6% de todos os casos de cancro

De que estamos a falar quando falamos de “cancro da cabeça e pescoço “?

Atualizado: 
27/07/2020 - 13:54
Trata-se de uma área anatómica com alguma especificidade, que envolve a cavidade oral e orofaringe, a laringe, além de outras zonas como a pele da face, pescoço e couro cabeludo e ainda as glândulas salivares e a tiroideia.

Os cancros da cabeça e pescoço com maior incidência são os da cavidade oral e orofaringe (750 000 casos novos por ano em todo o mundo, dos quais 650 000 na língua, gengiva e pavimento da boca e 100 000 na orofaringe) e os da laringe (cerca de 200 000 casos novos por ano) em todo o mundo.

No seu conjunto estes cancros representam cerca de 6% de todos os casos de cancro e cerca de 1 a 2% das mortes devidas ao cancro.

Em Portugal há cerca de 2500 casos novos de cancro da cabeça e pescoço por ano, 70% na cavidade oral e orofaringe e 30% na laringe. Afeta sobretudo a população masculina (5 homens/ 1 mulher) e em especial os fumadores e grandes consumidores de álcool. Mais recentemente foi definida uma relação entre a infeção por papiloma vírus humano (HPV), genótipos 16 e 18, com o cancro da orofaringe.

O diagnóstico e tratamento precoces são fundamentais pois nos casos iniciais a taxa de cura ronda os 80%, enquanto que nos estádios avançados a taxa de sobrevivência global aos 5 anos é inferior a 40%.

Neste diagnóstico clínico têm papel fundamental os médicos dentistas e estomatologistas, além de outros especialistas relacionados com esta área anatómica como cirurgiões-maxilo-faciais e ORL.

Os sinais e sintomas mais frequentes são:

  • ferida ou úlcera da língua ou gengiva que não cicatriza,
  • manchas da língua brancas ou avermelhadas,
  • um nódulo persistente no pescoço,
  • rouquidão,
  • dificuldade em engolir, etc.

As modalidades de tratamento utilizadas para o tratamento destas lesões são a cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia, de forma isolada ou combinada.

A cirurgia continua a ser a principal modalidade de tratamento. O objetivo é remover a lesão tumoral na totalidade, com uma margem de segurança, e ainda os gânglios linfáticos regionais que estão ou possam estar invadidos por células tumorais. A cirurgia pode ser, pois, mutilante quer anatomicamente, quer funcionalmente. Nos centros nos quais se pratica são, em regra, utilizadas técnicas de reconstrução no mesmo tempo operatório para diminuir essa mutilação.

Por ser um tratamento multidisciplinar os doentes devem preferencialmente ser tratados em centros oncológicos de referência, como os IPO, ou com experiência efetiva nesta área. A decisão terapêutica é tomada numa consulta de grupo onde estão presentes um cirurgião, um oncologista médico, um radiologista, um radio-oncologista e ainda por vezes um anatomopatologista.

Os doentes são mantidos em vigilância clínica por um período prolongado de tempo para se poderem detetar atempadamente eventuais recidivas da doença.

Autor: 
Professor Dr. Daniel de Sousa - cirurgião maxilo-facial no Hospital Lusíadas Lisboa
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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