Entrevista | Dra. Isabel Magalhães, presidente da Pulmonale

Cancro do Pulmão: diagnóstico precoce continua a ser o método mais promissor na redução de mortalidade

Atualizado: 
24/10/2023 - 15:09
O cancro do Pulmão é o cancro que mais mata em Portugal e na Europa. Com um diagnóstico que chega quase sempre tarde demais, as taxas de sobrevivência são baixas, sendo o seu prognóstico muito reservado. A existência de um rastreio poderia mudar este cenário. Com base em robusta evidência científica, a Comissão Europeia atualizou, em 2022, as suas recomendações de rastreios de base populacional, passando a recomendar o Rastreio ao Cancro do Pulmão a todos os cidadãos com 50-75 anos, fumadores ou ex-fumadores com uma elevada carga tabágica. Para ajudar a sensibilizar para importância de rastrear a doença, a Pulmonale - Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão vai lançar uma campanha de sensibilização apelando a #AgirAntesdeSentir.

Os últimos dados divulgados, mostram que em 2020 foram diagnosticados perto de 5500 novos casos de cancro do pulmão, em Portugal, e que as mortes pela doença ficaram perto deste número: mais de 4700. Ainda que se repitam, todos os anos, iniciativas que pretendem sensibilizar para a temática, esta continua a ser uma das neoplasias que mais mata no nosso país. Na sua opinião, o que falha, o que tem de mudar para que seja possível alterar este panorama?

Em primeiro lugar há que apostar na prevenção primária, nomeadamente na sensibilização para o tabagismo, sendo que mais de 80 % dos diagnósticos ocorrem em fumadores.

Deverá ainda disponibilizar-se e incentivar-se o acesso à cessação tabágica para os fumadores.

Há ainda uma outra questão primordial e que consiste na implementação do rastreio de base populacional, a exemplo do que já ocorre com outras patologias oncológicas.

Aliás, em 2022, a Comissão Europeia inclui o rastreio do cancro do pulmão nas orientações sobre rastreios a disponibilizar pelos estados membros

Por que motivo este é um dos tipos de cancro que mais mata? Se existisse um programa de rastreio implementado em Portugal, as perspetivas destes doentes poderiam ser diferentes?

O cancro do pulmão continua a ser a doença oncológica com maior mortalidade associada em grande medida decorrente de a maioria dos diagnósticos ocorrer em estádio avançado da doença, prejudicando o seu prognóstico

O diagnóstico precoce faz a diferença sendo que importa não desvalorizar eventuais sintomas.

No entanto, os sintomas são numa fase inicial, muitas vezes leves, inexistentes e /ou transversais a outras doenças.

Desse modo a implementação de um rastreio do cancro do pulmão de base populacional assume particular relevância para permitir, junto da população identificada como maior risco, possibilitar o diagnóstico em estádios iniciais possibilitar reduzir a taxa de mortalidade desta patologia.

Em que consiste este rastreio e a quem o poderia fazer?

O rastreio do cancro do pulmão consiste numa TAC de baixa dose, a realizar à população de maior risco.

De acordo com o maior estudo Europeu realizado, Estudo Nelson, o rastreio deve ser efetuado em fumadores e ex-fumadores até há 15 anos, com uma carga tabágica elevada (30 UMA) numa faixa da população entre os 50-75 anos

Os métodos de diagnóstico do cancro do pulmão consistem na mesma técnica? Como é diagnosticada esta neoplasia?

Para rastreio do cancro do pulmão o método utilizado é a TAC de baixa dose.

No caso de existir um achado no rastreio sugestivo de cancro do pulmão será necessário efetuar exames adicionais de acordo com a indicação da equipa médica.

Sabendo que o cancro do pulmão pode apresentar sintomas apenas numa fase mais avançada da doença, a que sinais devemos estar atentos? Tendo em conta as manifestações clínicas, com que outras patologias se pode assemelhar?

Numa fase inicial, os sintomas mais frequentes são: tosse persistente, expetoração com sangue, dor no peito, falta de ar, infeções respiratórias recorrentes, rouquidão, perda de peso, cansaço.

Alguns destes sintomas são inespecíficos e outros muitas vezes correspondem a um agravar de sintomas preexistentes, nomeadamente em fumadores.

Como se trata esta doença oncológica e quais os principais desafios nesta área?

O tratamento do cancro do pulmão tem sofrido avanços muito consideráveis ao longo dos últimos anos, existindo novas abordagens da doença e ate uma mudança de paradigma quando se fala em imunoterapia.

Cada vez mais cada caso é abordado de uma forma personalizada, sabendo-se que não há dois cancros iguais.

A inovação tem - se traduzido em mais e melhor qualidade de vida para estes doentes.

Não obstante, o doente com cancro do pulmão continua a apresentar um perfil muito marcado pela existência de um estigma do cancro do pulmão e pelo facto de a população em geral associar o diagnóstico de cancro do pulmão a um prognóstico muito reservado.

Qual o prognóstico desta doença?

Quando comparada com outras neoplasias, nomeadamente: cancro da mamã ou cancro colorretal, o cancro do pulmão apresenta uma taxa de sobrevivência baixa, de ordem dos 15% aos cinco anos após o diagnóstico.

Porém há uma variação relevante da taxa de sobrevivência consoante os estádios da doença aquando do diagnóstico, sendo muito superior em fases inicias da doença.

Daí a importância do diagnóstico precoce, numa patologia em que o tempo pode fazer a diferença.

No âmbito da campanha #AgirAntesdeSentir que mensagem gostaria de partilhar?

A nossa campanha deste ano visa a sensibilização de todos para a importância de se implementar o rastreio do cancro do pulmão.

Gostaria muito que houvesse uma convergência de esforços para que se concretize, acreditando que, implementado de forma adequada, contribuirá para alterar o panorama atual do cancro do pulmão.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
Foto: 
Pulmonale - Associação Portuguesa contra o Cancro do Pulmão