O Lúpus é uma doença inflamatória autoimune, que pode afetar múltiplos órgãos e tecidos, como pele, articulações, rins e cérebro. Quando não tratada, pode pôr em risco a vida doente.
Embora seja mais raro na infância, estima-se que 1 em cada 200 000 crianças desenvolva a doença antes dos 16 anos. Segundo a reumatologista Susana Rilhas Fernandes, o Lúpus surge em média aos 12 anos. Mais raramente, esta patologia pode surgir durante o primeiro ano de vida.
"Aproximadamente 80% dos doentes são do género feminino", esclarece a especialista.
As causas exatas do lúpus permanecem desconhecidas. Sabe-se que existem genes de predisposição genética mas o desenvolvimento da doença depende da combinação de vários factores genéticos e ambientais. "A presença de um familiar com doença reumática aumenta o risco de desenvolver a doença mas não há uma transmissão de pais para filho", acrescenta a reumatologista
No geral, as manifestações podem ser semelhantes na idade juvenil e adulta. No entanto, Susana Rilhas Fernandes adverte que "o Lúpus Juvenil tende a ser mais ativo e severo no momento do diagnóstico e pode afetar de modo significativo órgãos major como o rim, sistema nervoso central e sistema cardiovascular". De acordo com esta médica, "a forma juvenil também tende a ter mais alterações nas análises como anemia ou diminuição de leucócitos/plaquetas (envolvimento hematológico) e maior prevalência de anticorpos específicos da doença (envolvimento imunológico)".
Entre as principais manifestações, a especialista destaca:
Os critérios de classificação utilizados são os SLICC (Sistemic Lupus International Collaborating Clinics) elaborados em 2012 e deve ter em conta as manifestações clínicas e laboratoriais características da doneça. "Devem estar presentes 4 critérios (pelo menos 1 clínico e 1 laboratorial)", explica a médica.
Segundo Susana Rilhas Fernandes, os cuidados a ter com uma criança ou adolescente com Lúpus envolvem "uma abordagem multidisciplinar que idealmente envolve o reumatologista, pediatra, nefrologista (nos casos de lúpus renal), psicologia e medicina física e reabilitação".
O tratamento farmacológico depende do tipo de envolvimento. "Em doentes com envolvimento cutâneo e articular, a base do tratamento são os anti-inflamatórios, hidroxicloroquina e metorexato", adiante.
"Os casos de envolvimentos renal, neurológico e cardio-vascular habitualmente necessitam de tratamento com corticoesteroides orais ou endovenosos e agentes imunossupressores como azatioprina, micofenolato de mofetil, ciclofosfamida ou rituximab", explica acrescentando que "o Lúpus é uma doença crónica que tem tratamento mas não tem cura".
A sua evolução é caracterizada por remissões (fases em que a doença está estável ou “adormecida”) e agudizações.
O doente com Lúpus está, enquanto adolescente, num período de transição típico ao qual acresce a mudança por ter uma doença reumática. O doente experimenta frequentemente mudança de escola, aquisição de novos amigos e colegas, alterações na aparência física. Existem pressões psicológicas novas associadas a este período, incluindo o tabagismo, álcool, drogas, namoro ou relação sexual, que terão de ser geridas com as pressões do diagnóstico de uma doença nova que será crónica.
Para além disso, manifestações da doença como rash malar, perda de cabelo, dor articular que impossibilitam por exemplo a escrita, tornam a adaptação à escola e as relações com os colegas e familiares mais difíceis.
Os efeitos adversos das medicações como os corticoesteroides em alta dose podem originar ganho ponderal, face arredondada, estrias ou acne, alterações da aparência física difíceis de gerir numa adolescente. Por isto, os adolescentes com Lúpus têm de bem orientados por equipas médicas e de enfermagem para que sejam cumpridores com a medicação e que sejam regulares nas consultas e aulas, para a boa evolução médica e escolar.
Ligações
[1] https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/lupus-eritematoso-sistemico-pensei-que-doenca-me-ia-roubar-adolescencia
[2] https://www.atlasdasaude.pt/publico/content/lupus-infantil-no-primeiro-ano-foram-raras-vezes-que-sai-de-casa-no-verao
[3] https://www.atlasdasaude.pt/artigos/lupus-eritematoso-sistemico-doentes-devem-manter-vigilancia-mesmo-em-remissao
[4] https://www.atlasdasaude.pt/foto/pixabay
[5] https://www.atlasdasaude.pt/taxo-categories/sistema-musculoesqueletico
[6] https://www.atlasdasaude.pt/taxo-categories/sistema-nervoso
[7] https://www.atlasdasaude.pt/taxo-categories/sistema-pele
[8] https://www.atlasdasaude.pt/taxo-categories/sistema-urinario
[9] https://www.atlasdasaude.pt/autores/sofia-esteves-dos-santos