O que dizem os estudos

Deficiência de vitamina D ligada a Esclerose Múltipla

Atualizado: 
05/08/2021 - 16:20
Entre muitos fatores ambientais, a exposição ao sol como fonte de vitamina D, desempenha um papel vital. Há uma constatação consistente em muitos estudos epidemiológicos que o risco e Esclerose Múltipla (EM) é maior em áreas com baixos níveis de exposição ao sol e portanto, baixo nível de vitamina D, sugerindo que a vitamina D e um factor de risco modificável para a EM. Isso reforça a ideia dos efeitos protetores conseguidos para a EM através da suplementação com vitamina D3.

"A vitamina D pode afetar drasticamente o sistema imunológico e tornar as pessoas mais suscetíveis a doenças como a esclerose múltipla” descobriram os cientistas.

Mais de 25.000 funções celulares dependem dos níveis adequados de vitamina D, incluindo a função que esta vitamina desempenha na modulação do sistema imunológico. Quando os níveis de vitamina D são suficientes, as nossas células funcionam corretamente. Mas quando os nossos níveis são baixos, muitas destas funções não se realizam.

Em 2009, um estudo apresentado no congresso anual da Academia Americana de Neurologia, demonstrou que altas doses de vitamina D reduzem drasticamente a taxa de recaída em pessoas com esclerose múltipla.

Segundo Pierrot-Deseilligny C e Souberbielle JC, artigo publicado em 2017, “Vitamin D and multiple sclerosis: An update” as interações da hipovitaminose D com outros factores de riscos genéticos e ambientais, como o alelo HKA DRB1 *15, a infeção pelo vírus Epstein Barr, obesidade, tabagismo, hormonas sexuais, podem existir na Esclerose múltipla. A insuficiência e suficiência de vitamina D podem ser um fator de risco e de proteção, respetivamente, entre muitos outros fatores possíveis que modulam continuamente o risco global de EM.

Os principais mecanismos de ação da vitamina D na EM parecem ser imunomoduladores envolvendo categorias de linfócitos T e B no sistema imune geral, mas os mecanismos neuroprotetores e neurotroficos também poderiam ser exercidos a nível do sistema nervoso central. Além disso, vários estudos imunológicos controlados e realizados em pacientes com EM confirmam que a suplementação com vitamina D tem múltiplos efeitos imunomoduladores benéficos. 

A Vitamina D parece desempenhar um papel importante do Sistema Nervoso Central e a hipótese defendida por muitos investigadores é que esta vitamina esteja envolvida na remielinização. A compreensão dos mecanismos básicos da vitamina D na mielinização é necessária para o acompanhamento dos doentes com EM.

O corpo produz vitamina D em resposta à luz solar e os cientistas investigaram como isso afeta um mecanismo do sistema imunológico - a capacidade das células dendríticas de ativar as células T. Os pacientes que receberam altas doses de vitamina D no decorrer do estudo tiveram uma taxa de recaída mais baixa e a atividade das células T reduziu significativamente comparando como grupo suplementado com doses mais baixas. 

Os linfócitos T desempenham um papel crucial no combate a infeções e na eficácia do sistema imunitário. No entanto, na doença autoimune os linfócitos perdem a capacidade de distinguir o que atacar e combatem células do próprio corpo. No caso da EM o alvo é a mielina do sistema nervoso.

O estudo de populações de linfócitos em EM revelou a acumulação de linfócitos B, indicando o papel fundamental das células B, anticorpos e o seu complemento no processo de desmielinização. 

Estudando células de ratos e humanos, descobriu-se que a vitamina D produz células dendríticas que ajudam a produzir mais de uma molécula chamada CD31 em sua superfície, e isso impede a ativação das células T.

Observou-se que o CD31 impediu que os dois tipos de células fizessem um contacto estável - uma parte essencial da ativação do ataque autoimune, portanto a reação imunológica resultante foi muito reduzida.

Até há pouco tempo não havia evidência científica que permitisse afirmar que os baixos níveis de vitamina D pudessem espoletar doenças autoimunes. No entanto, após a publicação de um estudo em 25 de agosto de 2015 no PLOS Medicine, começou a surgir alguma correlação entre défices de vitamina D e a causa da EM. Este estudo, Esclerosis Múltiple Genetics Consortium, envolveu 14.498 pessoas com esclerose múltipla e 24.091 pessoas controlo sãs, permitiu criar alguma associação entre níveis de vitamina D reduzidos por variações genéticas e a susceptibilidade de esclerose múltipla entre os participantes do estudo.  

Os resultados mostram que se um bebé nasce com a variação genética associada ao receptor da vitamina D tem o dobro das possibilidades dos outros em desenvolver EM, caso não suplemente eficazmente.

O professor Richard Mellanby, do Centro para Pesquisa de Inflamação da Universidade de Edimburgo, disse: "O baixo nível de vitamina D tem sido implicado como um fator de risco significativo para o desenvolvimento de várias doenças autoimunes. O nosso estudo revela uma das vias em que os metabólitos da vitamina D influenciam drasticamente o sistema imunológico."

No entanto, no fim de 2010, apesar da deficiência generalizada de vitamina D, a OMS (Organização Mundial de Saúde) decidiu manter a mesma recomendação relativamente às doses a suplementar em crianças de 1 ano, adolescentes, mulheres grávidas e adultos com mais de 70 anos (600Ui/ dia). 

Contrariamente, Michael Holick, o principal investigador mundial da vitamina D, afirma que “Todos os adolescentes e adultos podem tolerar facilmente 10.000 UI de vitamina D ao dia sem risco de toxicidade.

Se pensarmos que com a exposição solar por um período apenas de 20 minutos é possível produzir as 10 000UI, é fácil perceber que esta suplementação por dia é segura. Para obtermos vitamina D3 é necessário apanhar sol, cerca de 20 minutos diários (pele clara) ou 30 minutos (pele morena) sem proteção e em alturas do dia em que a nossa sombra seja menor que a nossa altura (normalmente entre as 11h e as 17h). Esta exposição permite a síntese de cerca de 10 000 UI desta vitamina. 

Para Dr. Cícero G. Coimbra, os níveis atuais recomendados pelas organizações de saúde de todo o mundo não são suficientes para que a maioria das pessoas possam sair dos níveis deficitários.

Diz que: “ para pessoas que sofrem de doenças autoimunes, 10 000UI proporcionará um alívio parcial, mas não eliminará o problema. Nestes casos é necessário usar doses mais altas, mas sempre sob vigilância médica.” 

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Dra. Alexandra Vasconcelos
Farmacêutica, Naturopata e Fitoterapeuta
Especialista em Medicina Natural Integrativa, Biorressonância e Medicina Bioreguladora
Pós graduada em Nutrição Oncológica, Nutrição Ortomolecular e Medicina Integrativa e Humanista 

Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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