Opinião

A atividade física na doença mental

Atualizado: 
06/04/2023 - 11:07
O efeito positivo da prática de exercício físico na promoção da saúde mental há muito que se tornou consensual e amplamente provado pela literatura. No plano de ação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para os anos de 2013-2020, a Diretora-Geral, Dra. Margaret Chan, afirmou que “a boa saúde mental permite que as pessoas tirem o máximo proveito do seu potencial, saibam lidar com o stresse normal da vida, trabalhem produtivamente e contribuam para suas comunidades”. Como podemos inferir, ter saúde mental implica muito mais do que a não identificação de doenças mentais. Por isso mesmo, trata-se de dois conceitos que devem ser analisados de acordo com as suas particularidades.

“O desporto envolve o esforço físico e o desenvolvimento das capacidades, apresenta competitividade e cultiva a consciência competitiva” (Wang et al., 2023, p. 2). Ou seja, as nossas emoções afetam, diretamente, o nosso estado físico e mental, tal como a disposição para fazer exercício físico. Em termos práticos, uma noite mal dormida ou um dia em que nos sintamos mais tristes, isso vai afetar o nosso rendimento no exercício físico.

“Pessoas que vivem com esquizofrenia, transtorno bipolar e desordens afetivas são menos ativas fisicamente do que a população em geral e passam mais tempo de forma sedentária” (Walker et al., 2023, p. 1). A explicação sobressai da experiência e do convívio com estas pessoas que, tantas vezes, exprimem sentimentos depressivos, problemas familiares e financeiros, dificuldades em dormir... perante tal cenário, a predisposição para o exercício físico é francamente pequena, ou nula. A par dos problemas que enfrentam dentro de portas, a OMS ainda acrescentou que “as pessoas com problemas de saúde mental graves representam uma população marginalizada que enfrentam a exclusão, o estigma e o acesso limitado a muitos aspetos da vida” (2022). Não é difícil perceber que a consequência é o afastamento da prática de exercício físico e a escolha por uma vida sedentária. O desafio é, então, perceber e desenvolver formas de incentivar as pessoas diagnosticadas com doença mental a praticar exercício físico. Seria muito mais simples se existisse uma fórmula matemática que nos ajudasse a aproximar de todas as pessoas. Chegamos à conclusão de que, mesmo sendo diagnosticada a mesma doença, elas são diferentes e devemos conhecê-las a fundo.

Estes anos de trabalho na RECOVERY IPSS mostraram-me que a aula de atividade física vai mais além da procura do corpo perfeito. As aulas devem sempre ser adaptadas consoante o estado emocional dos alunos e os gostos de cada um. Muitas vezes, uma simples caminhada tem mais benefícios do que uma aula de força pois os alunos sentem-se mais motivados e acabam por participar de uma maneira mais leve. Um jogo de futebol, jogos didáticos, dança tradicional podem, perfeitamente, substituir as aulas de aeróbica, aulas de cardio e, até mesmo, treino intensivo. O resultado final acaba sempre por ser cumprido, apenas temos que mudar a estratégia da aula. A partir do momento em que os profissionais de desporto conseguem olhar para a população de uma maneira mais empática, conseguem chegar e ajudar a todos de forma a manter sempre os excelentes resultados.

O desporto deve chegar a todos independentemente das suas limitações. Só assim conseguiremos diminuir os níveis de sedentarismo em que nos encontramos e lutar com a exclusão social.

 

Autor: 
Tânia Gomes - Terapeuta Ocupacional / Técnica de Exercício Físico
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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