Da acne ao bruxismo: como o stress pode afetar o seu corpo
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o stress é definido como um estado de desequilíbrio físico e/ou mental, resultante de uma resposta natural do nosso organismo. Os seus sintomas podem dividir-se em grupos: sintomas cognitivos, sintomas físicos, sintomas emocionais e alterações comportamentais.
Entre os sintomas físicos mais frequentes destacam-se:
Lesões cutâneas e acne
A pele é um dos órgãos mais afetados pelo stresse ou não fosse esta o reflexo do sistema nervoso. Segundo a dermatologista Vera Monteiro Torres, isto ocorre uma vez que “aquando da gestação embrionária, o sistema nervoso e a estrutura da pele são formados em simultâneo, criando uma ligação que se mantém ao longo da vida.”
De acordo com a especialista, é frequente, durante ou após situações de stresse surgir aquilo a que se chama neurodermatite, que não é mais do que resultado de coçar compulsivamente uma determinada região do corpo. Esta pode ser caracterizada por lesões do tipo eczema, ou seja, placas vermelhas e ásperas, algumas vezes, com pequenas bolhas.
O stresse pode ainda desencadear urticária e ser associado ao agravamento de crises de dermatite atópica ou seborreica, psoríase ou vitiligo.
Por outro lado, para além de vários estudos já terem associado o desenvolvimento da acne a níveis mais elevados de stresse, outros vêm mostrar que a acne piora com o stresse (1e 2).
Cefaleias
Vários estudos já vieram demonstrar que o stresse é um dos principais gatilhos para o desenvolvimento de dores de cabeça. Não só tem o poder de agravar esta condição como pode contribuir para o desenvolvimento de cefaleias crónicas. (3)
Segundo a MiGRA Portugal – Associação Portuguesa de Doentes com Enxaqueca e Cefaleias, a maioria dos doentes sente um agravamento das suas crises após episódios de stressantes.
Dor Crónica
A dor crónica é uma queixa comum que pode resultar do aumento dos níveis de e
stresse. Segundo alguns estudos, o aumento dos níveis de cortisol (a hormona associada ao stress) parece esta associado ao desenvolvimento ou agravamento da dor crónica.
Nos pacientes com fibromialgia, observa-se, por exemplo, um excesso constante de adrenalina, que faz com que o corpo esteja num estado constante de alerta, mesmo durante o sono (4)
Um estudo português (5), por exemplo, conseguiu demonstrar que 71.7% dos pacientes com dor crónica sofrem de perturbações de ansiedade e 39.6% de perturbações do humor, e que quando comparados com a população normal, apresentam níveis de ansiedade e de depressão bastante superiores, não tendo sido encontradas diferenças estatisticamente significativas entre géneros para ambas as dimensões. Verificou-se também que 77.4% da amostra é vulnerável ao stress.
Fadiga crónica e insónia
Fadiga crónica e diminuição dos níveis de energia também podem ser causados por stresse prolongado. O stresse é uma das principais causas de alteração do padrão do sono levando tanto à insónia aguda como a crónica.
Um estudo com 2.483 pessoas (6) descobriu que a fadiga estava fortemente associada ao aumento dos níveis de stresse. Outro pequeno estudo descobriu que níveis mais elevados de estresse relacionado ao trabalho estavam associados a aumento da sonolência e inquietação na hora de dormir. A insónia é uma condição potencialmente grave e que rouba do seu corpo o descanso que ele necessita para se refazer física, mental e emocionalmente.
Bruxismo
As tensões diárias também afetam a saúde oral, sabia? Quando submetidas a um excesso de stresse as pessoas podem começar a ranger ou apertar involuntariamente os dentes. Esta condição é conhecida por bruxismo. Embora as suas causas não estejam completamente esclarecidas, sabe-se que a ansiedade e ou stress estão associadas a este distúrbio involuntário, estimando-se que estes estejam na origem de 70% dos casos de bruxismo.
Problemas digestivos e alterações do apetite
O stresse pode afetar especialmente aqueles que já sofrem distúrbios digestivos, como síndrome do intestino irritável ou doença inflamatória intestinal. No entanto, mesmo que seja saudável saiba que o stresse pode estar na origem de problemas como úlceras ou gastrite. Tudo por conta do cortisol, que produz alterações fisiológicas que atingem o sistema digestivo. São frequentes náuseas, vómitos, diarreia ou obstipação.
Relativamente ao apetite, não é novidade para ninguém que quando estamos stressados temos tendência para comermos demais ou não comermos de todo. Vários estudos associam o stress prolongando a um aumento de peso, por exemplo (7).
Referências:
- https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17340019/
- https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12873885/
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3611807/pdf/10194_2000_Article_1S049.10194.pdf
- http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/arquivos/3180
- https://ria.ua.pt/handle/10773/13270
- https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16161710/
- https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0271531705002836
- https://www.nutergia.pt/pt/nutergia-conselheiro/dossiers-bem-estar/efeitos-stress-alimentacao.php