A importância do diagnóstico precoce

Artrite Reumatoide: “aprender a viver com a doença, apesar da doença”

Atualizado: 
05/04/2021 - 11:43
Estimando-se que afete cerca de 70 mil portugueses, a Artrite Reumatoide é uma das doenças reumáticas com maior prevalência no país. No âmbito do dia Nacional do Doente com Artrite Reumatoide, Ana Filipa Mourão, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, explica o essencial sobre uma patologia que, apesar de não ter cura, quando eficazmente tratada, tem bom prognóstico vital e funcional.

Segundo a especialista em reumatologia, “a artrite reumatoide é uma doença reumática crónica inflamatória em que, por uma razão desconhecida, o organismo deixa de reconhecer a articulação, ou os órgãos afetados, como seus e reage contra eles (reação autoimune)”. Sabe-se, no entanto, que alguns fatores genéticos e ambientais como “o tabaco ou infeções, alterações hormonais, stress”, podem condicionar seu o desenvolvimento.

Atingindo, sobretudo, as mãos, punhos, cotovelos e pés, os principais sintomas da doença são a dor, o inchaço das articulações, a diminuição da mobilidade das articulações e a rigidez matinal. “O doente sente-se muito “preso” ao realizar movimentos nas primeiras horas após acordar ou após longos períodos de repouso”, explica a vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia. Fadiga, cansaço, febre e perda de peso são outros dos sintomas frequentes. Contudo, e embora tenha “como manifestação principal o envolvimento das articulações”, esta patologia “pode afetar outros órgãos, como o coração, o pulmão, a pele, o olho, o sistema nervoso periférico, e ter outras manifestações clínicas”, esclarece Ana Filipa Mourão.

Entre as principais complicações, a especialista destaca “as deformidades articulares com compromisso funcional das articulações envolvidas”, que muitas vezes exige a colocação de próteses – “principalmente nas ancas e joelhos”.

“O doente também pode referir adormecimento e perda de força nas mãos (síndrome do túnel cárpico), rotura dos tendões das mãos, osteoporose (que pode ser agravada se o doente estiver medicado durante muito tempo com corticosteroides), atrofia muscular, e, dependendo das manifestações da doença, podem existir complicações no pulmão, nos olhos, e na pele”, acrescenta a reumatologista. Por outro lado, sublinha, a utilização de determinados fármacos pode comprometer o sistema imunitário do doente que fica mais suscetível ao desenvolvimento de infeções.

“A depressão é o distúrbio psiquiátrico mais associado à artrite reumatoide, muitas vezes associado ao isolamento e escasso suporte social”, acrescenta.

Com um elevado impacto económico e social, a Sociedade Portuguesa de Reumatologia tem vindo a alertar para a necessidade de “reforçar o número de unidades hospitalares com serviço de Reumatologia e de quadros técnicos e recursos humanos especializados”. A título de exemplo, Ana Filipa Mourão indica que só o diagnóstico precoce da artrite reumatoide representaria uma poupança média anual “por cada novo caso” de 30% ao Estado. Segundo a especialista, cerca de 51,8% da população não tem acesso a consultas da especialidade ficando, muitas vezes, por tratar.

“No seu todo, as patologias reumáticas e músculo-esqueléticas representam um problema de âmbito mundial que requer a intervenção urgente e concertada das instituições que devem zelar pela saúde pública, numa ótica global e nacional”, alerta a reumatologista.

Atualmente existem cada vez mais fármacos que são muito eficazes no tratamento da artrite reumatoide

De acordo com Ana Filipa Mourão, o tratamento da artrite reumatoide “inclui os analgésicos e os anti-inflamatórios para o controlo da dor (estes não alteram a progressão da doença), os corticosteroides, que  podem ser utilizados em combinação com outros fármacos ou nas infiltrações articulares, e os  fármacos modificadores da doença (os DMARDs), nomeadamente os DMARDs convencionais, como o metotrexato, a leflunomida, a sulfassalazina e a hidroxicloroquina, e outros fármacos mais sofisticados (os chamados fármacos biológicos)”.

“Na última década tem havido uma melhoria significativa no tratamento desta doença com a utilização mais eficaz dos medicamentos existentes e o aparecimento de cada vez mais novos fármacos no mercado”, esclarece sem deixar de reforçar a importância do seu estabelecimento precoce: “o tratamento correto e numa fase precoce da doença é crucial, potenciando a probabilidade de o doente com artrite reumatoide ter uma vida praticamente normal, ficando a doença num estado de remissão, ou seja, sem atividade clínica que leve a dano ou incapacidades futuras. Independentemente da gravidade da doença, os resultados obtidos são tanto melhores quanto mais precocemente e criteriosamente o tratamento seja iniciado”.

Assim, e uma vez que esta doença pode atingir qualquer pessoa em qualquer idade, a especialista recomenda que “uma pessoa que tenha dor mantida nas articulações deve procurar um profissional de saúde, nomeadamente o seu médico de família, para o encaminhar para uma consulta de Reumatologia”. “O doente com artrite reumatoide pode ter uma vida praticamente normal”, justifica.

Entre outros conselhos, a especialista considera essencial a adoção de um estilo de vida saudável. “Os doentes fumadores devem deixar de fumar (há estudos que apontam para o tabaco como potenciador de doença ou de agravamento de doença estabelecida, sendo esta mais uma razão para promover a evicção tabágica em todas as idades); em doentes com excesso de peso, é aconselhada a perda ponderal para prevenir o desgaste articular e outras doenças, como hipertensão e diabetes, e os doentes devem ter uma dieta equilibrada, do tipo mediterrânica, com quantidade suficiente de frutos e vegetais (antioxidantes) e sem excesso calórico, nem de gorduras e com uma quantidade moderada de proteínas”, explica.

Por outro lado, e uma vez que a doença pode causar perda muscular por atrofia e, consequentemente, dificuldades motoras, “é sempre recomendada a prática de exercício físico, devidamente orientada pela equipa médica, com exercícios isotónicos e isométricos para fortalecimento muscular e manutenção da função articular, e exercícios aeróbicos para otimização do sistema cardiorrespiratório”.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não substituem o parecer/opinião do seu Médico, Enfermeiro, Farmacêutico e/ou Nutricionista.
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