Professor Manuel Abecasis

Apesar de muito grave, “50% dos casos de Leucemia Mieloide Aguda são curáveis”

Atualizado: 
17/05/2021 - 15:15
A Leucemia Mieloide Aguda é um tipo de cancro do sangue raro com origem na medula óssea e que, habitualmente, apresenta uma progressão rápida. Embora o seu prognóstico dependa da variante particular da doença, estima-se que em metade dos casos seja possível atingir a cura.

Segundo Manuel Abecasis, Presidente da Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL), “a Leucemia Mieloide Aguda (LMA) é uma variante das leucemias agudas que se distingue por se originar na linhagem mieloide, isto é não envolve os linfócitos. Trata-se de uma doença heterogénea, com muitas variantes que o recurso à biologia molecular permite identificar”.

A doença acontece a partir de uma mutação em um ou mais genes responsáveis pela formação das células sanguíneas. Neste caso, esta atinge a células mieloides, que têm como função formar os glóbulos vermelhos (hemácias), as plaquetas e grande parte dos glóbulos brancos (leucócitos, células do sistema imunitário). A forma como se manifesta depende, deste modo, do tipo de célula sanguínea afetada. No entanto, os sinais são inespecíficos e confundirem-se com os de outras patologias. “A apresentação clínica é inespecífica, o doente com LMA pode apresentar-se com, por exemplo cansaço fácil, hemorragias, febre – em geral é uma doença que evolui rapidamente, em poucas semanas”, esclarece Manuel Abecassis.

“Na maioria dos casos não se conhecem as causas, embora haja fatores de risco associados a tratamentos prévios com quimioterapia ou exposição a radiação e ainda em pessoas que foram vítimas de acidentes nucleares, como o que aconteceu em Chernobyl ou nos sobreviventes das explosões atómicas no Japão no final da II Guerra Mundial”, adianta quantos as causas associadas à doença.

Mais frequente acima dos 60 anos – “a mediana de idade no diagnóstico anda pelos 67 anos” -, a LMA pode atingir doentes mais jovens.

“A hipótese diagnóstica é baseada em análises de sangue (ex.: hemograma), e confirmado por um estudo da medula óssea”, esclarece.

No entanto, os testes genéticos têm-se demonstrado importantes uma vez que identificam o subtipo específico de LMA, permitindo indicar a melhor opção de tratamento. Hoje sabe-se que pessoas com determinadas mutações apresentam respostas diferentes aos tratamentos, apresentando quadros com gravidade e prognóstico distintos.

“À exceção da variante promielocítica aguda, o tratamento é feito com quimioterapia, com o objetivo de alcançar uma remissão completa. Hoje em dia, graças aos conhecimentos adquiridos com o estudo do genoma humano e as novas técnicas de análise molecular é possível, para algumas variantes, utilizar terapêuticas dirigidas que intervêm nas vias de sinalização da doença e permitem obter resultados mais favoráveis”, afirma o presidente da APCL, sublinhando que, quanto ao prognóstico, “este depende da variante” em causa.  Na leucemia promielocítica aguda, exemplifica, “é possível obter cerca de 80% de cura só com o tratamento inicial, seguido de manutenção”.  No entanto, reforça: “a idade do doente e as alterações moleculares encontradas assim como a resposta ao tratamento são as principais condicionantes do prognóstico”.

Em todo o caso, e apesar de esta se tratar de uma “doença muito grave”, Manuel Abecasis revela que “com recurso aos tratamentos adequados, não só a quimioterapia como todos os meios de suporte necessários (antibióticos, transfusões, etc.) e em alguns casos, com a transplantação de medula óssea é possível ser mais otimista, sabendo que cerca de 50% dos casos são curáveis”.

Durante e após o tratamento, o presidente da APCL, sublinha que “é importante seguir cuidadosamente todas as indicações que a equipa de profissionais de saúde, médicos e enfermeiros, dão ao doente”.

Autor: 
Sofia Esteves dos Santos
Nota: 
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