

Assim, é importante a realização de análise genética para que seja possível determinar o seu diagnóstico e consequentemente o seu tratamento.

Embora existam 14 subtipos de diabetes MODY – um para cada gene envolvido na secreção de insulina que sofreu mutação -, os mais frequentes são o MODY 3, MODY 2 e o MODY 1.

Tipo MODY 3 (mutação no gene HNF1α)

É o tipo de diabetes monogénica mais frequentemente diagnosticada no adulto, sendo a causa mais comum de MODY na Europa, América do Norte e Ásia. De acordo com Marta Ilharco e José Silva Nunes, “na maioria dos casos, a diabetes tipo MODY 3 manifesta-se na adolescência ou em adultos jovens. A idade média de diagnóstico nas pessoas afetadas é de 14 anos, sendo raramente identificado em crianças com menos de 10 anos. Estes doentes nascem euglicémicos, tendem a ser magros e a ter uma normal sensibilidade à ação da insulina. A diabetes desenvolve-se como resultado da disfunção progressiva da célula β pancreática e consequente falha de produção de insulina”.

Estes doentes podem apresentar ainda características extra-pancreáticas.  

Tipo MODY 2 (mutação no gene da glucocinase, GCK)

Esta é a segunda forma mais comum de MODY. Geralmente, os doentes são assintomáticos, apresentando uma hiperglicemia ligeira e estável desde o nascimento, necessitando raramente de intervenção terapêutica e apresentam um baixo risco de complicações.

Tipo MODY 1 (mutação no gene HNF4α)

Não é tão comum como as outras formas do tipo MODY. Geralmente, afeta pessoas que nasceram com um peso aproximado de 4 kg e que, geralmente, tiveram níveis baixos de glicemia na altura do nascimento, ou níveis que necessitaram de tratamento. Podem começar a fazer terapêutica oral (comprimidos), mas evoluir para a necessidade de insulinoterapia.

Tratamento

O tratamento tem como objetivo normalizar os níveis de glicémia de modo a evitar as complicações associadas à diabetes. Neste caso, o tratamento depende do subtipo de MODY em questão.

Segundo a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal, a diabetes MODY 3 e MODY 1 podem ser tratadas com recurso a terapêutica oral em fases iniciais, podendo, no entanto, necessitar de insulinoterapia consoante a sua evolução.

Já a diabetes MODY 2, uma vez que apresenta uma hiperglicemia ligeira, apenas está sujeita a vigilância clínica.

Referências:
https://apdp.pt/material-educacional/diabetes-mody/
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302002000200012
http://repositorio.chlc.min-saude.pt/bitstream/10400.17/3153/1/Rev%20Port%20Diabetes%202018_13_49.pdf

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
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