Doença inflamatória crónica

Artrite Reumatoide: depressão é uma condição frequente e impacta o curso da doença

Atualizado: 
28/04/2023 - 11:55
Se já sofreu uma entorse, sabe o que é sentir dor e ter dificuldade em mobilizar uma determinada articulação do corpo. Agora, imagine um dia acordar e sentir essa mesma dor e essa mesma dificuldade de mobilização, em várias articulações, por um período prolongado de tempo. É assim que, António Vilar, reumatologista e membro da ANDAR – Associação Nacional Doentes com Artrite Reumatoide, descreve a doença na tentativa de demonstrar o impacto - físico e mental - que esta pode ter na vida de uma pessoa.

De acordo com o especialista, “as doenças reumáticas reúnem mais de 135 doenças que afetam o nosso aparelho locomotor”, estimando-se que estas apresentem uma prevalência de 20% em Portugal, sendo o primeiro motivo de consulta acima dos 50 anos nos cuidados de saúde primários.

Com um pico de incidência nas mulheres é após a menopausa, a Artrite Reumatoide é uma das doenças reumáticas mais prevalentes no nosso país, estimando-se que afete 0,8 a 1,5% (1) da população.

Mais frequente entre o sexo feminino – a sua ocorrência global é duas a quatro vezes maior em mulheres do que em homens -, esta pode, no entanto, afetar qualquer pessoa, em qualquer idade.

Segundo António Vilar, trata-se de “uma doença com inflamação das articulações, mas com envolvimento de outros órgãos ou sistemas, que se manifesta habitualmente com dor, inchaço e impotência funcional importante para as atividades da vida diária, e para o trabalho”.

“Envolvimento simétrico das articulações rigidez matinal prolongada, dores noturnas com fadiga, anemia e marcadores da inflamação elevados”, são apontados pelo especialista como os principais sintomas desta doença.

No que diz respeito à causa, António Vilar explica que, embora se desconheça o que está na sua origem, existem alguns fatores de risco reconhecidos, como é o caso do “tabagismo, que duplica o risco nas mulheres fumadoras, algumas infeções (dentárias, vírus,), sexo feminino até aos 65 anos, eventuais causas ambientais (poeiras? químicos?), acontecimentos adversos de vida”. Por outro lado, adianta que a gravidez tende a ser um fator protetor em cerca de metade dos casos diagnosticados.

O seu tratamento passa pela prescrição de “fármacos modificadores da doença como o Metotrexato ou a Leflunomida”. Nas formas refratárias, ou seja, que não respondem a estes medicamentos, o reumatologista revela que “desde há 22 anos que dispomos de medicamentos imunomoduladores que atuam bloqueando algumas das “moléculas da inflamação” trazendo nova esperança para que quase 90% dos doentes fiquem sem sintomas.”

O curso clínico é tipicamente caracterizado por períodos de agravamento e remissões, sendo que a doença pode ser ligeira (20%) ou grave e progressiva e com má resposta à terapêutica.

Deste modo, segundo António Vilar, o diagnóstico precoce é determinante para o bom prognóstico da doença, uma vez que é de extrema importância que o tratamento adequado seja instituído o mais cedo possível.

“O exercício tem vantagens na recuperação das atrofias musculares de desuso e se for em piscinas aquecidas ou nas Termas na melhoria da dor”, revela ainda, incentivando à prática de atividade física adaptada.

Entre as principais complicações, destacam-se “a destruição articular com a incapacidade que geram, o risco cardiovascular aumentado, responsável em parte pela diminuição da esperança de vida e nas formas mais graves aumento de risco de algumas doenças malignas como os linfomas”.

Tratando-se então de uma doença crónica com um grande impacto na vida social e profissional - algumas pessoas com AR têm uma mobilidade restringida e dificuldades com atividades da vida diária -, a sua gestão pode ser difícil impactando grandemente a saúde mental do doente. “Sabemos que a depressão coexiste no decorrer da doença, como reação secundária ao aparecimento da artrite, mas aumenta a evidencia que nalguns casos acontecimentos adversos de vida possam atuar, em doentes suscetíveis, quer no desencadear da doença quer no aparecimento de surtos. Todos estes casos podem beneficiar de apoio psicológico e/ou psiquiátrico”, revela António Vilar.

Por tudo isto, o especialista aconselha: “Se tiverem dores com inchaço articular que persista por mais de alguns dias consultem o seu médico, se persistir por mais de 3 semanas procurem o reumatologista, que é o especialista desta doença. A artrite reumatoide não se trata com analgésicos nem com anti-inflamatórios! Procurem apoio médico social junto da ANDAR associação nacional de doentes com artrite reumatoide e informação credível na página da SPR sociedade portuguesa de reumatologia”.

Referência: 

(1) https://spreumatologia.pt/artrite-reumatoide/

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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